Cantora morreu aos 77 anos e ex-companheira disputa dinheiro com filhos
A cantora Gal Costa morreu aos 77 anos, em 9 novembro do ano passado, em decorrência de um infarto agudo no miocárdio, de acordo com certidão de óbito.
O documento descreve ainda como causa da morte uma neoplasia maligna [câncer] de cabeça e pescoço.
A causa da morte de Gal não foi divulgada na época.
Pouco antes da morte, Gal havia dado uma pausa em shows, após passar por uma cirurgia para retirar um nódulo na fossa nasal direita. A cantora morreu em sua casa no Jardim Europa, área nobre de São Paulo, às 6h40.
De acordo com a certidão, que veio à tona depois de surgirem denúncias de golpes e assédio contra Wilma Petrillo, viúva da cantora, a causa da morte foi revelada.
Vale lembrar que dois meses antes de seu falecimento, Gal passou por uma cirurgia na região do nariz para retirada de um nódulo e havia interrompido a carreirapara tratar da saúde.
Assédio moral, golpes financeiros e ameaças. Essas são algumas das acusações contra Wilma Petrillo, viúva de Gal Costa, que morreu em novembro do ano passado, reunidas na reportagem especial do mês de julho da Revista Piauí, assinada por Thallys Braga. A matéria, que ouviu amigos, ex-funcionários e um familiar da cantora, afirma, ainda, que a ex-companheira teria causado a falência da artista.
O primeiro caso contado na notícia é o do médico Bruno Prado. Ele revelou que era próximo do casal e que Wilma lhe pediu emprestado entre R$ 10 mil e R$ 15 mil com a justificativa de que precisava passar por uma cirurgia nos olhos. Depois da fazer o empréstimo, ele contou que teve dificuldades para receber o valor de volta.
Após cobrar a devolução, Bruno disse que passou a ser chantageado pela viúva de Gal, já que é homossexual e ainda não tinha contado para seus familiares: “[Ela dizia] ‘Se você continuar me cobrando, eu vou fazer uma coisa muito bonitinha: conto pro teu pai que você é viado’. Quando ela falou isso, eu tremi”, desabafou ele, que também começou a sofrer “castigos”, como não ser mais convidado para a casa das duas e os shows da cantora. Ele, então, escreveu um e-mail para Gal contando o que estava acontecendo e ela assumiu a dívida da companheira.
Mesmo com o pagamento do valor, Wilma teria seguido com suas ameaças, relatou Bruno: “Ela dizia coisas como: ‘Você não tem vergonha de pedir dinheiro para uma mulher mais velha, sua bicha?’”, recordou ele, que chegou a registrar um boletim de ocorrência contra ela. Ele também contou que a esposa de Gal Costa chegou a dizer que ele levaria “uma surra tão bonita que vai aprender a respeitar os outros”.
Apesar da denúncia na polícia, Wilma não se deu por vencida. O médico contou que, durante uma viagem a Nova York (EUA), ela entrou em contato com ele e disse que “conhecia gente que poderia dar um jeito nele” por lá, pois morou na cidade. Com medo, ele foi para outro estado. Após receber o pagamento devido, ele nunca mais falou com as duas.
A revista afirmou, ainda, que no círculo cultural de Salvador contavam casos sobre Wilma ter aplicado golpes em outras pessoas. Além disso, amigos de Gal preferiam manter distância da empresária e esposa da artista.
Outra pessoa ouvida pela Piauí foi o produtor Ricardo Frugoli, que afirmou ter más recordações do tempo em que trabalhou com Wilma. De acordo com ele, Gal teria perdido contratos para apresentações na Europa e no Brasil por causa das atitudes da mulher.
“Durante muito tempo, fui o cara que não deixou a bomba explodir. Continuar ali era importante para protegê-la do que vinha acontecendo na carreira e dentro de casa”, afirmou ele, relatando que contou tudo para Gal, mas ela ainda ficou aborrecida com ele. Ricardo contou também que havia muita intriga, acusações infundadas de furto e ex-funcionários com depressão devido às humilhações sofridas nos bastidores.
O ex-funcionário afirmou que, mesmo sofrendo bullying por parte da esposa de Gal, continuou trabalhando pela cantora. Assim como Bruno, o produtor denunciou Wilma por ameaçá-lo, e foi demitido quatro dias depois do registro.
Uma outra pessoa que trabalhou com o casal descreveu que o relacionamento das duas era abusivo, formado por discussões, ofensas e até partindo para agressão. Ela descreveu uma das brigas, ocorrida em 2015. De acordo com ela, Gal questionou: “O dinheiro entra e some, as dívidas não param de chegar. Que tipo de empresária é você?”. E recebeu como resposta: “Você é uma velha, as pessoas não querem mais te contratar”, disse Wilma.
A matéria relatou que Sonia Braga também teria sido vítima de um dos golpes da companheira de Gal e, por isso, se afastou da amiga. A atriz não se pronunciou sobre o caso ao ser questionada pela revista.
Irmão de Gal, Guto Burgos desabafou e disse ter sido afastado do convívio com ela em 1997: “Por favor, eu não quero mais falar disso. É um assunto que me dói muito”, pediu ele, que relatou o patrimônio que a irmã tinha e lamentou a perda de tudo.
Guto contou que Gal teve oito salas comerciais no Rio de Janeiro, que eram alugadas; uma cobertura e um apartamento na Praia Guinle, um condomínio de luxo na praia de São Conrado, no Rio de Janeiro: “Também tinha imóveis em Salvador, Trancoso e Nova York. Como dói saber que ela morreu sem nada disso. Parece que todo o trabalho dela foi em vão”, disse.
Gal também era proprietária de uma granja em Petrópolis. Ela chegou a passear por lá com a atriz Lúcia Veríssimo, que foi sua namorada. O espaço foi vendido pela artista e por Wilma em 1992 e virou, primeiro, uma escola. Depois foi transformado em pousada.
Na matéria, o repórter conta que encontrou quatro salas comerciais no Leblon e dois imóveis em São Conrado no nome da artista. Em testamento, a cantora deixou para o filho Gabriel um imóvel, segundo a Piauí, comprado por R$ 5 milhões em 2020, no bairro dos Jardins, em São Paulo.
Amiga da artista, a médium Halu Gamashi comentou que precisou encontrar com Gal às escondidas por causa do ciúme da mulher. Ela também presenciou críticas pesadas vindas da esposa da cantora e afirmou estranhar o fato de ela ficar calada, como um dia em que a criticou por estar acima do peso: “Você está pensando que é quem, Nana Caymmi?”, disse Wilma.
A matéria também mostrou relatos de outros personagens presentes na vida das duas, como o produtor Rodrigo Bruggermann, que relatou taxas extras, grosserias e mudanças de última hora; e o empresário Maurício Pessoa. Procurada pela revista, a viúva de Gal não quis falar e ameaçou, por meio de seus advogados, processar a publicação, caso veiculasse a reportagem.
Foram 57 anos de carreira, iniciada em 1965, quando a cantora apresentou músicas inéditas de Caetano Veloso e Gilberto Gil. Ela ainda era Maria da Graça quando lançou “Eu vim da Bahia”, samba de Gil sobre a origem da cantora e do compositor.
Três anos depois, veio outro clássico: “Baby”, de Caetano Veloso. A canção foi feita para Maria Bethânia, mas Gal a lançou em disco e a projetou no álbum-manifesto da Tropicália. “Divino maravilhoso” (de Gil e Caetano) foi outra da fase tropicalista.
Ao longo dos anos 60 e 70, ela seguiu misturando estilos. Dedicou-se ao suingue de Jorge Ben Jor com “Que pena (Ela já não gosta mais de mim)” e foi pelo rock com “Cinema Olympia”, mais uma de Caetano. “Meu nome é Gal”, de Roberto e Erasmo Carlos, serviu como carta de apresentação unindo Jovem Guarda e Tropicália.