Até o fim de julho, apenas 25 países haviam enviado suas novas metas oficiais à ONU, conhecidas como NDCs (as Contribuições Nacionalmente Determinadas).
Por Victório Dell Pyrro
Faltando exatos 100 dias para a COP30, a tão anunciada cúpula do clima que será sediada em Belém do Pará, o governo brasileiro parece mais perdido do que barco à deriva em maré alta. Prometida como a grande vitrine do Brasil verde e da liderança climática do Sul Global, a conferência internacional se aproxima com um rastro de metas descumpridas, infraestrutura precária, especulação descontrolada e desorganização diplomática.
Enquanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva insiste em discursos internacionais exaltando o país como protagonista na transição energética e defensor da Amazônia, o mundo começa a perceber que, nos bastidores, o governo federal não entregou quase nada do que prometeu. As metas climáticas que deveriam ser revisadas e reforçadas antes da COP30 seguem emperradas, com atrasos vergonhosos na atualização da NDC (Contribuição Nacionalmente Determinada) e nenhuma clareza sobre o plano de desmatamento zero.
Mais grave: a nova governança climática anunciada com pompa no começo de 2023 – supostamente coordenada pela Casa Civil e Ministério do Meio Ambiente – virou um jogo de empurra entre alas políticas rivais. O Palácio do Planalto deixou para a última hora decisões cruciais sobre o financiamento climático, mercado de carbono e compensações ambientais. Internamente, o Ministério do Meio Ambiente não conseguiu sequer concluir as consultas com os estados amazônicos.
Além das promessas vazias, o evento em Belém está cercado por um cenário constrangedor de amadorismo logístico. Faltam hospedagens básicas para abrigar chefes de Estado, comitivas, diplomatas, jornalistas e ONGs. Há relatos de pousadas simples sendo cotadas a preços abusivos, com diárias ultrapassando R$ 2.500 por quartos sem ar-condicionado. A rede hoteleira da capital paraense não foi expandida nem modernizada como prometido, e o transporte público continua caótico.

Pior: delegações importantes, como dos Estados Unidos, da Índia e de países africanos, ainda não confirmaram presença, citando “incertezas na organização” e falta de garantias logísticas mínimas. Já no campo das propostas concretas, o Brasil ainda não apresentou nenhum pacote relevante de compromissos climáticos que justifiquem a importância política da conferência.
Entre os países que ainda não entregaram suas NDCs estão China, Índia, União Europeia, Rússia, Austrália e México.
Juntos, China, EUA e Índia (que concentram parte significativa das emissões globais) representam, somados, mais de 42% do total de gases de efeito estufa lançados na atmosfera.
Nem mesmo a agenda de governadores da Amazônia, que deveria ser um trunfo nacional, foi articulada com clareza. Em vez de coordenação integrada, o que se vê são divergências regionais, ressentimentos por exclusão e ausência de diretrizes federais. O governo paraense, anfitrião do evento, também vem sendo criticado pela lentidão nas obras prometidas e pela incapacidade de conter o aumento da violência urbana e do desmatamento no estado.
A 100 dias da COP30, o Brasil corre o risco de passar vergonha em casa: um palco global montado com improviso, turismo de luxo para poucos e impacto climático zero. Lula, que sonhava com a imagem de estadista verde, pode acabar tendo sua cúpula lembrada como a COP do caos, onde o Brasil falou bonito – e fez pouco.
Enquanto isso, o tempo corre, o planeta aquece, e a floresta arde.

