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Mensagens indicam entrega de dinheiro vivo a assessor ligado a ministros do STJ

R$ 4 milhões repassados da empresa de Andreson a uma empresa em nome da esposa de Márcio Toledo Pinto, assessor do STJ que trabalhou nos gabinetes das ministras Isabel Gallotti e Nancy Andrighi estão sob investigação

A Polícia Federal investiga um esquema de corrupção que atinge diretamente gabinetes de ministros do STJ (Superior Tribunal de Justiça), com foco em repasses milionários e entrega de dinheiro vivo a assessores. As suspeitas recaem sobre a atuação do lobista Andreson de Oliveira Gonçalves e do advogado Roberto Zampieri, assassinado no fim de 2023 em Cuiabá, que, segundo a PF, integravam uma rede de corrupção para influenciar decisões judiciais.

A apuração começou após o CNJ (Conselho Nacional de Justiça) identificar mensagens comprometedores no celular de Zampieri. O conteúdo apontava acesso prévio a minutas de decisões do STJ, o que levantou suspeitas de que assessores de ministros passavam informações sigilosas ao grupo. A PF passou então a aprofundar as investigações, identificando a atuação direta de servidores públicos dos gabinetes de magistrados.

Perícias nos dispositivos de Zampieri revelaram novos diálogos. Em uma mensagem enviada via WhatsApp em 9 de setembro de 2023, ele relata ter feito uma entrega a um chefe de gabinete de um ministro do STJ, ainda não identificado:
“Vim conversar com o chefe de gabinete do ministro, tive que vir de carro para trazer uma encomenda dele.”
Para a PF, trata-se de uma referência à entrega de dinheiro em espécie.

Mensagem de Roberto Zampieri enviada a um interlocutor em 9 de setembro de 2023

Em outra conversa, Zampieri é mais direto ao tratar da necessidade de repasses vultosos para influenciar decisões no tribunal:


“Vocês têm que preparar uns 20 milhões pra investir lá em cima, e aí resolve. Caso contrário é perigoso.”

Mensagem de Zampieri a um interlocutor que o procura para tratar de um processo no STJ

A investigação revela que entre setembro de 2019 e março de 2022, Zampieri sacou R$ 8,2 milhões em dinheiro vivo, conforme dados do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras). Parte desses valores pode ter sido usada para subornar servidores ligados ao STJ.

Segundo relatório da Polícia Federal encaminhado ao STF, o grupo criminoso montou uma complexa rede financeira e empresarial de lavagem de dinheiro, com o objetivo de ocultar a origem dos pagamentos ilícitos:
“Com o aprofundamento das apurações, especialmente em razão da análise mais aprofundada dos dados financeiros disponíveis, a Polícia Federal identificou a existência de uma sofisticada rede financeira-empresarial de lavagem de dinheiro, estruturada no intuito de dissimular os pagamentos das ‘propinas’ para a corrupção das decisões judiciais, fazendo romper, efetivamente, qualquer vinculação direta entre o agente corruptor e o servidor público corrupto.”

Um dos alvos da PF é João Batista, auxiliar de serviços gerais de Andreson, apontado como responsável por parte dos repasses em espécie. Ele movimentou R$ 2,6 milhões entre 2019 e 2023 e sacou cerca de R$ 800 mil apenas entre 2020 e 2021. Na operação de busca e apreensão da semana passada, João Batista não foi localizado, mas teve R$ 2,6 milhões bloqueados em suas contas bancárias.

As investigações também analisam o uso de doleiros — em especial um de São Paulo que prestava serviços a Zampieri — além da emissão de boletos falsos e o uso de faturas de cartão de crédito fraudulentas, mecanismos usados para disfarçar o pagamento de propinas.

A ligação direta com gabinetes de ministros ganhou força após a descoberta de um repasse de R$ 4 milhões da empresa de Andreson a uma empresa em nome da esposa de Márcio Toledo Pinto, assessor do STJ que trabalhou nos gabinetes das ministras Isabel Gallotti e Nancy Andrighi. Para a PF, o depósito seria uma forma indireta de pagamento de propina.

O aprofundamento da apuração agora busca confirmar se as movimentações financeiras estão relacionadas ao pagamento de despesas pessoais de assessores dos ministros e se há envolvimento direto de membros da corte nos atos ilícitos. A Polícia Federal não descarta a possibilidade de desdobramentos que atinjam mais integrantes do tribunal.


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