Moradores de Porto Alegre lotam abrigos enquanto chuva volta a cair no Rio Grande do Sul

Abrigos improvisados em igrejas acolhem moradores desalojados em enchente histórica na capital gaúcha

Com informações da BBC

A tragédia das enchentes em Porto Alegre entrou no sexto dia nesta quarta-feira (08) com boa parte da cidade sem luz, água e até alimentos. Também voltou a chover na capital gaúcha, o que fez a prefeitura interromper operações de resgate de pessoas ilhadas.

Em meio ao caos, igrejas de todos os credos se prontificam a serem abrigos. Uma delas, evangélica que funciona hoje como um abrigo para 66 pessoas e ao menos dez cães foi visitada por uma equipe da BBC.

O local, por onde já passaram cerca de 110 desalojados, segundo o pastor que coordena o projeto, oferece quatro refeições e banho quente, além de assistência médica e psicológica.

Desabrigados pelas enchentes na região metropolitana procuram a igreja Aliança Cristã de Porto Alegre para se alojar temporariamente enquanto não podem voltar para suas casas, muitas delas completamente cobertas pela água.

Mas quem nesta quarta-feira, o aviso colado no portão: “Não temos mais vagas” mostra que a situação do porto alegrenses está caótica.

Os três andares da igreja possuem diversos salões que hoje fazem as vezes de quartos. Os ambientes onde geralmente há oficinas hoje têm colchões no chão, roupas estendidas nas janelas e potes de ração para os cães.

Para evitar que eles fujam, a porta de um dos quartos dá outro aviso em uma folha de sulfite: “Favor não abrir! Tem cachorro”.

O pastor Dari Pereira diz que estuda ampliar a quantidade de pessoas abrigadas na igreja.

Enquanto isso, nós recebemos um boletim de área dos locais que têm vagas. Então quando alguém chega aqui, dizemos que não tem vaga, mas falamos onde tem. E fazemos essa realocação”, explica o pastor.

Parte dos voluntários estocam a água, outros separam as roupas doadas por tamanho e parte da equipe distribui as dezenas de refeições em quentinhas doadas.

Pastor Dari diz que está reestruturando igreja para ampliar capacidade de pessoas abrigadas no local — Foto: Fernando Otto/BBC

O pastor Dari faz parte de uma rede de 24 igrejas evangélicas de Porto Alegre.

Todas estão funcionando como abrigos e acolhem 1.600 pessoas no momento. A rede de igrejas ainda tem seis centros de distribuição de doações.

Para o pastor, foi essencial abrigar não apenas as pessoas, mas também seus animais de estimação. Ele afirma que isso é essencial no processo de recuperação psicológica das famílias.

“A gente não separou as pessoas dos animais porque separá-los era retirar tudo o que elas tinham. Hoje, a veterinária avaliou que esses animais não podem ficar aqui dentro sob o risco de transmitir doenças. Mas a escola aqui na frente nos cedeu o ginásio para que a gente construísse um canil e um gatil”, conta Dari.

Responsável pelo abrigo diz que está contando com o cenário de que precise usar espaço dessa forma por pelo menos 30 dias — Foto: Fernando Otto/BBC

Enquanto o pastor conversava com a reportagem da BBC, ele observava com olhar de preocupação a chuva nas ruas da cidade de Porto Alegre.

Ao ser questionado sobre um possível agravamento das enchentes, ele diz que se sente apreensivo, mas que ele e os voluntários da igreja estão preparados para um trabalho a longo prazo.

Desde ontem, a gente está trabalhando com a possibilidade de ser um abrigamento prolongado de pelo menos 30 dias, e estamos trabalhando para isso”, diz o pastor.

Dari afirma que os interessados podem fazer doações para esse projeto que ajuda os desabrigados por meio da chave Pix: 93.315.992/0001-27. O beneficiário é a Igreja Aliança Cristã – POA.

Na quarta-feira, a Defesa Civil do Rio Grande do Sul já havia emitido um alerta para chuva forte, vento isolado acima dos 90 km/h, descargas elétricas e eventual queda de granizo em áreas do Estado.

Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), em algumas regiões a precipitação prevista para os próximos dias poderá passar de 100 milímetros diários.

Colapso se espalha

À medida que o grande volume de água do norte e do centro do Rio Grande do Sul escoou para áreas mais populosas, na região metropolitana de Porto Alegre e na Costa Doce das lagoas dos Patos e Mirim, produziu-se um efeito que agravou o quadro no Estado.

Mesmo tendo se passado dois dias sem uma quantidade de chuva significativa nessa região, foi crescente o número de habitantes que passaram a sofrer com a falta de luz e de água potável, a incomunicabilidade em razão do colapso das comunicações, a impossibilidade de locomoção e a insegurança nos arredores.

Foi o caso dos moradores de um condomínio na divisa dos bairros Menino Deus e Cidade Baixa que foram resgatados por vizinhos e voluntários entre segunda-feira (6) e quarta (8).

O local, com 60 apartamentos distribuídos em duas torres, começou a ficar isolado pela enchente na manhã de segunda.

Naquele momento, a enchente já castigava outras regiões de Porto Alegre havia quatro dias.

Todos os que deixaram o prédio só se molharam nos últimos minutos, ao chegar ao térreo para deixar o local.

Na segunda-feira, era possível transitar pelo local na ponta dos pés. À tarde, já atingia a altura dos joelhos de um adulto. Na quarta, a água já chegara a 1 metro e 70 centímetros.

Parte da população em áreas secas não conseguiu ou não quis deixar as residências, onde permanece sem água e luz.

Em algumas dessas regiões, o isolamento ocorre em razão do bloqueio de vias próximas.

Na terça-feira, mais de 85% dos bairros da capital estavam sem água em razão do desligamento de estações de tratamento de água do Departamento Municipal de Águas e Esgotos (Dmae).

Uma dessas estações, no bairro Moinhos de Vento, deixou sem abastecimento as regiões de maior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) da capital e também as com população mais velha.

Em alguns condomínios de várias regiões, moradores foram obrigados a usar água das piscinas para higiene.

Muitas vezes, a orientação para isso partiu da própria administração dos condomínios, uma vez que caixas d’água deixaram de receber água do sistema municipal de abastecimento já no sábado.

Empresas de caminhões-pipa, que costumam ser acionadas em casos semelhantes, tinham deixado de responder a chamados no final de semana em razão do aumento da demanda.

Outro problema, esse recorrente no Estado, é o apagão. Um número incerto de bairros da capital está sem luz ou com abastecimento oscilante.

Idosos e crianças têm dificuldade para deixar suas residências, principalmente em andares altos,

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