Os confrontos em cidades sérvias como Vrbas, Novi Sad e Belgrado decorrem de protestos antigovernamentais em andamento desde novembro de 2024, desencadeados por um desabamento mortal de uma estação de trem atribuído à corrupção. Manifestantes exigem eleições antecipadas e expulsões.
Apoiadores do partido governista SNS reagiram violentamente com sinalizadores e pedras. A polícia separou grupos, mas enfrenta acusações de parcialidade. Dezenas de feridos, incluindo policiais.
A Sérvia vive o maior ciclo de protestos dos últimos 25 anos, marcado por conflitos violentos. A onda de manifestações foi desencadeada pelo desabamento mortal do teto de uma estação de trem recém-reformada em Novi Sad, tragédia que matou 15 pessoas, entre elas jovens estudantes e trabalhadores do transporte. Os manifestantes atribuem o desastre à corrupção e à má gestão do governo liderado por Aleksandar Vučić e pelo Partido Progressista Sérvio (SNS), que está no poder há mais de uma década.
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O que causou a revolta
- A estação de trem de Novi Sad, reinaugurada em 2022, colapsou em 1° de novembro de 2024, meses após a reforma. Investigações sugerem participação de empresas ligadas ao partido governista, nepotismo e supressão de documentos, aumentando a indignação popular frente ao governo e à falta de responsabilização.
- Após o desastre, autoridades prometeram punições e investigação transparente, mas estudantes e ativistas alegam que apenas parte dos documentos foi disponibilizada e que o governo tenta encobrir envolvimentos de aliados políticos. Até agora, 16 pessoas foram indiciadas, incluindo o ex-ministro da Construção, mas sem avanço nos julgamentos.
Escalada dos protestos
- O movimento começou com estudantes, mas rapidamente agregou agricultores, taxistas, advogados e veteranos militares, tornando-se uma mobilização nacional. Bandeiras, apitos, faixas e broches com mãos ensanguentadas — símbolo dos protestos — ocuparam as ruas.
- Os participantes exigem eleições antecipadas, expulsão de figuras envolvidas no caso e total transparência da investigação. Eles protestam contra décadas de corrupção, controles autoritários da mídia e suposta fraude eleitoral.
- Estimativas apontam que entre 100 mil e mais de 300 mil pessoas participaram dos atos, sobretudo em Belgrado, tornando esse episódio o maior protesto já registrado no país.
Violência e repressão
- Os protestos se tornaram cada vez mais confrontacionais, com a polícia sendo acusada de parcialidade ao dispersar manifestantes antigovernamentais, deter estudantes e, em alguns casos, atuar protegendo apoiadores do SNS.
- Em resposta aos apelos dos manifestantes, o SNS mobilizou grupos de apoiadores em Belgrado, alguns usando camisetas com mensagens de resistência e agindo em acampamentos no centro da cidade. Houve relatos de lançamento de pedras, garrafas e sinalizadores contra manifestantes antigovernamentais, resultando em dezenas de feridos, incluindo policiais.
- A ONU e entidades europeias alertaram para o risco de uma escalada do conflito, embora o presidente Vučić afirme reiteradamente que “não haverá guerra civil”, atribuindo os protestos a suposta influência externa e negando renúncia ou convocação de novas eleições.
Mudanças políticas e consequências
- O episódio levou à renúncia do prefeito de Novi Sad e do primeiro-ministro Milos Vucevic, mas o presidente Aleksandar Vučić permanece no cargo, apesar da pressão crescente.
- O Parlamento aprovou um novo primeiro-ministro, Djuro Macut, e as eleições nacionais estão previstas apenas para 2027, decisão criticada pelos manifestantes que exigem renovação imediata do governo.
Retrato atual e demandas dos manifestantes
- Principais demandas: responsabilização dos culpados, eleições antecipadas, transparência total sobre obras públicas, fim do monopólio governista e garantia de instituições funcionais.
- Frustração dos cidadãos é alimentada pela lentidão jurídica, a persistência de práticas corruptas e a sensação de impunidade de autoridades envolvidas.
O conflito permanece sem solução clara. Manifestações seguem intensas, com a população sérvia dividida entre apoiadores do governo e insurgentes pela reforma política profunda. O desabamento da estação virou símbolo de luta, ecoando um pedido nacional por justiça, mudança e fim da corrupção. Até que as demandas sejam atendidas, a tensão e os confrontos violentos poderão continuar a marcar o cotidiano das principais cidades sérvias.

