Mulher responsável por aplicar a substância PMMA na modelo não tinha nenhum diploma ou formação para atuar na área estética
A morte da influenciadora digital é modelo Aline Ferreira, 33 anos revelou uma série de crimes cometidos pela clínica Ame-se em Goiânia e a a falsa médica Grazielly da Silva Barbosa.
A influenciadora brasiliense morreu depois de se submeter ao procedimento estético de preenchimento de glúteos com a substância chamada PMMA (polimetilmetacrilato), aplicado pela falsa biomédica Grazielly da Silva Barbosa, presa pela Polícia Civil do Estado de Goiás (PCGO).
Brasilienses acabam procurando procedimentos estéticos, odontológicos e cirúrgicos na capital goiana para fugir dos altos preços do mercado no Distrito Federal e se tornam vítimas fáceis de charlatães e falsários como Grazielly da Silva Barbosa.
A modelo foi enterrada na quinta-feira passada, (4), em clima de forte comoção com pedidos de justiça pelo assassinato da jovem que deixa dois filhos e marido inconsoláveis.
Segundo a Polícia Civil de Goiás, a morte de Aline Ferreira é um alerta sobre os extremos ocultos no mundo da beleza que atua com ausência de fiscalização, utilização de produtos e materiais não autorizados e muitas outras lacunas, além de falsos profissionais como Grazielly Barbosa.
A modelo faz parte da triste estatística de mulheres ludibriadas por padrões de beleza perfeitos, por propagandas e falácias.
Por meio de amigos, Aline conheceu Grazielly Barbosa, dona do centro de estética Ame-se, localizado no centro de Goiânia.
Nas redes sociais, a criminosa se apresentava como biomédica, mas ela apenas frequentou três semestres de medicina no Paraguai, e divulgava “inovações e métodos revolucionários” estéticos.
Grazielly abriu a falsa clínica em novembro passado e desde então funcionava de maneira irregular, sem alvará nem as licenças devidas e sem nenhuma fiscalização das autoridades de Goiânia ou de Goiás.
A arapuca montada pela criminosa ficava em terreno afastado e numa área considerada pouco segura e confiável. O prédio, que é pouco mais do que uma pequena loja, fica ao lado de um terreno baldio.
Agora está de portas fechadas e interditado por ausência de documentação e profissional com habilitação técnica.
curso superior de saúde
Aline foi para Goiânia com uma amiga para realizar o procedimento com Grazielly, na tarde de 23 de junho. Segundo a amiga da modelo, em momento algum, a dona do local mencionou sua formação, detalhou eventuais riscos que a intervenção poderia acarretar. Muito pelo contrário, disse que era algo tranquilo, simples e que tinha feito em outras pacientes.
Aline fechou um pacote de três sessões para a aplicação de 90ml do gel para aumentar suas nádegas, por R$ 3 mil.
Justamente o que atrai as vítimas é o baixo valor. Este procedimento no mercado do Distrito Federal gira em torno de 10 mil reais e só para pequenos volumes, muito menores do que os ofertados a vítima fatal.
O valor é mais de três vezes abaixo do mercado. Na primeira delas, em 23 de junho, colocou 30ml. “A autuada não fazia uma avaliação prévia dos pacientes. Os interessados nos procedimentos chegavam até à clínica, passavam pela intervenção estética e eram liberados. Tudo sem qualquer tipo de prontuário ou exames prévios”, afirmou Débora Melo, delegada-adjunta da Delegacia Estadual de Repressão a Crimes Contra o Consumidor (Decon) de Goiânia.
Segundo os familiares de Aline, a influencer passou mal no mesmo dia do primeiro procedimento.
Em Brasília, foi internada no Hospital Regional da Asa Norte (Hran), transferida a um hospital particular da Asa Sul e teve complicações após contrair uma infecção generalizada.
Na quarta-feira, os policiais civis da Decon e agentes da Vigilância Sanitária estiveram no centro estético para averiguar possíveis irregularidades e notaram um alto fluxo de pacientes. “Nossa intenção era ver as questões de legalidade do local, até porque não esperávamos encontrá-la lá, porque a família da vítima havia falado que a autuada teria diminuído o contato com os parentes e até desativado as redes sociais”, frisou a delegada.
Os investigadores descobriram que a clínica não tinha alvará de funcionamento e que Grazielly não era formada em nenhum curso superior na área da saúde. A falsa profissional foi questionada sobre a graduação em biomedicina.
A mulher não apresentou diploma ou certificado de nenhum curso ou especializações.
Mesmo se fosse biomédica, Grazielly não poderia injetar qualquer tipo de substâncias em pacientes, pois é uma função desempenhada por médico profissional.
Grasielly responde por quatro crimes: exercício ilegal da profissão, execução de serviço de alta periculosidade, indução do consumidor ao erro e lesão corporal seguida de morte.
A polícia agora quer saber onde a falsa biomédica comprava as substâncias e se recebia a ajuda de alguém para cometer os crimes.