Falta de interlocução com representantes de cerca de 100 milhões de fiéis pode ser entrave para projetos do Governo Federal
Artigo – Victório Dell Pyrro
Frente Parlamentar Evangélica no Congresso Nacional, na próxima legislatura que se iniciará em 30 dias, terá mais de 130 deputados e 14 senadores. Este denso grupo de Parlamentares costuma ser unido e trabalhar seus votos em comum acordo seguindo diretrizes habitualmente definidas à luz da profissão de fé e de interesses das bases religiosas às quais pertencem seus integrantes.
Os direcionamentos nas votações e apoiamento a projetos de Lei e até mesmo de Medidas Provisórias estão sempre cercados de avaliações das propostas à luz dos interesses dos eleitores desse seguimento.
Hoje, as estimativas mostram que cerca de 100 milhões de brasileiros professam o Evangelho Cristão como sua fé.
Dentro do Congresso Nacional, as lideranças das várias denominações evangélicas estão reunidas sob o comando do Deputado Sostenes Cavalcante. O líder do seguimento no Parlamento pondera atualmente sobre o tamanho do distanciamento do atual Governo, além da óbvia pauta de costumes, já que a maioria esmagadora é de ideologia de direita, o que deve gerar grande dor de cabeça ao Executivo Federal sob a batuta da esquerda.
Uma possível aproximação dos evangélicos com o governo Lula tem sido proposta por interlocutores interessados na pacificação e desenvolvimento da economia, mas muito mal recebida, inclusive pelo Deputado Sostenes Cavalcante e sem a devida atenção do ExecutivoFederal.
Principal interlocutor da Frente Parlamentar, Sostenes Cavalcante não vislumbra com bons olhos qualquer conversa com o Governo, e prevê forte oposição a Lula. Suas recentes declarações são no sentido de que as igrejas evangélicas mantenham suas posições de forte oposição ao Presidente Lula e ao PT.
Ao que tudo indica, a falta de habilidade inicial do governo Lula em relação às pautas desse seguimento cristão pode gerar uma verdadeira “Guerra Santa” que, segundo observadores, pode se alastrar entre os católicos mais ortodoxos no Congresso Nacional, gerando travas irreversíveis para o Governo no Legislativo.
O quadro que se aproxima é de muita batalha que vem por aí, ou quem sabe, alguém no Partido dos Trabalhadores terá a sabedoria de acenar para o seguimento alguma forma de entendimento que gere paz.
É sempre bom lembrar que quando colocamos em jogo uma guerra de oposições, provocamos uma guerra de todos contra todos. Como bem diz a pesquisadora de Filosofia Antiga, mitologia e narrativas sagradas Julia Myara, “’O homem é o lobo do homem’ e de certa forma lutamos todos uns contra os outros, sem formar um projeto de civilização. E a partir dessa narrativa, criamos armas literais e simbólicas para nos defender de nossos iguais.”
Victorio Dell Pyrro