Documento do Ipea, vinculado ao Ministério do Planejamento e Orçamento, indica a tentativa de presença de pelo menos quatro facções criminosas no DF
A segunda capital mais segura do país, segundo aponta o Atlas da Violência 2024, está sendo ameaçada por quadrilhas de criminosos originárias de outros estados.
Por alguns anos, a quadrilha autointitulad Comboio do Cão (CDC), que se originou no Distrito Federal, atuou de maneira quase isolada dentro dos limites da capital da República e com resultados bem abaixo da criminalidade em outros entes da federação. No entanto, facções nacionais vêm buscando aumentar seus tentáculos e chegaram até Brasília e seus arredores. Pelo menos sete grupos criminosos exerceriam algum tipo de operação criminosa no DF e no Entorno.
O Atlas da Violência 2024, divulgado nesta terça-feira (18) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), revela que Brasília só perde para Florianópolis no quesito segurança.
A capital federal tem a segunda menor taxa de homicídio: 13%. A cidade só perde para Florianópolis em Santa Catarina que tem 8,9%. Salvador (BA), Macapá (AP) e Manaus (AM) figuram entre as capitais com o maior número de assassinatos.
Além do bando criminoso Comboio do Cão, o Distrito Federal identificou a presença de marginais ligados ao Primeiro Comando da Capital (PCC) e ao Comando Vermelho (CV). No fim de 2022, a polícia do DF detectou a chegada do Terceiro Comando Puro (TCP), proveniente do Rio de Janeiro.
Segundo o Atlas da Violência, “Além da presença do CV e do PCC, o DF sofre com a atuação da facção local Comboio do Cão, conhecida pelo modo sanguinário de agir dentro e fora dos presídios, responsável por dezenas de homicídios em 2022 e com conexão com traficantes da fronteira com o Paraguai. Como de se esperar pela localização geográfica, o crime na região possui relação totalmente imbricada com o tráfico do estado do Goiás”.
Existe ainda a sombra de outra facção criminosa que atua em regiões muito próximas de Brasília, inclusive no Entorno do DF. Amigos do Estado (ADE) é uma organização que opera no mundo do crime goiano com foco no tráfico de drogas. Eles são responsáveis por boa parte dos homicídios que ocorrem em Goiás – os municípios de Luziânia e Cristalina apresentam as maiores taxas das mortes violentas do estado.
Sobre a facção goiana, o Atlas da Violência aponta: “Parcela significativa dos homicídios são atribuídos a traficantes integrantes da facção Amigos do Estado (ADE), que fornecia drogas para o Comboio do Cão (originário do DF), movimentando mais de R$ 1 bilhão com tráfico e assaltos”.
Neste ano, a Polícia Federal, junto com a Força Integrada de Combate ao Crime Organizado do Distrito Federal (Ficco), realizou megaoperação contra a ADE, neutralizando a expansão dos marginais da quadrilha.
Outras facções criminosas
a Polícia do DF tem resultados positivos no combate ao crime organizado. Quadrilhas são desbarataas e desfeitas com seus líderespresos ou mortos, diferente do que acontece em outros estados, onde o governo é refém de marginais.
Apesar de não ser citada pelo relatório do Ipea, a Família do Norte (FDN), por exemplo, criada no Amazonas e considerada a terceira maior facção criminosa do país, tentou se fixar também em Brasília. Em 2019, por exemplo, cerca de 260 policiais civis do DF fizeram parte da Operação Gomorra e desarticularam os marginais que queriam ser um braço da FDN na capital federal.
O grupo foi preso acusado de tráfico de drogas, comércio ilegal de armas e furtos de celulares em grandes eventos e roubos. Hudson Maldonado, então delegado-chefe da 13ª DP (Sobradinho), confirmou, na época, a vinda de faccionados da FDN para criar uma célula criminosa. As apurações policiais flagraram ainda o acordo firmado entre integrantes da quadrilha para matar desafetos.
Uma operação desencadeada pelas polícias civis do Ceará (PCCE), de Goiás (PCGO) e do Distrito Federal (PCDF) revelou a existência de integrantes de uma facção criminosa que domina a maioria dos presídios cearenses, bem como boa parte de comunidades localizadas em Fortaleza.
A limpeza se entendeu ao entorno do DF. Na ocasião, as corporações do DF e Goiás prenderam um dos líderes da organização Guardiões do Estado (GDE) em Luziânia, no Entorno.
O alvo das polícias era Felipe Pereira Silva, mais conhecido como Felipe Cabeça. O criminoso estava escondido próximo ao DF havia quatro meses. Mesmo distante, o chefão da Guardiões do Estado ainda comandava uma onda de crimes no Ceará. Aliada do PCC e inimiga feroz do Comando Vermelho (CV), a facção GDE é conhecida por monopolizar o tráfico de drogas e ordenar homicídios em série contra seus rivais e ao tentar fugir para o DF e entorno, seu líder foi devidamente enquadrado e preso.
Comboio do Cão também é duramente combatido
De origem local, a facção é considerada responsável por uma série de crimes em diversas regiões administrativas do DF, sobretudo pela prática de crimes violentos em contexto de “guerra” pelo controle de territórios e pontos de venda de drogas, além de roubos e tráfico de armas de fogo.
Em 30 de abril de 2021, a PCDF prendeu um indivíduo considerado a principal liderança e um dos fundadores do grupo. A prisão ocorreu na cidade de Paranhos (MS), localizada na fronteira com o Paraguai. Em outubro do ano passado, o conjunto teve outro chefe detido pelas forças de segurança distritais. Luiz Gonzaga da Rocha, conhecido como Juninho, 36 anos, foi encontrado na praia de Pirangi do Norte, no município de Parnamirim (RN).
Líderes do PCC e CV na Penitenciária da Papuda no DF deixam forças de segurança em alerta
A partir de 2019, o DF passou a receber lideranças do PCC, do Comando Vermelho (CV) e da Família do Norte. Todos são considerados detentos de altíssima periculosidade e foram confinados na Penitenciária Federal de Brasília. A chegada mais expressiva às prisões do DF é a de Marcola. Ele é o líder máximo do PCC e voltou ao presídio da capital da República no início do ano passado.
O governo do Distrito Federal monitora e combate a instalação do crime organizado no DF. O GDF sabe que membros de organizações criminosas estão comprando comércios e residências em cidades no Entorno do DF, e pode gerar aumento de crimes como tráfico de drogas na capital federal.
Assim, tentativas de resgate desses marginais sempre foram frustradas no DF. A última em 2022 fez com que 11 criminosos fossem presos por tentarem soltar seus líderes da Papuda. As prisões ocorreram na operação que desarticulou uma operação milionária para dar fuga a Marcola.
Marcola e os 11 que tentavam resgatar ele da Papuda seguem presos.