Israel ataca Hamas em Gaza e deixa mais de 70 mortes desde anúncio de acordo de cessar-fogo

Acordo de trégua, que prevê libertação de reféns em poder do Hamas e a retirada das tropas de Israel, deveria entrar em vigor no próximo domingo

Israel intensificou os ataques aéreos contra Gaza horas após o anúncio do acordo por Catar e Estados Unido, ocorrido ontem, quarta-feira (15).

Mais de 70 pessoas morreram na Faixa de Gaza desde o anúncio do acordo entre Israel e o grupo terrorista Hamas por um cessar-fogo na guerra no território, informou o serviço de emergência da Defesa Civil de Gaza nesta quinta-feira (16).

Um porta-voz do Exército israelense afirmou que está investigando os números informados pela Defesa Civil de Gaza.

Segundo balanço do Ministério de Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, divulgado na manhã desta quinta-feira, 81 mortes foram registradas no território nas últimas 24 horas em ataques israelenses, com 188 feridos. Com isso, o número oficial de mortos palestinos na guerra chega a 46.788.

De acordo com o órgão de Saúde, há várias vítimas sob os escombros e nas ruas que as equipes de ambulância e da Defesa Civil ainda não conseguiram socorrer.

Menino senta em escombro perto de acampamento para refugiados na Cidade de Gaza, em 16 de janeiro de 2025. . — Foto: Mahmoud Issa/Reuters

Menino senta em escombro perto de acampamento para refugiados na Cidade de Gaza, em 16 de janeiro de 2025. . — Foto: Mahmoud Issa/Reuters

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, acusou o Hamas nesta quinta-feira (16) de não respeitar os termos do cessar-fogo e causar uma “crise de última hora” no acordo. O Hamas nega.

Os palestinos pedem uma implementação mais veloz da trégua, que pode ser atrasada pelo impasse entre Israel e Hamas mencionado por Netanyahu.

“Perdemos casas a cada hora. Exigimos que essa alegria não desapareça, a alegria que foi desenhada em nossos rostos – não a desperdicem adiando a implementação da trégua até domingo”, disse o morador Mahmoud Abu Wardeh.

Um dos bombardeios israelenses atingiu a escola de al-Falah, transformada em abrigo para deslocados da guerra, na Cidade de Gaza, na parte central do enclave. Esse ataque matou quatro pessoas, incluindo duas crianças, até o momento e deixou 20 feridos, segundo autoridades palestinas.

Tamer Abu Shaaban afirmou à Reuters que sua sobrinha estava brincando no pátio do local quando o bombardeio ocorreu. Ela foi atingida nas costas por estilhaços e morreu.

“Essa é a trégua de que estão falando? Ela era uma garotinha, uma criança, brincando no pátio. O que ela fez para merecer isso?”, disse Shaaban.

Acordo de cessar-fogo em Gaza

O acordo de cessar-fogo entre Israel e Hamas entrará em vigor a partir de domingo (19). O tratado será implementado em fases, que ainda dependem de negociações. Enquanto isso, o governo de Israel deve votar o texto do acordo nesta quinta-feira (16).

Em linhas gerais, o acordo prevê o fim definitivo do conflito e a libertação de todos os reféns que ainda estão sob o poder do Hamas. Cerca de 100 pessoas que foram sequestradas pelo grupo terrorista em Israel, em outubro de 2023, continuam na Faixa de Gaza.

A primeira fase do acordo, que já está negociada, durará seis semanas e prevê a libertação de 33 reféns. Eles serão liberados aos poucos. Durante este período, Israel se compromete a retirar parte das tropas da Faixa de Gaza e a soltar prisioneiros palestinos.

A segunda fase do cessar-fogo começará a ser negociada a partir do início de fevereiro, enquanto a primeira etapa ainda estiver em vigor. A partir daí, Israel e Hamas tratarão da libertação dos demais reféns que estão com o grupo terrorista, incluindo os corpos daqueles que morreram.

Já a terceira e última fase também depende de negociações. Segundo o plano, nesta etapa serão acordados a reconstrução de Gaza e quem governará o território palestino.

Se tudo ocorrer dentro dos conformes, a implementação da última fase representaria um fim definitivo na guerra.

O primeiro-ministro do Catar, Mohammed bin Abdulrahman, pediu para que Israel e Hamas se comprometam a cumprir com o plano acordado.

Já o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, ressaltou a importância da entrada de ajuda humanitária para os civis palestinos que estão em Gaza e lembrou das famílias israelenses vítimas do terrorismo.

“Mesmo enquanto celebramos esta notícia, lembramos todas as famílias cujos entes queridos foram mortos no ataque do Hamas em 7 de outubro, e as muitas pessoas inocentes que perderam a vida na guerra que se seguiu. Já passou da hora de os combates terminarem e de o trabalho de construir a paz e a segurança começar”, disse em comunicado.

O governo de Israel afirmou que alguns detalhes do acordo ainda precisam ser afinados. Segundo a Reuters, a expectativa é que a maioria dos ministros israelenses vote a favor do texto, abrindo caminho para a implementação do tratado a partir de domingo.

Ataque d3 Israel após anúncio de acordo
Termos do acordo

1º etapa, que durará seis semanas: o cessar-fogo prevê que 33 reféns sob o poder do Hamas sejam libertados. Entre eles estão mulheres, crianças e homens acima dos 50 anos. Além disso:

  • Israel vai retirar aos poucos as tropas da Faixa de Gaza.
  • 600 caminhões com ajuda humanitária vão entrar todos os dias no território palestino.
  • Israel vai soltar 30 prisioneiros palestinos para cada refém civil libertado, além de 50 prisioneiros palestinos para cada militar israelense libertado.
  • A expectativa é que Israel solte cerca de mil prisioneiros nesta primeira etapa. As prioridades são mulheres e crianças.
  • Israel diminuará sua presença no corredor da Filadélfia – uma faixa de território ao longo da fronteira de Gaza com o Egito.
  • A implementação do acordo será garantida pelo Catar, Egito e Estados Unidos.

2º etapa, que ainda será negociada: conclusão da libertação dos reféns sob o poder do Hamas, incluindo a devolução dos corpos daqueles que morreram. Além disso:

  • Em troca, Israel libertará mais prisioneiros e detidos palestinos, incluindo 30 que cumprem sentenças de prisão perpétua.
  • Integrantes do Hamas que participaram do ataque de 7 de outubro de 2023 em Israel não serão libertados.
  • Forças de Israel serão totalmente retiradas da Faixa de Gaza.
  • Cessar-fogo passa a ser permanente.

3º etapa, que ainda será negociada: consiste nas negociações sobre a reconstrução de Gaza, que levaria ao fim da guerra. Porém, ainda existe um debate sobre quem comandará a região. Não há garantias de que o encerramento do conflito aconteça de fato.

Quem administrará Gaza após a guerra é uma incógnita nas negociações. Ao que tudo indica, essa questão foi deixada de fora da proposta atual pela complexidade e probabilidade de atrasar um acordo limitado.

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