O partido União Brasil, uma das maiores siglas do Congresso Nacional, elevou o tom contra o governo federal e sinalizou um rompimento iminente com a gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em nota pública divulgada neste sábado (3), a Executiva Nacional da legenda anunciou que pode deixar oficialmente a base governista e que ministros filiados à sigla que insistirem em permanecer nos cargos correm o risco de serem expulsos.
A decisão expõe o agravamento da crise interna no partido, que já vinha em ebulição desde a formação do terceiro mandato de Lula, quando o presidente nomeou três ministros ligados ao União Brasil — Juscelino Filho (Comunicações), Daniela Carneiro (Turismo) e Waldez Góes (Integração e Desenvolvimento Regional). Daniela foi substituída ainda em 2023 por Celso Sabino, também do União, mas mesmo assim a presença da sigla no governo nunca teve respaldo unânime na cúpula partidária. Juscelino Filho também foi demitido.
Segundo a direção nacional do partido, liderada por Antonio Rueda, “não há mais condições políticas e ideológicas de continuar integrando um governo que diverge dos princípios programáticos da legenda”. A nota é clara ao afirmar que o União Brasil pretende “recuperar sua identidade de centro-direita liberal e se reposicionar como força de oposição ao atual governo”.
Ministros na mira
A medida mais polêmica anunciada pelo partido é a ameaça de expulsar os ministros que decidirem permanecer no governo mesmo após a saída formal da legenda da base de apoio.
O União Brasil decidiu formalmente descolar-se da base do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com saída prevista já para setembro. A sigla também ameaça expulsar da legenda qualquer ministro que decidir permanecer no Palácio do Planalto após o desembarque .
Entre os alvos da decisão estão Celso Sabino (Turismo), único ministro filiado à legenda, que será expulso caso mantenha o cargo, e Frederico de Siqueira Filho (Comunicações), mesmo sem filiação, cujo espaço no ministério é resultado da influência do União Brasil .
Celso Sabino, atual ministro do Turismo, também filiado ao União, adotou postura de cautela e ainda não comentou publicamente a decisão do partido. Waldez Góes, por sua vez, não é filiado, mas tem o apoio de parte da bancada ligada ao União Brasil, o que também o coloca em uma posição sensível no tabuleiro político. Ele é indicado de Davi Alcolumbre (União-AP), presidente do Senado.
Motivação política e eleitoral
O reposicionamento do União Brasil ocorre a menos de um ano das eleições municipais de 2026 e é interpretado como uma tentativa de recuperar protagonismo e diferenciação no espectro político, especialmente diante do avanço de partidos da direita mais ideológica, como PL e Novo. Internamente, há uma ala que defende candidatura própria à Presidência em 2026 e acredita que o alinhamento com o governo Lula prejudica essa estratégia.

O União Brasil é fruto da fusão entre o DEM (Democratas) e o PSL, dois partidos com histórico de oposição aos governos petistas. A convivência no governo federal sempre foi marcada por desconfiança e disputas internas. Ao mesmo tempo, a sigla manteve uma posição ambígua no Congresso, com parte da bancada apoiando pautas do governo e outra parte atuando como oposição sistemática.
Reações
No Palácio do Planalto, a movimentação foi recebida com desconforto, mas sem surpresa. Assessores presidenciais indicam que Lula deve tentar preservar os ministros considerados técnicos ou com boa interlocução com o Congresso, mesmo que precisem mudar de partido ou passar a atuar como independentes.
Parlamentares da base governista criticaram a atitude do União Brasil e acusaram o partido de oportunismo político. Já líderes da oposição comemoraram a sinalização de rompimento e veem no gesto uma possibilidade de reorganização da centro-direita em torno de uma alternativa ao bolsonarismo puro.
Próximos passos
A expectativa é que o diretório nacional do União Brasil formalize sua decisão em convenção nas próximas semanas, possivelmente com a entrega de cargos, a recomendação de voto contra projetos de interesse do governo e até a devolução de espaços em estatais e autarquias.
Até lá, ministros ligados ao partido devem enfrentar forte pressão interna para abandonar os cargos, ou aceitar as consequências políticas — e estatutárias — de continuar.
Se confirmada, a ruptura poderá alterar significativamente o mapa de forças em Brasília, com impactos diretos na articulação de votações no Congresso e no clima político pré-eleitoral.
A crise entre o União Brasil e o governo Lula é mais um sinal do desafio que o presidente enfrenta para manter uma base de apoio sólida em um cenário de fragmentação partidária e disputas antecipadas pela sucessão presidencial de 2026.

