Informações também foram repassadas ao Ministério da Justiça sob gestão de Flávio Dino um dia antes do vandalismo na Praça dos Três Poderes
Em depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF) nesta terça-feira (27), Saulo Moura da Cunha, ex-diretor-adjunto da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), afirmou que a agência produziu e enviou relatórios de inteligência ao governo de transição de Luiz Inácio Lula da Silva, alertando sobre a presença de indivíduos com discursos extremistas nos acampamentos em frente a quartéis-generais do Exército em diversas cidades, incluindo Brasília e Rio de Janeiro, antes dos atos violentos de 8 de janeiro de 2023.

Segundo Cunha, os relatórios foram encaminhados ao Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e à Polícia Federal (PF) durante o período de transição governamental.
Ele destacou que, embora a Abin não tenha recebido informações de outros órgãos sobre os acampamentos, a própria agência monitorava as manifestações por conta de seu caráter antidemocrático.
Na véspera dos ataques, em 7 de janeiro, a Abin recebeu informações da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) indicando um aumento significativo no número de ônibus se dirigindo a Brasília, o que sugeria uma mobilização de grande porte. Cunha afirmou que, diante dessas informações, a Abin emitiu alertas sobre a possibilidade de invasão e depredação de prédios públicos, incluindo o Congresso Nacional.
O ex-diretor também mencionou que, na manhã do dia 8 de janeiro, a Abin já tinha conhecimento da chegada de mais de 100 ônibus à capital federal, o que representava um contingente de mais de 5 mil pessoas. Ele ressaltou que, embora os analistas ainda tivessem dúvidas sobre a intenção dos manifestantes de se deslocarem até a Esplanada dos Ministérios, a dimensão da mobilização já indicava um potencial risco.
Cunha prestou depoimento como testemunha de defesa do ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Anderson Torres, no processo que apura uma suposta tentativa de golpe de Estado e a manutenção de Jair Bolsonaro no poder. A audiência foi conduzida pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF.
O depoimento de Cunha ocorre em meio a uma série de oitivas de testemunhas de defesa de Torres, previstas para esta semana no STF. Entre os nomes que devem ser ouvidos estão ex-ministros e delegados da Polícia Federal.
A atuação da Abin e de outros órgãos de inteligência nos dias que antecederam os ataques de 8 de janeiro tem sido objeto de investigação no âmbito da Operação Lesa Pátria, que apura a responsabilidade de financiadores, participantes e organizadores dos atos golpistas.
O caso segue em análise pelo STF, que busca esclarecer as circunstâncias que levaram aos ataques às sedes dos Três Poderes e identificar possíveis omissões ou falhas na atuação dos órgãos de segurança e inteligência.

