Instalação do porto de Mykolaiv pegou fogo na noite de segunda-feira (17)
A Rússia atacou portos da Ucrânia durante ataques promovidos na noite de segunda-feira (17) e madrugada desta terça-feira (18), segundo autoridades ucranianas.
Os bombardeios aconteceram um dia após Moscou suspender o acordo que permitia que a Ucrânia exportasse grãos para países pobres. A Força Aérea da Ucrânia informou que a Rússia usou drones e mísseis balísticos para atingir alvos nas regiões sul e leste do país. Não há informações sobre feridos.
Uma instalação do porto de Mykolaiv pegou fogo ainda na noite de segunda-feira (17). As autoridades informaram que o incêndio foi rapidamente controlado, sem deixar feridos. Além de Mykolaiv, o porto de Odessa também foi alvo de ataques, sofrendo danos.
A Ucrânia informou que os estragos foram provocados por destroços de artefatos russos abatidos. Casas também foram danificadas. Os portos de Odessa e Mykolaiv possuem acesso ao Mar Negro, por onde a Ucrânia envia as exportações de grãos. Alertas de ataque aéreo foram emitidos em várias regiões do país. O sistema de defesa foi acionado para repelir os ataques, principalmente na região de Odessa.
Mais cedo, ainda ontem, a Rússia acusou a Ucrânia de promover um ataque contra uma ponte na península da Crimeia, que foi anexada pelo governo de Moscou em 2014.
A suspensão do acordo de grãos foi anunciada pelo Kremlin horas depois do ataque com drones atingir a ponte que liga o país à península anexada da Crimeia.
Há temores de que o conflito entre dois dos maiores produtores de alimentos do mundo possa impulsionar uma nova disparada na inflação global, com impactos inclusive para o agro brasileiro.
Segundo o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, o acordo foi suspenso sob a alegação de que a parte relativa à Rússia não estaria sendo cumprida, em referência às sanções econômicas das quais Moscou é alvo da União Europeia (UE) e dos Estados Unidos.
Embora os produtos agrícolas russos, como alimentos e fertilizantes, não tenham sido proibidos, o governo argumenta que os bloqueios comerciais e ao sistema bancário internacional prejudicam as transações com países que importam as commodities.
O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky disse, após o anúncio da suspensão do acordo pelo Kremlin, que manteria a exportação de grãos pelo Mar Negro.
Antes do conflito, 90% das exportações agrícolas deixavam o país por via marítima, segundo a UE, em especial pelo Mar de Azov, cujos portos foram tomados por tropas russas.
O acordo negociado pelas Nações Unidas e pela Turquia foi saudado por impedir uma emergência alimentar global após a invasão da Ucrânia pela Rússia em fevereiro de 2022 e o bloqueio dos portos do Mar Negro.
“A Ucrânia, a ONU e a Turquia juntas podem garantir a operação de um corredor alimentar e inspeções de embarcações. Isso é necessário para o mundo inteiro“, disse Zelensky.
As reações à suspensão do acordo pelo Ocidente foram imediatas. A porta-voz dos EUA na ONU, Linda Thomas-Greenfield, acusou Moscou de manter a “humanidade como refém“. Já o secretário-geral da organização, António Guterres, alertou que milhões de pessoas “pagarão o preço” pela saída russa da iniciativa.
Mas não são apenas o Ocidente e países em desenvolvimento que serão afetados pela medida. A China, uma das principais aliadas de Moscou, é a maior beneficiária do acordo de grãos, seguida da Espanha e da Turquia.
O impacto da decisão para as relações com Pequim e Ancara pode indicar que a saída da Rússia não duraria muito tempo. — A Rússia vai, com essa decisão, afetar muito o preço dos alimentos na China, que podem subir muito rápido.
Esse cálculo em relação a aliados não está sendo levado em conta, talvez ele seja mais uma estratégia de guerra do que diplomático — analisa Pires. — Ou então nós estamos assistindo agora uma reação de fato aos últimos movimentos do Ocidente, como o fornecimento de bombas de fragmentação.
Como Putin não consegue impedi-los, ele faz o que está sobre o seu controle na parte econômica. Se tiver sucesso, a Rússia pode voltar a ter acesso ao dinheiro internacional.
É incerto se a Ucrânia continuará a enviar as mesmas quantidades de grãos para o mundo. O alto custo do seguro dos navios pode ser um grande problema. Os navios que desejam atravessar o Mar Negro já precisam fazer um seguro de milhares de dólares. As empresas de navegação podem relutar em enviar seus navios pela zona de guerra se não houver o aval russo.
O transporte de grãos por terra também pode se tornar difícil.
Desde o início da guerra, a Ucrânia tem exportado grandes quantidades de grãos por meio dos países do leste europeu, mas há poucos vagões de carga para exportar todos os grãos da Ucrânia por via terrestre. Além disso, os agricultores de alguns países do leste da UE se ressentem do fato de os suprimentos ucranianos serem enviados por meio de seus países, dizendo que isso prejudica a produção local e tira o mercado de suas próprias colheitas.
O bloco europeu impôs no início deste mês restrições à importação de grãos ucranianos, estipulando que eles podem ser transportados pela Bulgária, Hungria, Polônia, Romênia e Eslováquia, mas não podem ser vendidos nesses países.
A reação imediata do mercado de grãos à suspensão do acordo pela Rússia foi modesta, com os preços subindo cerca de 3% nos Estados Unidos e 2% na Europa, disse um negociador alemão à agência de notícias Reuters. “Creio que há uma crença no mercado que a Rússia e a UE têm grandes suprimentos de trigo que poderão fazer frente à demanda mundial nos próximos meses, com a chegada das colheitas”, afirmou.
No entanto, Hasnain Malik, chefe de pesquisa da Tellimer Research, disse: “A suspensão do acordo do Mar Negro não é não é inesperada e pode pôr fim ao recente abrandamento dos preços dos grãos. Essa é uma má notícia para os importadores menores e mais pobres dos mercados emergentes, como o Egito.”