Espiões russos atuaram no território brasileiro ao longo de anos; investigações de agentes federais derrubaram esquema e Sergey Vladimirovich Cherkasov cumpre pena na Papuda
Sergey Vladimirovich Cherkasov, o espião russo que desde dezembro de 2022 cumpre pena na Penitenciária Federal de Brasília, é um preso discreto, bem comportado, que opta por ficar isolado dos outros detentos e que usa o tempo na cadeia para ler.
Segundo relatos de fontes ligadas ao sistema penitenciário federal, Cherkasov tem bom estado de saúde e não apresenta reclamações aos policiais penais que atuam na unidade.
O nome de Cherkasov voltou a ganhar destaque internacional nesta quarta-feira (21) depois que o jornal “The New York Times” publicou uma reportagem em que trata do uso do Brasil pelo governo russo como plataforma para formação de espiões.
A rotina dele só é interrompida quando recebe visitas. Apenas três pessoas comparecem à penitenciária de Brasília para visitá-lo: o advogado, um homem que se apresenta como amigo de Cherkasov, e um representante do consulado da Rússia.
A investigação do jornal identificou uma série de cidadãos russos que vieram para Brasil e que passaram a viver como cidadãos brasileiros. Cherkasov é um deles, se apresentava como Victor Muller Ferreira. Investigação da Polícia Federal descobriu que ele recebia ajuda de um funcionário da diplomacia russa no Brasil.
A escolha do Brasil, segundo investigadores, se deve ao valor do passaporte brasileiro, que é aceito em um número grande de países, muitos deles sem a necessidade de visto. Além disso, como o Brasil é um país altamente miscigenado, os russos conseguiam se passar por brasileiros sem gerar desconfianças.
Ao longo dos últimos anos, agentes espiões russos atuaram no Brasil fingindo ser cidadãos brasileiros. Uma operação da Polícia Federal, iniciado há três anos, investigou os mecanismos do esquema da “fábrica de espiões” no país. Os detalhes do caso foram revelados nesta quarta-feira (21) em reportagem do jornal americano The New York Times.
Por meio de disfarces, os agentes russos poderiam ir para outros países, como Estados Unidos e nações do continente europeu e do Oriente Médio. Em prol de autenticidade, os profissionais russos abriram empresas no país e também assumiram relacionamentos amorosos com pessoas brasileiras.
Um a um, os espiões passaram a ser identificados pela contra inteligência federal nos últimos três anos, de forma silenciosa e metódica. O padrão usado pelos profissionais russos, com documentos falsos, foi o ponto de partida.
Usando o documento brasileiro, Cherkasov chegou a estudar na Irlanda e nos Estados Unidos. Em abril de 2022, ele foi barrado ao tentar entrar na Holanda, onde pretendia trabalhar no Tribunal Penal Internacional (TPI). A recusa dos holandeses aconteceu após alerta de autoridades norte-americanas, que já suspeitavam do disfarce do espião.
O russo foi deportado para o Brasil, onde acabou preso e processado por uso de documento falso. Na sequência, o governo de Vladimir Putin pediu a extradição dele, alegando se tratar de traficante procurado no país. Ouvido, Cherkasov optou por ser enviado à Rússia.
A extradição de Cherkasov para Rússia já foi autorizada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Entretanto, foi condicionada ao fim das investigações da Polícia Federal contra ele, que incluem suspeitas de corrupção e espionagem.
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Reportagem do jornal americano The New York Times diz que a Rússia usa o Brasil como ‘fábrica’ de espiões — Foto: Reprodução/NYTimes
Leitor voraz
Enquanto aguarda o desfecho das investigações e a extradição, na cadeia Cherkasov se dedica basicamente à leitura. De acordo com fontes do sistema penitenciário federal, apenas em 2025 o russo já requisitou 38 livros (veja a lista abaixo).
Entre as obras lidas pelo russo estão livros de franquias famosas, como “Star Wars” e “Herry Potter”.
Chekasov também leu “O Regresso”, que fala da jornada de um caçador em busca de vingança contra um grupo que o abandou para morrer após o ataque de um urso.

