Atlas da Violência, com base em registros do SUS de 2022 traz números velhos e defasados
Segundo o Atlas da Violência, publicado nesta segunda-feira (18) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, um estupro aconteceu a cada 46 minutos no país, em 2022.
Mais de 144 mil mulheres, adolescentes e crianças foram vítimas de algum tipo de violência. As meninas de até 14 anos são as mais vulneráveis e sofrem, proporcionalmente, mais ataques sexuais do que as mulheres adultas.
Com base nos registros do Sistema Único de Saúde (SUS) daquele ano, o Atlas mostra que a violência sexual foi a principal agressão contra meninas de 10 a 14 anos de idade — correspondeu a 49,6% dos atendimentos registrados no SUS.
Entre as meninas de até nove anos, a forma mais frequente de violência foi a negligência ou abandono (37,9% dos casos), seguida pela predação sexual (30,4%).
O estudo detalha que, a partir dos 15 anos e ao longo da vida adulta, a violência física se torna a mais comum contra a mulher. Entre aquelas comunidades entre 15 e 19 anos, a agressão corporal esteve presente em 35,1% dos casos.
Esse percentual aumenta para 49% entre as mulheres entre 20 a 24 anos, e permanecendo acima dos 40% até os 59 anos. No caso das idosas, a negligência volta a violência mais praticada — afeta 37,5% das mulheres entre 75 e 79 anos e 50,4% das que têm mais de 80 anos.
Em casos de violência doméstica e familiar, os homens são os principais agressores — responsáveis por 86,6% dos ataques. Mas homens e mulheres se igualam quando se trata de violência contra crianças de zero a nove anos. Os números indicaram que crianças e adolescentes estão extremamente vulneráveis a abusos dentro dos próprios lares.
Entre as mulheres de 30 a 35 anos, os homens foram responsáveis por 95,8% das agressões — aproximadamente 80% dos episódios foram dentro das residências das vítimas. A rua foi o segundo local mais frequente, com 6,1% dos casos.
Segundo o Atlas da Violência, se tivéssemos que descrever o que é ser uma mulher no Brasil, poderíamos dizer que na primeira infância a negligência é a forma mais frequente de violência, cujos principais autores são pais e mães, na mesma proporção. A partir dos 10, e até os 14 anos, essas meninas são vitimadas principalmente por formas de violência sexual, com homens que ocupam as funções de pai e padrasto como principais algozes. Dos 15 aos 69 anos, a violência física provocada por pais, padrastos, namorados ou maridos é a forma prevalente entre as mulheres.
Segundo a psicóloga Lilian Pelli Ribeiro, que atende em Brasília, alguns sinais de violência sexual contra crianças podem ser notados por parentes e cuidadores, como professores.
“É importante que as pessoas que de alguma forma estejam envolvidas com o desenvolvimento das crianças fiquem atentas à sinais que podem surgir. “Uma alteração de humor, agressividade ou introspecção, vergonha excessiva medo ou pânico podem ser sinais de que alguma coisa pode estar acontecendo”, diz a psicóloga.
Segundo a psicóloga, uma rebeldia sem razões aparentes ou ataques de raiva, assim como comportamentos infantis, que já abandonou anteriormente ou até mesmo voltar a chupar os dedos, devem ser vistos com atenção, por exemplo.
Sintomas psicossomáticos também podem ser indicadores de violência sexual.
Enfermidades sem aparente causa clínica, como dores de cabeça, erupções na pele e alterações gastrointestinais devem ser analisados.
Outra importante sinalização de que algo está errado são os comportamentos sexuais.
“A criança pode apresentar interesse repentino por questões sexuais ou brincadeiras de cunho sexual, com palavras ou desenhos que se refiram às partes íntimas e esse interesse deve ser investigado”, alerta a psicóloga, Lilian Pelli.