BC informa bloqueio de contas de ex-assessor do ministro Moraes do STF

 Eduardo Tagliaferro ameaça divulgar informações que comprometeriam a atuação do ministro no Supremo

O Banco Central informou ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF) o cumprimento de decisão do magistrado com relação ao bloqueio de contas bancárias, ativos financeiros, cartões e chaves Pix de Eduardo Tagliaferro, ex-assessor de Moraes. De acordo com ofício encaminhado pelo BC à Corte, a determinação de bloqueio foi transmitida a todas as instituições financeiras, para providências.

Em abril, Tagliaferro foi indiciado pela Polícia Federal por suposto vazamento de conversas de servidores dos gabinetes de Moraes no STF e no Tribunal Superior Eleitoral. Atualmente, o ex-assessor de Moraes no TSE diz ter ido viver na Itália e afirma ter provas para denunciar a atuação do ministro.

O ofício destaca que ‘as chaves Pix vinculadas ao CPF do investigado, registradas no Diretório de Identificadores de Contas Transacionais (DICT), foram bloqueadas por esta Autarquia em 31 de julho de 2025’.

De acordo com o BC, a decisão do ministro foi proferida no Inquérito 12936/DF, que tramita sob sigilo. A comunicação sobre o bloqueio das contas foi ‘transmitida a todas as instituições financeiras’.

Sobre o ministro, Tagliaferro declarou em rede social: “Destruiu a minha vida e a de várias pessoas, isso é pouco, logo eu estarei mostrando para o Brasil quem é Alexandre de Moraes, e os bastidores do seu gabinete”.

“Confirmo que as chaves Pix vinculadas ao CPF do investigado, registradas no Diretório de Identificadores de Contas Transacionais (DICT), foram bloqueadas por esta autarquia em 31 de julho de 2025”, diz ofício que entrou na petição somente nesta segunda-feira (4).

Tagliaferro foi assessor-chefe da Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação, ligada à Presidência do TSE, entre agosto de 2022 e julho de 2023, quando Moraes era presidente. Ele é apontado pela Polícia Federal como responsável por vazar informações do gabinete de Moraes para o jornal Folha de S.Paulo, o que ele nega. A PF o indiciou por violação de sigilo funcional com dano à Administração Pública.

Tagliaferro apareceu nas redes sociais brindando a aplicação da lei Magnitsky a Moraes e disse ter informações que seriam apenas a “pontinha do iceberg” de supostos abusos do ministro. Em mensagens a aliados, afirma guardar documentos e dados sobre o Supremo.

“Tenho bastante coisa [informação], aquilo lá é só a pontinha do iceberg. Tem algumas coisas fraudulentas que foram feitas. Ele [Moraes] vai me assistir, ele sabe do que estou falando, lá de agosto, de um ano aí, entendeu? A ordem era deletar e, como sou uma pessoa prevenida, sempre guardei, porque sabia que um dia isso viraria história e teríamos que contar a verdade. A coisa vai ser divertida”, disse.

“Tem algumas coisas fraudulentas que foram feitas (….) e comecei a questionar”, afirmou em outro post.

“Só entravam coisas de direita no gabinete e nada de esquerda e isso me chamou muito a atenção.”

Reveladas em uma série de reportagens do jornal Folha de S. Paulo, as mensagens foram extraídas de um grupo de WhatsApp do qual Tagliaferro participava com juízes auxiliares do gabinete de Moraes no Supremo e no TSE.

Troca de mensagens divulgadas pelo jornal Folha de S.Paulo apontam que o gabinete do ministro Alexandre de Moraes, impôs, de forma não oficial, a produção de relatórios pela Justiça Eleitoral para embasar decisões do próprio ministro contra bolsonaristas no inquérito das fakes news no Supremo Tribunal Federal (STF), durante e após as eleições de 2022.

As conversas mostram como o setor de combate à desinformação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), comandado na época por Moraes, foi usado como um braço investigativo do gabinete do ministro no STF.

As mensagens evidenciam um fluxo incomum entre os dois tribunais, com o órgão de combate à desinformação do TSE sendo empregado para investigar e fornecer informações para um inquérito de outro tribunal, o STF, sobre questões que podem ou não estar relacionadas com a eleição daquele ano.

Nas mensagens, os assessores relataram irritação do ministro com a demora no atendimento às suas ordens. “Vocês querem que eu faça o laudo?”, questionou o ministro. “Ele cismou. Quando ele cisma, é uma tragédia”, comentou um dos assessores.

“Ele tá bravo agora”, disse outro.

As conversas de WhatsApp foram trocadas em sua grande maioria entre o juiz instrutor Airton Vieira, assessor de confiança de Moraes no STF, e Eduardo Tagliaferro, um perito criminal que comandava a Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação (AEED) do TSE. Tagliaferro deixou o cargo no tribunal eleitoral em maio de 2023, após ser preso sob suspeita de violência doméstica contra a sua esposa, em Caieiras (SP).


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