Investigação de Alexandre de Moraes vaza áudio de filha menor de idade de Mauro Cid falando sobre intervenção, Lula e Bolsonaro

STF faz ações semelhantes às que condenou ao mudar de opinião sobre condenações de Lula

Uma reportagem do site Metrópoles sobre áudios vazados da filha do tenente-coronel do Exército, e ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, Mauro Cid mostra além da conversa entre adolescentes de 15 anos, um comportamento questionável das investigações conduzidas pela Suprema Corte.

As investigações do Supremo Tribunal Federal (STF) ultrapassam os limites que a própria corte condenou na Operação Lava Jato, praticamente aniquilada com anulação de provas, condenações e soltura de presos pela corrupção que sangrou bilhões de reais dos cofres públicos.  Alguns desse bilhões, inclusive, recuperados pela Lava Jato.

O ministro Alexandre de Moraes conduz investigações criadas por ele mesmo, conduzidas por ele mesmo e julgadas por ele mesmo, como as das Fake News, mas a prisão de Mauro Cid por adulteração de Carteira de Vacinação nunca antes foi vista em nenhuma instância do judiciário.

Mas a reportagem do Metrópoles mostra  que o STF quer algo muito distante do objetivo alegado para manutenção de Cid na prisão.  Cid foi solto apenas depois de fechar acordo de delação premiada sobre outros assuntos, diversos das carteiras de saúde falsificadas

A equipe de investigação comandada por Alexandre de Moraes vazou para a imprensa o áudio da adolescente investigada sem constar oficialmente como suspeita de algum crime.  Mauro Cid resolveu, segundo interlocutores, fechar acordo sobre o que Alexandre de Moraes pretende para justamente proteger sua família, incluindo seu pai, um general de Exército.

O material vazado para a imprensa mostra que uma das filhas de Mauro Cid teria defendido intervenção, com militares nas ruas, para manter Bolsonaro no poder. Um áudio obtido pela coluna retrata uma conversa da jovem com um interlocutor sobre possíveis cenários após a vitória de Lula. Nela, a filha de Cid disse que a alternativa viável seria a “intervenção federal”.

Segundo o site, o diálogo se dá em novembro do ano passado. O interlocutor, que aparenta conhecer a jovem há pouco tempo, insinua que Bolsonaro teria uma “carta na manga” para evitar a posse do presidente eleito. A princípio, a filha de Cid desconversou. Disse que torcia para Bolsonaro ter a tal carta, mas que achava que nada poderia ser feito.

Logo em seguida, porém, a jovem encaminha uma mensagem que citava três cenários possíveis para evitar a posse de Lula. O “artigo 142” e a “intenvenção militar”, segundo a filha de Cid, não atenderiam à necessidade formal para manter Bolsonaro no poder. Já a “intervenção federal” contemplaria plenamente a expectativa.

Sem compreender a diferença dos cenários traçados pela filha de Cid, o jovem pergunta: “O artigo 142?”. Ela, então, explica.

“Não (é o artigo 142). É… é intervenção federal. Que é onde os militares não entram no governo. Eles só tomam as ruas. Aí o presidente vai permanecer, então, no caso, o Bolsonaro. E é isso. Amém. Aí tudo fica tranquilo.”

Na sequência, a filha de Cid, que é menor de idade e não é investigada no caso, justifica a alternativa:

“Outra coisa que vejo muitas pessoas falando é o artigo 142. É que, tipo assim, o artigo 142 não tem como colocar em prática. Só se acontecer uma desordem, entendeu? Só que foi a democracia. Foi voto, entendeu? Então nem tem como colocar isso em prática”.

O jovem, então, entusiasma-se com o cenário de intervenção federal. “Entendi. Esse seria ótimo.” E a filha de Cid prossegue: “Sim”.

Outro áudio vazado pelas investigações de Alexandre de Moraes ao site mostra que Bolsonaro teria caído em depressão após perder a eleição, segundo a adolescente conta ao amigo.

A filha de Mauro Cid quase revela que seu pai era ajudante de ordens de Bolsonaro. Dessa vez, ela falava sobre o estado mental do então presidente após a eleição.

“É que, tipo assim, como que vou te explicar? O meu… uma pessoa que, tipo assim, trabalha muito próximo, tem um cargo nesse meio político e tá sempre do lado do Bolsonaro. E aí essa pessoa fala aqui para a gente de casa. E aí ele falou que ultimamente, nessa eleição, ele (Bolsonaro) ficou muito mal, ficou muito mal, ele só ficou deitado na cama. Até porque ele dá a vida pelo Brasil. Quase perdeu a vida no caso. Sério… enfim.”

Ainda na mesma conversa, os adolescentes trocam impressões sobre uma possível fraude nas urnas eletrônicas. O interlocutor diz acreditar que a eleição foi fraudada; a filha de Mauro Cid, por sua vez, é mais comedida.

“O que achei estranho foi que só o Lula subia. O Bolsonaro não subia nem um pouco, entendeu? Chegou uma hora que só o Lula subia. Sei lá… também não sei esse negócio de fraude… eu já tava com medo. Mas me surpreendeu.”

Os áudios fazem parte da investigação que apura uma suposta tentativa de golpe de Estado no fim da gestão Bolsonaro. Como a filha de Cid tem 15 anos, a coluna optou por preservar a voz da jovem.

Uma outra troca de mensagens, do fatídico 8 de Janeiro, revela um aspecto curioso. Por mensagem de texto, a filha de Mauro Cid é abordada por uma amiga sobre as depredações dos Três Poderes. A jovem responde:

“Eu estou com nojo. Sério. Repensando tudo”.

A interlocutora, então, prossegue:

“Essas pessoas extremistas só pensam no próprio umbigo!! Todo mundo teve direito de votar. Se um lado venceu, tem que respeitar!! O Lula NÃO é o melhor candidato, mas fazer isso não vai mudar NADA”.

E a filha de Mauro Cid conclui:

“Simm! Acho que Lula nem Bolsonaro deviam ser presidentes”.

Segundo um editorial do Estadão publicado ontem, “o STF parece empenhado em repetir, nas investigações contra Bolsonaro, os erros da Lava Jato.”

Para o Estadão, “há algum tempo se verificam perigosas semelhanças entre os métodos utilizados na Operação Lava Jato e o que vem fazendo o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), no âmbito dos inquéritos das milícias digitais e atos antidemocráticos. No mês passado, este jornal alertou para a compreensão excessivamente ampla da competência judicial adotada por Alexandre de Moraes, com base no critério da conexão entre causas”.

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