Preso afirma que estava sendo coagido e pressionado a pagar propina para conseguir um laudo médico e ser beneficiado com prisão domiciliar por R$ 600 mil
A Justiça afastou um subsecretário da Secretaria de Administração Penitenciária (Seap-RJ) por suspeita de corrupção.
A investigação começou quando um preso denunciou que estava sendo coagido e pressionado a pagar propina para conseguir um laudo médico e ser beneficiado com a prisão domiciliar. Os pedidos, segundo ele, chegaram a R$ 600 mil.
foram afastados na decisão da 3ª Vara Especializada em Organização Criminosa, do último dia 10, o subsecretário de Tratamento Penitenciário, Lúcio Flávio Correia Alves, e os inspetores Thiago Franco Lopes, Aleksandro dos Santos Rosa e Márcio Santos Ferreira.
Promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco/MPRJ), com apoio do Grupo de Atuação Especializada em Segurança Pública (Gaesp/MPRJ), cumpriram 10 mandados de busca e apreensão. A Seap disse que foi notificada e que vai cumprir todas as determinações.
Cleiton Oliveira Meneguit enviou cartas à Justiça com detalhes do suposto esquema. “Abutres que só querem tirar proveito. Estou sendo coagido a todo momento”, escreveu o preso.
Cleiton é obeso e precisou fazer uma cirurgia para reduzir o estômago. Um laudo lhe daria o direito de prisão domiciliar, para ele se recuperar em casa por 4 meses. Ele contou que foi retirado da cela 2 vezes para tratar dos pedidos.
“Eles já me tiraram duas vezes para me exigir R$ 600 mil para me vender ou dar um laudo favorável”, relatou.

Transferências e ameaças
O detento contou, em depoimento, que antes do episódio de extorsão, ele já vinha sendo coagido e obrigado a pagar quantias para um grupo de funcionários.
As transferências bancárias foram enviadas à Corregedoria para comprovar os pagamentos. A vítima denunciou que havia uma organização criminosa, formada por policiais penais, atuando dentro da prisão.
O relatório produzido pela Corregedoria da Seap narra que, segundo o denunciante, o grupo era formado pelo então diretor do hospital, Thiago Franco Lopes, o subdiretor, Aleksandro dos Santos Rosa, e o chefe de segurança da unidade, Marcio Santos Ferreira.
Também são acusados de participar do esquema um médico, um enfermeiro, um nutricionista e advogados.
Visita inesperada
Em depoimento, o detento contou que os advogados foram até a casa dele “com o intuito de intimidar psicologicamente” a sua companheira.
A visita inesperada foi registrada pelo circuito interno da casa. No vídeo, os advogados Mônica Carvalho e Tarcísio Ayres aparecem sentados à mesa.
Três dias depois, eles estiveram em Bangu. O registro da visita faz parte da investigação. Segundo o relatório, os advogados conversam com o interno que denunciou a extorsão.

O encontro chamou atenção da Corregedoria porque eles não eram advogados do preso, e não informaram que pretendiam fazer a visita.
Após alguns minutos, se junta à conversa o subdiretor Aleksander dos Santos. Ele segura um papel nas mãos. Segundo a investigação da Seap, o papel poderia ser o laudo médico que o grupo tentava vender.
Um dia antes de visitar o detento, a dupla passou, segundo a investigação, 45 minutos no andar em que fica o gabinete do diretor. A visita também foi registrada pelas câmeras.
À época da denúncia, Thiago Franco Lopes disse que nunca ouviu falar de esquema nenhum de laudos. Falou que era diretor da unidade há 3 anos e que espera que a investigação mostre que nada de irregular foi feito.
Segundo Thiago, o preso não foi beneficiado por nada e tudo não passava de uma guerra política dentro da Seap.
A Fundação Saúde disse que, ao tomar conhecimento da investigação, determinou à empresa que presta serviço para a unidade o afastamento imediato dos três profissionais suspeitos, citados na sindicância.
