Enquanto Poze vai voltar a curtir a liberdade rntre metralhadoras, ouro e cocaína, recém-conquistada após fazer apologia ao crime, sua companheira é investigada por movimentar quase R$ 1 milhão de um esquema ligado ao Comando Vermelho. A Justiça, mais uma vez, parece ter confundido toga com venda nos olhos.
Por Victório Dell Pyrro
Mal esfriou o banco do Juiz que deu a canetada para soltar em poucos dias o acusado por apologia ao crime e associação com o tráfico, MC Poze do Rodo, a polícia está de novo na casa do marginal.
jEle já, já poderá voltar a gravar stories e celebrar a liberdade. Afinal, nesta segunda-feira (2), a Justiça — sempre tão compreensiva com celebridades de vocabulário limitado, mas conexões vastas, decidiu soltá-lo, em mais uma demonstração de que a letra da lei, no Brasil, às vezes rima com no mínimo omissão.
Mas o roteiro da semana do casal Poze acaba de ganhar novo capítulo: hoje, terça-feira (3), foi a vez de Vivi Noronha, influenciadora e companheira do funkeiro do crime organizado, entrar para o elenco de uma nova operação policial. Ela é investigada por envolvimento direto num esquema de lavagem de dinheiro que movimentou R$ 250 milhões para o Comando Vermelho. Isso mesmo: um quarto de bilhão de reais, lavados com a mesma leveza com que se lava um shortinho de academia.
De acordo com a Polícia Civil, a senhora do Rodo teria recebido quase R$ 1 milhão em depósitos diretamente ligados ao traficante Fhillip da Silva Gregório, o “Professor” — fornecedor de armas e gestor informal do crime organizado, que morreu no último domingo (1º), mas continua gerando conteúdo jurídico de além-túmulo.

Poze sairá hoje ainda pela porta da frente, e a polícia voltou pela porta dos fundos da casa dele.
O timing da Justiça é digno de um roteirista de comédia: num dia, liberta-se um homem investigado por glorificar o tráfico de drogas; no outro, o mesmo endereço residencial vira alvo de busca e apreensão por lavagem de dinheiro do Comando Vermelho. Ironia? Coincidência? Ou apenas mais um reflexo da política criminal brasileira, onde o argumento da “liberdade provisória” parece mais sólido que qualquer denúncia do Ministério Público?
Aliás, o juiz que determinou a soltura de Poze poderia, com igual criatividade, pedir música no Fantástico: são tantos os réus soltos sob sua caneta que ele já parece atuar mais como curador de reality show do que como representante do Judiciário.
E enquanto a polícia se desdobra para rastrear movimentações financeiras feitas com supostos “laranjas”, o sistema jurídico parece feliz em entregar limões — bem azedos — à sociedade.
Apologia ao crime virou liberdade artística? Lavagem de dinheiro agora é influencer marketing?
A decisão de soltar Poze do Rodo, que há poucos dias exaltava facções criminosas em vídeos abertamente publicados, passa uma mensagem cristalina: se o microfone for alto o bastante, o Código Penal vira letra morta. E se a conta bancária da sua esposa recebe dinheiro do tráfico, tudo bem — desde que a legenda no Instagram esteja com a hashtag #gratidão.
Enquanto isso, a polícia trabalha dobrado. Primeiro para prender, depois para explicar por que teve de voltar tão cedo ao mesmo endereço.
Justiça no Brasil: sempre presente, mas nunca no mesmo dia.


[…] pela Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE). Segundo o órgão, os eventos de Poze são utilizados estrategicamente pela facção criminosa para lavagem de dinheiro, aumento de lucros com entorpecentes, compra de armas e fortalecimento do domínio […]