Crânio de 300 mil anos pode mudar ancestralidade humana

Ossos incluindo uma mandíbula de um ancestral humano que morreu quando tinha entre 12 e 13 anos de idade foi encontrado por cientistas na China e está sob investigações científicas

Cientistas da Academia Chinesa de Ciências (CAS, na sigla em inglês), juntamente com pesquisadores de outras instituições acadêmicas, fizeram uma descoberta inédita que, se confirmada, pode reformular nossa compreensão da ancestralidade humana.

O estudo revela evidências de uma linhagem humana desconhecida até então, distinta dos ramos que levaram aos neandertais, denisovanos e humanos modernos (Homo sapiens).

A descoberta gira em torno de um conjunto de ossos -um crânio e uma mandíbula-, datado de 300.000 anos atrás, diferente de qualquer fóssil humano pré-moderno previamente conhecido.

Os cientistas acreditam ter identificado uma nova espécie humana depois de encontrar um crânio antigo (acima) pertencente a uma criança que viveu até 300.000 anos atrás, perto do local de escavação de Hualongdong, na província chinesa de Anhui.  Os restos fossilizados também incluíam uma mandíbula e ossos da perna
Os cientistas acreditam ter identificado uma nova espécie humana depois de encontrar um crânio antigo (acima) pertencente a uma criança que viveu até 300.000 anos atrás, perto do local de escavação de Hualongdong, na província chinesa de Anhui. Os restos fossilizados também incluíam uma mandíbula e ossos da perna

Encontrado na região de Hualongdong, no leste da China, em 2019, junto com outros 15 espécimes do período do Pleistoceno Médio (entre 82.800 a 355.000 anos atrás), o conjunto de um ancestral humano, denominado HLD 6, foi submetido a uma avaliação morfológica e geométrica recentemente.

Os membros, calota craniana e mandíbula – que provavelmente pertenciam a uma criança de 12 ou 13 anos de idade, pareciam “refletir traços mais primitivos”, de acordo com especialistas da Academia Chinesa de Ciências (CAS).

Mas, por outro lado, o resto do rosto da criança tinha características mais parecidas com os humanos modernos.

Os pesquisadores conseguiram constatar uma anatomia “inesperada” do conjunto que não se encaixa em nenhum grupo taxonômico atual.

Ao comparar a mandíbula do HLD 6 com as de hominídeos (grupo que engloba os humanos e os nossos ancestrais extintos) do Pleistoceno e humanos modernos, os pesquisadores descobriram então que ela possui características de ambos.

Usando os fragmentos recuperados do crânio e mandíbulas do fóssil, a equipe foi capaz de discernir que o rosto desse indivíduo se assemelhava a algo próximo a um humano moderno, enquanto a falta de um queixo definido parecia mais um denisovano – uma espécie extinta de antigos humano da Ásia
Usando os fragmentos recuperados do crânio e mandíbulas do fóssil, a equipe foi capaz de discernir que o rosto desse indivíduo se assemelhava a algo próximo a um humano moderno, enquanto a falta de um queixo definido parecia mais um denisovano – uma espécie extinta de antigos humano da Ásia

Enquanto sua estrutura facial se assemelha à da linhagem humana moderna, que se separou do Homo erectus há aproximadamente 750.000 anos, falta-lhe um “queixo verdadeiro”, o que o relaciona a espécies mais antigas, como os denisovanos, que se separaram dos neandertais há mais de 400 mil anos e que também não tinham um queixo típico como o nosso.

“Essa mistura de características humanas arcaicas e modernas na mandíbula do HLD 6 é surpreendente, considerando sua idade do final do Pleistoceno Médio, e difere daquelas encontradas em membros contemporâneos do gênero Homo, como Xujiayao, Penghu e Xiahe”, disseram os pesquisadores no estudo.

Por isso, os cientistas acreditam que o HLD 6 pertence a um grupo único, ainda sem nome e com características humanas modernas. Segundo os autores do achado, porém, mais investigações arqueológicas precisam ser feitas para confirmar com precisão essa evidência que pode redefinir a nossa compreensão sobre a linhagem humana.

A descoberta também é significativa porque estudos anteriores sobre restos de Neandertal na Europa e na Ásia Ocidental encontraram evidências de uma quarta linhagem de hominídeos vivendo no Pleistoceno Médio e Superior.

No entanto, esse grupo desaparecido nunca foi oficialmente identificado no registro fóssil.

Na China, o Homo sapiens só apareceu há cerca de 120 mil anos.

Mas essa nova pesquisa sugere que nossas características “modernas” existiram por muito mais tempo do que isso na região do Leste Asiático.

Os pesquisadores acham que pode ser que o último ancestral comum do Homo sapiens e dos neandertais tenha surgido no sudoeste da Ásia e depois se espalhado por todos os continentes.

O novo estudo foi publicado no Journal of Human Evolution .

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