Volume de chuva em Bertioga (SP) é o maior registro do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) e do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet)
As chuvas que caíram em entre sexta-feira (17) e sábado (18) no Litoral Norte de São Paulo foram as maiores registradas em 24 horas na história do país, segundo dados do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) e do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).
O Cemaden instalou a maior parte dos pluviômetros da rede de observação do país em 2013. O equipamento verifica a quantidade de chuva.
O volume que caiu em Bertioga, 683 milímetros acumulados no período, é o maior registro do sistema até o momento. Na tragédia de Petrópolis, em 2022, foram registrados 534,4 milímetros. Já o recorde do Inmet, de 1991, da cidade de Florianópolis, é de 404,8 mm em 24 horas.
Para cada milímetro de chuva que cai, o volume equivale a um litro de água despejado por uma área de 1 metro quadrado.
Entre os motivos que ajudam a explicar o alto volume estão a cadeia de montanhas da Serra do Mar e uma frente fria vindo do mar.
Até as 19h, o volume elevado de chuva na região deixou 40 mortos (39 em São Sebastião e um em Ubatuba). Como consequência, foi decretado estado de calamidade em seis cidades e luto oficial de três dias.
Em todo o estado de São Paulo, são 1.730 desalojados e 766 desabrigados. Em Bertioga, foram registrados alagamentos, queda de árvores e barreiras e falta de luz. A rodovia Rio-Santos ficou interditada.
O triste recorde foi citado pelo governo de São Paulo, em nota divulgada nesta segunda-feira (20).
“São Sebastião foi um dos municípios mais afetados neste feriado prolongado de carnaval, com deslizamentos de encostas, alagamentos e bairros isolados devido à interdição de vias de acesso. O número de mortos já supera a tragédia de Franco da Rocha, em 2022, com o deslizamento que matou 18 pessoas. O acumulado de chuva nessa oportunidade foi de 70 milímetros em 24 horas”, afirmou.
Meteorologista do Cemaden, Giovani Dolif afirma que a chuva que caiu na região durante o carnaval foi atípica. “Comum não é, até porque a gente não vê esse estrago nem todo dia, nem todo ano. A gente teve em Santos em 2020”, afirma, citando a tragédia que deixou 45 mortos.
Naquele ano, em um período de 24h, de acordo com dados do Cemaden, choveu 320 mm no Guarujá. O valor ficou muito acima da média de 263 mm prevista para o mês de março.
O também meteorologista e coordenador geral de operações e modelagens do Cemaden, Marcelo Seluchi, ressalta ainda que a maior parte do volume caiu não em 24 horas, mas em 12 horas.
Meteorologista do Inmet, Mamede Luiz Melo afirma que as estações do instituto na região, que são menos presentes que as do Cemaden, registraram precipitações em torno de 200 mm no período. “É certo que, pelo estrago que a gente viu, algum volume maior pode ter ocorrido”, pondera.
Maior chuva da história do país?
Seluchi, no entanto, afirma que não é possível dizer que essa chuva foi a maior da história do Brasil, já que não há registros em toda a história do país e há regiões brasileiras que até hoje não têm medição, como áreas da Amazônia.
“É muito difícil dizer que é a maior da história. Temos chuvas amazônicas que também não sabemos, não conhecemos, tem muito território que não tem um pluviômetro para registrar”, pondera.
Para ilustrar a ponderação, o meteorologista cita uma chuva que foi registrada no Litoral Norte de São Paulo, na cidade de Caraguatatuba, em 1967, e deixou cerca de 450 mortos.
“O pluviômetro [da cidade] comportava até 400 mm e ele transbordou, não se sabe quanto choveu, mas pela magnitude dos estragos, parece ter sido muito pior que isso que aconteceu no fim de semana”, afirma.
Seluchi também diz que há relatos de uma chuva que caiu na década de 1990 no Maranhão e que teria registrado mais de 800 mm em 24 horas, mas ele não encontrou registro oficial para comprovar a história.
5 fatores ajudam a explicar a chuva
Imagens de satélite mostram as nuvens “andando” pelo litoral de São Paulo, em um movimento que o meteorologista Giovanni Dolif comparou com “cavalo de pau, marcha à ré e estacionamento”. A análise foi feita com base nas imagens de satélite abaixo.
Foram principalmente cinco fatores que causaram esse movimento e o grande volume de água na precipitação:
- Baixa pressão no litoral de São Paulo;
- Frente fria vindo pelo mar;
- Ventos quentes vindos do Nordeste;
- Nuvens com muita água;
- Cadeia de montanhas da Serra do Mar.
Esses cinco fatores juntos se “encontraram” em cima do Litoral Norte de SP, como se cercassem as nuvens e as fizessem ficar concentradas em uma só área durante um longo período. Parecido com uma grande esponja de água sendo espremida por todos os lados.