Encontro com Marco Rubio foi mantido em sigilo e ocorreu em Washington na quarta-feira (30). Chanceler declarou que Brasil não aceitará ingerência externa sobre o Judiciário e anunciou que apresentará relato ao presidente Lula nos próximos dias
Brasília, 31 de julho de 2025 — O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, se reuniu nesta quarta-feira (30) com o secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, em Washington, em meio à crescente crise diplomática entre os dois países. A conversa, mantida sob sigilo até sua realização, aconteceu horas após o presidente norte-americano Donald Trump oficializar um tarifaço sobre exportações brasileiras e sancionar o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, com base na Lei Magnitsky.
Em declaração pública feita na Embaixada do Brasil em Washington, após o encontro, Mauro Vieira afirmou que deixaria os Estados Unidos ainda na noite de quarta-feira e que apresentará ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva um relatório completo sobre a reunião. Não há confirmação oficial, até o momento, de que a conversa com o presidente tenha ocorrido.
Segundo o chanceler, o Brasil não aceitará qualquer forma de ingerência externa sobre suas instituições e considera inaceitável a tentativa de constranger o funcionamento independente do Poder Judiciário. “O Judiciário brasileiro é soberano e não se curvará a pressões políticas estrangeiras”, declarou Vieira. Ele também afirmou que o Brasil se reserva o direito de adotar medidas de resposta no tempo e forma que considerar adequados.
A reunião entre Vieira e Rubio foi organizada com discrição, fora das agendas públicas, e só foi divulgada após sua conclusão. O encontro representou o primeiro contato direto entre representantes de alto escalão dos dois governos desde que Trump anunciou o novo pacote de tarifas contra o Brasil, previsto para entrar em vigor no próximo dia 6 de agosto. As alíquotas chegam a 50% sobre produtos como carne bovina, café, alumínio e minério de ferro — embora o decreto inclua mais de 700 exceções, o que pode mitigar parte dos efeitos práticos.
Antes de ir a Washington, Mauro Vieira havia participado de compromissos diplomáticos em Nova York, entre os dias 27 e 29 de julho, incluindo reuniões nas Nações Unidas sobre a crise humanitária na Faixa de Gaza. A ida à capital americana foi confirmada de última hora após acerto direto com o gabinete de Rubio.
Internamente, o sigilo da missão pegou de surpresa setores da oposição. O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), aliado de Donald Trump, afirmou à imprensa que só soube do encontro pela mídia e criticou a condução silenciosa da diplomacia brasileira.
De volta ao Brasil, o Itamaraty deve apresentar nas próximas horas um conjunto de sugestões ao Palácio do Planalto sobre como conduzir a reação institucional à nova postura da Casa Branca. Entre as opções em estudo estão medidas comerciais recíprocas, ação na Organização Mundial do Comércio (OMC) e articulações com países do BRICS e da União Europeia.

O presidente Lula ainda não se pronunciou oficialmente sobre o encontro entre Mauro Vieira e Rubio, mas aliados do governo afirmam que o Planalto deve manter a postura de firmeza diplomática sem ruptura no diálogo bilateral com os Estados Unidos.

