Investigado por movimentar milhões e lavar dinheiro do tráfico, Alex Amaro de Oliveira, o Barba, ocupou função central na facção após morte de Elias “Palito”, autor de áudios com ameaças ao ex-ministro Sergio Moro, motivadas pela transferência de lideranças do PCC para presídios federais de segurança máxima
A Polícia Civil de São Paulo prendeu nesta quarta-feira (25) Alex Amaro de Oliveira, conhecido como Barba, apontado como o atual tesoureiro do Primeiro Comando da Capital (PCC). Ele assumiu o cargo após a morte de Elias Roberto Pereira, o “Palito”, criminoso que teve áudios interceptados pela Polícia Federal (PF) em que ameaçava o então ministro da Justiça Sergio Moro por causa do endurecimento no regime de cumprimento de pena e a transferência de lideranças da facção para presídios federais.
A prisão de Barba foi efetuada em um apartamento de alto padrão no bairro Morumbi, na zona sul da capital paulista, e é resultado de uma ampla operação da Polícia Civil que investiga o braço financeiro da facção. A captura do criminoso se deu após o aprofundamento de investigações conduzidas pela 2ª Delegacia de Investigações sobre Entorpecentes (Dise), que atua na Baixada Santista.
“Ele assumiu a função de tesoureiro depois da morte do criminoso chamado Palito, que ficou conhecido nacionalmente por ter ameaçado o doutor Sergio Moro”, explicou o delegado Leonardo Rivau em coletiva de imprensa.

Tentativa de atentado contra Sergio Moro
Elias “Palito”, assassinado em novembro de 2024, chegou a ser alvo de investigações da Polícia Federal por envolvimento direto em um plano de atentado contra o senador Sergio Moro. O plano foi descoberto em março de 2023, quando a PF deflagrou a Operação Sequaz, que desmantelou uma célula do PCC responsável por planejar execuções de autoridades públicas, entre elas o ex-ministro da Justiça. As motivações envolviam, principalmente, a transferência de lideranças do PCC para presídios federais em 2019 – ato assinado por Moro à época no comando do ministério – e medidas de endurecimento das regras para visitas e comunicação dos detentos.
Interceptações telefônicas e trocas de mensagens apontaram Palito como um dos articuladores do plano. Em um dos áudios, Elias criticava duramente Moro: “Esse Moro aí, mano, esse cara é um filho da p*** mesmo. Ele veio pra atrasar”, dizia, indignado com a transferência de Marcola e outros 21 líderes da facção para presídios federais.
O grupo pretendia matar o senador, sequestrar seus familiares e ainda executar outras autoridades ligadas ao sistema de Justiça e Segurança Pública.
Ascensão de Barba
Com a morte de Palito — executado com vários tiros em um bar no bairro Jardim São Luís, na capital paulista, em circunstâncias que indicam acerto de contas interno — Barba foi alçado à posição de tesoureiro do PCC. A esposa de Palito contou à polícia que o marido foi morto por dois homens em uma motocicleta, após um desentendimento com um cliente no bar da família.
Segundo o delegado Rivau, Barba teve uma ascensão rápida. “Ele saiu de uma comunidade carente e passou a viver em um apartamento de altíssimo padrão no Morumbi. Essa ascensão está diretamente ligada à posição que ocupava na facção”, afirmou.
Lavagem de dinheiro e sistema de vigilância clandestino
A operação que prendeu Barba também levou à apreensão de documentos e equipamentos usados na lavagem de dinheiro oriundo do tráfico de drogas. A polícia encontrou um verdadeiro escritório do crime no apartamento, com anotações contábeis detalhando a movimentação de até R$ 50 mil por ponto de venda de drogas por dia, além de joias, relógios de alto valor e dois veículos de luxo avaliados em mais de R$ 300 mil cada.
Uma das descobertas mais preocupantes foi a existência de uma central clandestina de monitoramento, com câmeras instaladas em favelas da capital. O aparato servia para vigiar a movimentação policial e garantir a segurança da rede de tráfico e dos chefes da facção.
“Tudo leva a crer que ele utilizava dinheiro do crime para adquirir bens em nome de laranjas ou disfarçados, o que configura lavagem de capitais”, disse o delegado.
Operação e desdobramentos
A prisão de Barba ocorreu no contexto de uma megaoperação do Deinter-6, que mobilizou policiais civis em 24 cidades da Baixada Santista e do Vale do Ribeira. Foram 36 presos em flagrante, 11 adolescentes apreendidos, além do cumprimento de 68 mandados de busca e apreensão e 29 mandados de prisão.
Foram apreendidos 36 veículos, peças de motocicletas usadas em desmanches, quatro armas de fogo e 78 kg de entorpecentes. A operação também localizou um desmanche clandestino de motos em frente ao Cemitério do Paquetá, em Santos (SP), e prendeu um homem que confessou um homicídio por vingança.
A prisão de Barba é mais um desdobramento da luta das autoridades contra o núcleo financeiro do PCC, setor responsável por manter viva a estrutura logística, jurídica e operacional da facção. Segundo fontes da inteligência policial, o enfraquecimento do setor financeiro é um dos principais objetivos das investigações que miram a facção.
Reação de Sergio Moro
Procurado, o senador Sergio Moro (União-PR) reiterou que a firmeza no combate ao crime organizado é “irrenunciável”. Em nota, afirmou: “As ameaças e os planos para me eliminar só demonstram que estávamos no caminho certo. O combate ao crime exige coragem, coordenação e o apoio irrestrito da sociedade e das instituições.”
Moro voltou a defender a manutenção das lideranças do PCC em presídios federais de segurança máxima e reiterou seu apoio à atuação integrada das forças policiais e de inteligência para enfraquecer o poder da facção.

