INSS esconde “Filaço Nacional”: mais de 10 milhões de pedidos encalhados na burocracia incompetente

Se a fila oficial já é um vexame, a real é um colosso: 4 vezes maior, com gente esperando quase 3 anos enquanto a autarquia finge que é tudo normal e libera as farras de gatunos

Por Victório Dell Pyrro

O Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), esse titã da eficiência pública, conseguiu um feito digno de Guinness: escondeu atrás de burocracias, eufemismos e malabarismos estatísticos uma fila de mais de 10 milhões de pedidos pendentes de análise. Isso mesmo. Dez milhões. Mas calma, só 2,7 milhões aparecem na “fila oficial”. O resto? É mágica: sumiram da conta.

Segundo dados inéditos obtidos pelo BSB Revista, a “fila real” do INSS em março de 2025 revela um cenário em que praticamente todo mundo que depende do Estado está de castigo no limbo digital da autarquia. São 39 tipos de solicitações empilhadas em alguma gaveta virtual, esperando pacientemente desde o século passado.

Como o INSS esconde a bagunça: o truque do “não entra na conta

A fila oficial só considera aposentadorias, pensões, auxílio-reclusão, salário-maternidade, benefícios por incapacidade e assistenciais, e algumas migalhas da legislação específica (BLE). O resto? Joga na conta de “não entra”.

Seguro defeso? Fora.

Recursos contra decisões do próprio INSS? Também não aparecem.

Revisões de benefícios? Não mesmo.

Processos por suspeita de fraude? Nem pensar em deixar publico.

Veja que o seguro defeso está represado, mas o número é jogado para debaixo do tapete, e é um benefício pago a pescadores artesanais que são proibidos de pescar durante o período de reprodução dos peixes — sim, até os peixes têm mais proteção que os cidadãos.

Aliás, os pedidos de recurso contra decisões do INSS ocupam o segundo lugar no ranking dos encalhes, mas, veja só, continuam invisíveis na “fila oficial”.

10 milhões de pedidos, 468 dias de espera e um discurso pronto

Ao todo, são 10.146.658 pendências. Mais de 7,3 milhões delas estão empacadas há mais de 45 dias, o prazo legal para o INSS dar uma resposta. Spoiler: não dão.

O tempo médio de resolução? 468 dias — ou seja, mais de um ano e três meses para dizer “sim” ou “não”. E, como se não fosse suficientemente absurdo, alguns casos levam até três anos para se resolver. Porque, afinal, o tempo é uma ilusão quando se trata de direitos sociais.

Em nota, o INSS responde com a clássica esfarrapada institucional:

Os demais itens possuem natureza distinta e, por serem demandas internas, sazonais ou de outros órgãos, não compõem a estatística.

Ah tá. Se o pedido for importante, ele vira “sazonal” e some do relatório. Estratégia digna de picadeiro.

Ranking dos esquecidos: a fila oculta dos que não importam

Além dos campeões da fila invisível já citados, a autarquia também acumula:

Mais de 1 milhão de pendências no MOB, o Monitoramento Operacional de Benefícios, que visa investigar fraudes. Ou seja, é o setor onde “se tiver fraude, a gente demora mais ainda”.

Pedidos de revisão de benefícios (5° lugar na fila geral), também ignorados na fila oficial.

“Qualificação da folha” (6° lugar), que corrige erros de cadastro e impacta diretamente no valor dos benefícios. Pra resolver isso? 1.145 dias — quase 3 anos.

Demanda Tempo médio de espera

Recursos contra negativas 845 dias
Seguro defeso 356 dias
Pendências do MOB 853 dias
Revisões Varia, mas não entram
Qualificação da folha 1.145 dias (!)

Promessa de campanha: agora em versão “já volto”

Durante a campanha de 2022, o presidente Lula prometeu zerar a fila do INSS. Em vez disso, a fila oficial cresceu, atingindo o recorde histórico de 2,7 milhões de pedidos em março deste ano. Em abril, a fila teve um alívio tão simbólico quanto inútil: caiu para 2,67 milhões. Palmas, por favor.

O recorde anterior foi em 2019, com 2,4 milhões, quando o INSS Digital jogou tudo que era atendimento agendado na conta da fila e a multiplicou por dois. Em 2024, o número de pedidos caiu para 1,4 milhão. Mas, desde então, a tendência é clara: subir como foguete e descer como paraquedas.

Culpa de quem? Dos servidores e da tecnologia (ou da falta deles)?

Segundo servidores do INSS (os que ainda não pediram as contas), a falta de estrutura, tecnologia de ponta (leia-se: computadores que liguem e sistemas que funcionem) e gente para trabalhar são grandes vilões também.

O presidente do INSS, Gilberto Waller Júnior, apontou greves e a alta demanda do BPC como fatores para o caos. Prometeu mutirões a partir de junho. A julgar pelo histórico da autarquia, só se for mutirão de prometer.

Resumo da ópera: o INSS é hoje uma mistura de Kafka com “A Praça é Nossa”. Se você precisa de um benefício, traga uma cadeira, água e um bom advogado. Se for pescador, idoso, deficiente, ou só mais um brasileiro tentando não ser engolido pelo sistema — paciência. O INSS te vê. Lá de longe. De binóculo, mas com advogados capazes de derrubar e empurrar seus pedidos com a barriga até no judiciário.


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