CNJ manda vasculhar tudo que ele tocou nos últimos cinco anos
A Justiça brasileira, famosa por sua morosidade, enfim conheceu um milagre: a sentença relâmpago de 16 minutos. E o autor dessa façanha não poderia ser outro senão o juiz Glauco Coutinho Marques, que agora tem seu próprio fã-clube no Conselho Nacional de Justiça (CNJ) — ainda que formado por corregedores, promotores e investigadores que o acompanham de perto.
Em fevereiro, o corregedor nacional Mauro Campbell Marques resolveu que a mágica jurídica de Glauco, que aparece nas redes sociais com.pinta de galã milionário de Hollywood, merecia mais atenção. Determinou ao Tribunal de Justiça da Paraíba (TJPB) uma correição extraordinária em todas as varas por onde o juiz passou nos últimos cinco anos. Afinal, se ele conseguiu resolver um processo em 16 minutos, imagine o que pode ter feito com o resto.
A decisão faz parte de uma Reclamação Disciplinar que acusa Glauco de, entre outras proezas, emitir decisões contrárias a aposentados em um processo que tramitava em Gurinhém (PB). Sim, justamente aqueles que, em tese, deveriam ser protegidos — mas que, nas mãos de Glauco, encontraram uma Justiça ligeira, porém injusta.
A denúncia, protocolada em setembro de 2024, queria mais: afastamento imediato e abertura de um Procedimento Administrativo Disciplinar (PAD). Motivo? Supostas relações promíscuas com advogados da causa — tanto os declarados quanto um misterioso “advogado oculto”. A essa altura, faltou só o roteiro da Netflix.
Entre as alegações, estão infrações disciplinares que, se confirmadas, dariam inveja a roteiristas de drama jurídico: uma liminar concedida de forma suspeita, com direito a nomeações de gestores judiciais que — surpresa! — teriam ligações com o próprio juiz. E, como não poderia faltar em uma boa história de bastidor, o detalhe saboroso: R$ 200 mil em honorários advocatícios que orbitam o caso.
Glauco acabou afastado de Gurinhém meses depois da denúncia, mas não por cortesia do CNJ. Foi a Operação Retomada, deflagrada em dezembro de 2024, que tratou de tirá-lo do tabuleiro, investigando fraudes em decisões que favoreciam um grupo acusado de arrancar dinheiro de aposentados na Paraíba. O PAD, no entanto, ainda aguarda seu grande momento de estreia.
Mas o enredo não para por aí. A Operação Retomada o descreve como “figura central” de um esquema que, entre empresários, advogados e servidores, buscava decisões judiciais sob medida. O truque? Acelerador de tempo jurídico: em um sábado, 8 de junho de 2024, a petição entrou às 11h10. Às 11h26, o veredito já estava prontíssimo. Justiça que dorme não protege ninguém — mas essa parece não ter nem piscado.
Infelizmente para Glauco, em fevereiro de 2025 uma juíza mais cética anulou a decisão-relâmpago. Motivo: os supostos associados da ação não tinham qualquer vínculo com Gurinhém — nem com a Paraíba. Estavam espalhados pelo Brasil, como se o fórum da cidade tivesse virado polo nacional da Justiça Expressa.
A defesa, sempre diligente, alega que tudo não passa de um enorme mal-entendido. Segundo o advogado de Glauco, o juiz “sempre esteve disponível para contribuir com a Justiça” (tanto que a entregou em 16 minutos) e não há qualquer prova de relações indevidas com advogados. Tampouco há movimentações financeiras suspeitas — nem uma conversa comprometedora.
E mais: dos centenas de processos levantados pela investigação, Glauco só cuidou de pouco mais de uma dezena. Ou seja, se houve irregularidade, foi com moderação.
“Em alguns casos, aliás, tamanha foi a velocidade no curso do processo que, entre o protocolo inicial e o julgamento, passaram-se apenas poucos minutos, como ocorreu com o processo em que a petição inicial foi aviada às 11h10 do dia 08 de junho de 2024 (um sábado) e a sentença foi prolatada às 11h26 do mesmo dia”, diz trecho do processo no CNJ.
Em fevereiro de 2025, no entanto, a Justiça anulou a decisão relâmpago. Ao analisar o mesmo processo e os mesmos documentos que Glauco, a juíza verificou que “os possíveis associados, em sua maioria, não têm vínculo algum com a comarca de Gurinhém, sequer com o Estado da Paraíba, pois residem em outros Estados da Federação”, um milagre inexplicável.
O enredo ainda está longe do fim. Mas, enquanto aguardamos os próximos capítulos, uma coisa é certa: a Justiça pode ser cega, mas com Glauco Marques ela também é veloz. Resta saber se foi justa.
O juiz, claro, nega todas as irregularidades.

