Obsessiva, mulher pediu para tirar foto com atriz em elevador, na primeira vez que encontrou artista no Rio de Janeiro, em 2013. De fã, mulher passou a perseguir Débora
O drama real da atriz Débora Falabella parece com os roteiros das tramas fictícias que a profissional da arte vive em forma de personagens nas telas.
O caso chocante de perseguição obsessiva que Débora Falabella enfrentou traz detalhes perturbadores que foram contidos depois de anos de medo e angústia, por medidas judiciais tomadas.
Em uma sociedade cada vez mais conectada, o fenômeno da perseguição, stalking em inglês, cresce e ganha contornos preocupantes. O caso da atriz Débora Falabella ilustra bem essa realidade.
Tudo começou de maneira aparentemente saudável em um encontro casual em um elevador no Rio de Janeiro.
Depois, presentes, mensagens invasivas, tentativa de invasão ao camarim e aparição na porta do condomínio foram alguns dos episódios que compõe uma longa trajetória de perseguição que a atriz vem sofrendo há mais de 10 anos.
O primeiro encontro da perseguidora com a atriz aconteceu no Rio de Janeiro, em 2013. A “stalker” morava em Recife, capital de Pernambuco e era somente uma fã. Ela de alguma forma se encontrou com Débora Falabella no mesmo elevador no Rio de Janeiro e pediu para tirar uma foto.
Débora gentilmente cedeu ao apelo da fã e a sequência de fatos se tornou um pesadelo.
Como foi a cronologia da perseguição que atriz sofre há mais de 11 anos
2013
Dias após encontrar a artista pela primeira vez, a mulher, hoje com 40 anos, enviou diversos presentes ao camarim da atriz, como uma toalha branca, objetos e uma carta com teor íntimo e invasivo.
2015
Em 2015, Débora estava com uma peça no Sesc Copacabana, no Rio de Janeiro, quando a stalker aguardou num local restrito do teatro e tentou forçar a entrada no camarim da atriz. A tentativa foi frustrada pelos seguranças que a retiraram do local à força.
À época, a artista chegou a registrar o caso em uma delegacia pelo delito de ameaça, mas não continuou com o processo.
2018
O ano de 2018 foi marcado por outro episódio de perseguição. A mulher apareceu na primeira fileira de uma peça que Débora estava apresentando na cidade de São Paulo. Assim que a atriz entrou em cena, a mulher se levantou e saiu do teatro.
2021
A Lei 14.132, de 31 de março de 2021, sancionada pelo presidente da República, Jair Bolsonaro inseriu no Código Penal, o artigo 147-A que descreve o crime de perseguição, também conhecido como “stalking”.
2022
A denunciada criou um grupo no Instagram e incluiu Débora Falabella e a irmã da atriz. Ela passou a enviar diversas mensagens e chegou a dizer que transa com a artista e falou em “loucura telepática”. Ela também afirmou que tem conversas por telepatia com a atriz.
Segundo os advogados da atriz, o momento de maior pânico aconteceu em julho de 2022, quando a stalker apareceu na porta de seu condomínio na capital paulista, carregando malas de viagem.
Durante alguns minutos, ela permaneceu observando o apartamento da atriz, até que se dirigiu à portaria e pediu para entrar, mas não foi recebida.
No mesmo dia, no início da noite, a mulher voltou ao endereço e chegou a encontrar uma funcionária de Débora passeando com um cachorro, momento em que disse ter “encontros telepáticos” com a atriz, além de gritar seu nome.
O episódio motivou a apresentação de uma representação criminal contra a suspeita pelo crime de stalking, que tem pena de 6 meses a 2 anos.
Em mais uma tentativa de encontro, a mulher descobriu o endereço de uma pousada na Bahia em que Débora passava férias e novamente tentou contato com ela por intermédio da proprietária do estabelecimento. O evento ocorreu em dezembro de 2022.
Quando voltou a São Paulo, a atriz ainda descobriu que havia recebido uma encomenda macabra enviada pela stalker.
A mulher enviou o livro Romeu e Julieta, romance em que os protagonistas da história morrem, acompanhado de uma mensagem: “Para o meu Romeu, com muito amor”.
Depois desse episódio, a Justiça de São Paulo concedeu medida protetiva em favor de Débora Falabella e proibiu a mulher de manter contato com a atriz por qualquer meio de comunicação.
O juiz determinou também que a stalker não poderia frequentar os mesmos lugares que a atriz, mantendo distância mínima de 500 metros, sob pena de prisão.
2023
Em junho de 2023, o Ministério Público ofereceu denúncia, que foi recebida pela Justiça, o que tornou a suspeita ré pela prática de perseguição contra Débora Falabella.
O juiz também determinou investigar a sanidade mental da mulher para saber se ela tinha ou não plena ciência dos atos que estava praticando.
Mas, em setembro de 2023, a suspeita descumpriu as medidas protetivas determinadas pelo juiz e entrou em contato com Débora Falabella tanto pelo Instagram quanto pelo WhatsApp.
Por descumprir a ordem, um mandado de prisão preventiva foi expedido em outubro daquele ano.
2024
Apenas em março de 2024, cinco meses depois da determinação do juiz e apreensão da atriz e sua família, a mulher foi presa pela Polícia Civil de Pernambuco por descumprir a medida protetiva.
A prisão ocorreu numa clínica psiquiátrica em Camaragibe, no Grande Recife, e a suspeita foi levada à Colônia Penal Feminina do Recife, no bairro da Iputinga, na Zona Oeste da capital.
Os advogados da perseguidora solicitou a revogação da prisão e alegou transtornos mentais indicando quadro de esquizofrenia e bipolaridade, mas a Justiça negou o pedido e reiterou a necessidade de realização de um exame psiquiátrico.
No final do mês, a mulher foi submetida a uma perícia psiquiátrica, sendo diagnosticada com esquizofrenia.
Após a divulgação do laudo pericial que a considerou inimputável, ou seja, pessoa incapaz de compreender a ilicitude de seus atos, a prisão preventiva da mulher foi revogada. Solta, a perseguidora deve cumprir todas as medidas cautelares de afastamento da atriz, determinadas pelo juiz sob pena de internação provisória.