Anac diz que avaliou programas de treinamento das empresas e apontou melhorias para três delas; mas o da Voepass ‘já se encontrava adequado’, segundo a agência
Um relatório finalizado em 2021 pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) identificou a necessidade de reforçar o treinamento de pilotos de aviões ATR quanto ao risco de perder o controle da aeronave sob condição de gelo severo durante os voos.
Uma aeronave do mesmo tipo caiu em Vinhedo, no interior de São Paulo na sexta-feira (9).. A perda de controle sob gelo severo é uma das hipóteses para a queda desta aeronave que matou 62 pessoas.
A recomendação do Cenipa à Agência nacional de Aviação Civil (Anac) veio após um incidente grave com um voo da Trip Linhas Aéreas, em 2013, em um ATR-72, modelo exatamente igual ao da tragédia da última semana.
Segundo o Cenipa, no caso de 2013, a tripulação perdeu o controle da aeronave na altura de Esplanada (BA) no momento em que passava numa região que apresentava condições de acúmulo de gelo.
“Houve uma avaliação inadequada acerca dos fatores que impactaram no desempenho da aeronave, o que prejudicou o reconhecimento da condição de severe icing (gelo severo) e resultou na adoção de medidas equivocadas para o gerenciamento daquela situação adversa”, apontou relatório do Cenipa.
Naquela época, a Anac avaliou os Programas de Treinamento Operacional (PTO) de todas as empresas que operavam a aeronave ATR e concluiu que três delas poderiam implantar melhorias em relação ao treinamento em condições de gelo. “O PTO da Voepass já se encontrava adequado“, afirmou a Anac.
Em nota, a agência informou que trabalhou no desenvolvimento de estudos para incorporação da filosofia UPRT, sigla de Treinamento de Prevenção e Recuperação de Atitudes Anormais.
“Esta norma define os procedimentos para que cada empresa desenvolva seu programa de treinamento para a prevenção e recuperação da perda de controle da aeronave, que deve ser aprovado pela Anac. As companhias encontram-se no período de transição, em fase de implantação“.
O manual do ATR aponta risco de perda de sustentação e giro sob condição de gelo severo.
O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) já extraiu todo o conteúdo das duas caixas-pretas da aeronave e prevê divulgar em 30 dias relatório preliminar sobre as causas da queda.
O incidente de 2013 aconteceu quando o ATR-72 da Trip estava a 16 mil pés (4.876 metros) de altitude. À época, o piloto declarou emergência e conseguiu reestabelecer o controle após a aeronave cair para 11 mil pés (3.352 metros).
“De acordo com dados obtidos na leitura do DFDR (Gravador Digital de Dados de Voo, em português), foi possível verificar que a aeronave voava no FL160 (16 mil pés) quando teve uma rápida variação de velocidade seguida de uma perda de 5.000 pés (1.524 metros) de altitude”, diz trecho do relatório do Cenipa sobre o incidente de 2013.