Alexei Navalny, ex-advogado ganhou fama ao satirizar e liderar manifestações contra o presidente da Rússia. Em 2021, ele foi detido após sofrer envenenamento. Governo russo não informou a causa da morte
Mais uma morte de um opositor do ditador russo, Vladimir Putin vem à público. Desta vez, o regime totalitário eliminou de vez, Alexei Navalny.
O opositor russo Alexei Navalny morreu nessa sexta-feira (16) na prisão, segundo o governo de Putin, “após se sentir mal durante uma caminhada”, informou o serviço penitenciário da região de Yamalo-Nenets, onde ele cumpria pena há cerca de três anos.
O Serviço Penitenciário Federal disse em comunicado que Navalny perdeu a consciência.
Segundo a agência norte-americana Associated Press, a Russia disse que uma ambulância chegou para tentar reabilitá-lo, mas “não conseguiu”.
Não houve confirmação imediata da morte de Navalny por parte de sua equipe. O governo russo disse não ter nenhuma informação sobre a causa da morte.
Navalny, de 47 anos, era um ex-advogado que ganhou fama há mais de uma década ao satirizar a elite do presidente Vladimir Putin e fazer acusações de corrupção. Na década de 2010, por exemplo, ele liderou um movimento contra Putin que levou milhares de pessoas às ruas do país.
Ele foi detido por forças russas em janeiro de 2021 após retornar da Alemanha, onde foi tratado e sesalvou de uma suspeita de envenenamento atribuida ao governo Putin.
Navalny foi sentenciado à prisão até completar 74 anos por acusações que, segundo ele, foram forjadas para mantê-lo afastado da política.
Navalny chegou a anunciar sua candidatura presidencial, em 2016, para em seguida criar uma rede de comitês eleitorais, de Kaliningrado até Vladivostok.
Porém, a Comissão Eleitoral Central da Rússia informou que ele não poderia concorrer devido a uma condenação na Justiça. Essa mesma forma de afastar concorrentes é muito utilizada em ditaduras que se dizem democraticas e que possuem criminosos no poder.
À época, o opositor de Putin foi considerado culpado de fraude e recebeu uma sentença de cinco anos de prisão.
Em 2018, milhares de pessoas protestaram em toda a Rússia contra a eleição na qual o atual presidente, Vladimir Putin, foi eleito pela quarta vez. A manifestação chamada de “greve de eleitores”, foi convocada por Navalny.
Enquanto estava preso, Navalny recebia ajuda para que seus textos fossem publicados. Em uma mensagem na rede social X, ele descreveu uma rotina matinal.
“O cantor Shaman ficou famoso depois que eu já estava na prisão, então eu não consegui vê-lo ou ouvir sua música. Mas eu sabia que ele havia se tornado o principal cantor de Putin. E que sua principal música é ‘Eu sou russo'”, escreveu Navalny.
“Claro que fiquei curioso para ouvi-la, mas onde conseguiria fazer isso na prisão? E então eles me levaram para Yamal (local da prisão no Ártico). E aqui, todo dia às 5h da manhã, ouvimos o comando ‘Levantem!’, seguido do hino nacional russo e, imediatamente depois, a segunda música mais importante do país é tocada — ‘Eu sou russo’, do Shaman”.
Ele também disse que seu regime matinal agora inclui ouvir o hino nacional russo antes de começarem a tocar “Eu sou russo”, uma música patriótica de um cantor pró-Putin chamado Shaman.
A ironia, segundo Navalny, é que a propaganda estatal já ressaltou que ele costumava acompanhar nacionalistas russos em marchas anuais e agora, anos depois, estava ouvindo uma música pop ultra-nacionalista com propósitos educacionais enquanto faz seus exercícios matinais na prisão.
“Sendo honesto, ainda não tenho certeza se entendo corretamente o que pós-ironia e meta-ironia são. Mas se não for isso, o que poderia ser?”, brincou Navalny.
O que é a prisão Lobo Polar?
A prisão, chamada de Lobo Polar, onde Navalny ficou preso, é considerada uma das prisões mais difíceis da Rússia. A maioria dos prisioneiros que continuam nela foram condenados por crimes graves.
Durante o inverno, as temperaturas no local podem chegar a até -28°C.
Cerca de 60 km ao norte do Círculo Polar Ártico, a prisão foi fundada na década de 1960 como parte do que já foi o sistema GULAG de campos de trabalhos forçados soviéticos, segundo o jornal Moskovsky Komsomolets.
Kira Yarmysh, porta-voz do político russo, disse acreditar que a decisão de o transferir para um local tão remoto e inóspito foi projetada para isolá-lo, tornar sua vida mais difícil e complicar o acesso de seus advogados e aliados.
Por fim, morreu.
Em outros países com ditaduras semelhantes, desfarçadas de democracias, com criminosos levados ao poder por jogadas no judiciário, opositores morrem na prisão.