Você paga a conta do “Gilmarpalooza” com jatinho da FAB

Por Victório Dell Pyrro

Ora veja só. Você que não sabe mais onde gastar tanto dinheiro que sobra no fim de cada mês, está pagando para uma turminha da pesada viajar de jatinho para Portugal. Isso, gente que deveria estar trabalhando, mas que resolveu dar uma esticada à Europa às suas custas.

O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, embarcou pomposamemente e com muito gel no cabelo na noite de ontem (30) rumo a Lisboa em um jatinho da Força Aérea Brasileira (FAB).

Motta não foi para tratar de um grave problema nacional, não para representar o país em uma missão diplomática, mas para participar do Fórum Jurídico de Lisboa — conhecido por ser uma chacota propiciada por figurões da política como “Gilmarpalooza”, uma espécie de retiro de luxo travestido de encontro acadêmico ou seja láo que for essa festinha que já teve dinheiro até de Itaipu, ou seja do seu bolso, da sua continha barata de energia elétrica.

A aeronave usada por Motta e seus convidados foi um Legacy VC-99, modelo com capacidade para até 15 passageiros e que partiu, segundo relatos, completamente lotada. Não se sabe exatamente quem foram os ilustres da “carona aérea de luxo”, já que até agora a Câmara, que tem a obrigação legal de informar quem viajou, não divulgou a lista de passageiros. Transparência? Só no discurso oficial.

O pretexto da viagem é um painel sobre reforma administrativa. Mas em vez de debater a contenção de gastos públicos no Brasil — que seria o mínimo num evento desses —, o presidente da Câmara usa recursos públicos para atravessar o oceano no nosso jatinho, acompanhado de assessores e colegas, a fim de posar ao lado de ministros do Supremo e se aquecer sob os holofotes de Lisboa.

Tudo isso pago por quem? Pelo contribuinte, você, é claro.

A conta, como sempre, sobra para o povo brasileiro.

Só nos primeiros meses de 2025, Hugo Motta já havia acumulado mais de R$ 395 mil em viagens com aviões da FAB para a Paraíba, a maioria em fins de semana. Em maio, foi a vez de Nova York: uma missão parlamentar que custou R$ 284 mil aos cofres públicos, com passagens, diárias e mimos logísticos.

Agora, voa para a Europa para participar de um seminário que, na prática, tem servido como palanque político disfarçado de evento acadêmico, jurídico ou sei lá o quê. O nome popular não é à toa: “Gilmarpalooza” — uma junção de “Gilmar” (Mendes) com “Lollapalooza”, festival famoso por reunir estrelas e celebridades que consomem muito álcool e drogas ilícitas. O encontro em Portugal que desde 2016, o IDP recebeu cerca de R$ 810 mil da Itaipu para o Fórum tem muito mais a ver com vaidade institucional do que com interesse público.

A ausência de agenda pública clara para a viagem, a falta de divulgação da comitiva, e o uso reiterado da estrutura pública para fins questionáveis transformam essa prática num símbolo daquilo que o Brasil mais precisa combater: o abuso normalizado de verbas públicas por autoridades.

O Brasil vive uma crise fiscal crônica. Hospitais sem estrutura, escolas sucateadas, serviços públicos ineficientes — mas os parlamentares voam em jatos pagos com nosso dinheiro para eventos em hotéis estrelados na Europa. Enquanto a população espera horas por atendimento médico, suas “excelências” discutem o futuro da administração pública a milhares de quilômetros de distância.

Que tipo de reforma administrativa pode ser levada a sério quando seus defensores mais ilustres recorrem a regalias estatais dignas de reis?

É o retrato perfeito da elite política brasileira: sempre pronta a discursar sobre “austeridade”, mas rápida no gatilho quando se trata de aproveitar os confortos que o Estado pode oferecer — desde que seja o povo a pagar a conta.

É urgente que esse tipo de prática deixe de ser apenas “mais uma notícia”. O Brasil precisa reagir a esse tipo de desperdício com indignação real, não com resignação passiva. Chega de normalizar o abuso disfarçado de missão oficial. Porque, no fim das contas, o jatinho de Hugo Motta decola para ele abraçar Gilmar e quem está mesmo literalmente no chão, pagando a conta, é você.


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