Brasileiros denunciam que foram obrigados a ficar dentro de aeronave desligada e que foram agredidos com chutes e porretes
Brasileiros deportados dos Estados Unidos que foram algemados e acorrentados denunciam que sofreram agressões dos agentes do governo americano dentro do avião que trouxe eles para o Brasil.
“Eu fiquei 50 horas acorrentado pelo braço, barriga e pés. Sem poder ir no banheiro. Nós pedimos para sair porque estava muito quente e não deixaram. Me agrediram e me enforcaram”, relatou o vigilante Jeferson Maia.
O avião com os deportados, o primeiro do novo governo Donald Trump, saiu dos Estados Unidos e parou por algumas horas no Panamá. Em seguida, foi até Manaus (AM). Os deportados fizeram um protesto porque estavam trancados, a temperatura estava muito alta e queriam sair da aeronave. O destino final era Belo Horizonte (MG).
“Eles queriam que a gente esperasse sem água, sem comida, todo mundo apavorado”, conta o morador de Divinópolis, Aeliton Cândido. Famílias inteiras, incluindo crianças, estavam dentro do voo. Vários dos deportados exibiam marcas das algemas e correntes.
O deportado Luis Fernando Caetano Costa disse que testemunhou a agressão contra cerca de cinco pessoas dentro da aeronave. “Os meninos estavam todos algemados. Os caras meteram porrete sem dó. Jogaram o moleque no chão. Teve um menino que deram um golpe nele até desmaiar”, conta o brasileiro.
A aeronave fez conexão em Manaus (AM) antes de seguir para Belo Horizonte (MG). O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, desautorizou o uso de algemas e correntes, e os deportados foram transferidos para uma aeronave das Forças Armadas para concluir a viagem.
Vitor Gustavo da Silva, natural de Rondônia, disse que apanhou quando o voo chegou em Manaus, no Amazonas. Ele disse ainda que as condições do avião eram bem ruins. Vitor morou nos Estados Unidos durante 20 anos.
Denúncias graves
A ministra dos Direitos Humanos, Macaé Evaristo, esteve no aeroporto de Belo Horizonte para recepcionar os brasileiros deportados e chamou as denúncias de agressão de muito graves.
“As denúncias das pessoas que chegaram são muito graves. A gente tinha numa mesma aeronave famílias, crianças, crianças com autismo, com algum tipo de deficiência, que passaram por situações muito graves”, declarou a ministra.
Macaé disse que o ministério vai fazer um relatório para o presidente e para o Ministério das Relações Exteriores, com as denúncias dos brasileiros deportados. Além disso, o governo federal está em articulação com a Prefeitura de Belo Horizonte para acolher os repatriados.
“Os países têm suas políticas imigratórias, mas as suas políticas imigratórias não podem violar os direitos humanos. O Brasil sempre tratou com muito respeito toda a população, tanto refugiados que chegam no Brasil, quanto pessoas que nós temos que repatriar”.
Governo enviou avião da FAB
Na nota enviada neste sábado sobre o episódio, o Ministério da Justiça disse que decisão do presidente Lula de enviar um avião da FAB teve como objetivo garantir que os brasileiros deportados pudessem completar a viagem “com dignidade e segurança”.
“O Ministério da Justiça e Segurança Pública enfatiza que a dignidade da pessoa humana é um princípio basilar da Constituição Federal e um dos pilares do Estado Democrático de Direito, configurando valores inegociáveis”, afirmou o ministério.
A Polícia Federal (PF) também divulgou nota sobre o episódio. “Os brasileiros que chegaram algemados foram recebidos e imediatamente liberados das algemas pela Polícia Federal, na garantia da soberania brasileira em território nacional e dos protocolos de segurança em nosso país”, disse a PF.
Embaixada dos EUA
Sem dar mais detalhes, a embaixada dos Estados Unidos em Brasília informou:
“Os cidadãos brasileiros do voo de repatriação estão sob custódia das autoridades brasileiras. Continuamos em contato com as autoridades brasileiras a respeito do incidente.”
Leia a íntegra do que disse o Itamaraty:
“O Ministro Mauro Vieira reuniu-se esta noite em Manaus com o delegado Sávio Pinzón, superintendente interino da Polícia Federal no Amazonas, e com o major-brigadeiro Ramiro Pinheiro, comandante do 7º Comando Aéreo Regional.
Na reunião, foi efetuado relato detalhado sobre os incidentes no aeroporto Eduardo Gomes envolvendo cidadãos brasileiros transportados em voo de deportação do governo norte-americano.
A reunião subsidiará pedido de explicações ao governo norte-americano sobre o tratamento degradante dispensado aos passageiros no voo.”
wr883v
[…] brasileiros relataram condições desumanas durante todo o processo de deportação, incluindo agressões dos agentes de […]