Crise de hospedagem na COP30 gera tensão entre Brasil e ONU em reunião nesta sexta-feira (22)
Representantes do governo brasileiro e da Organização das Nações Unidas (ONU) se reuniram na manhã desta sexta-feira (22/8) para discutir a grave crise de hospedagem que ameaça a realização da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), prevista para novembro em Belém, no Pará.
A COP30 enfrenta uma situação inédita de desorganização e desrespeito às necessidades das delegações internacionais. Até o momento, apenas 47 dos 196 países convidados confirmaram presença, em grande parte devido aos preços exorbitantes das acomodações na capital paraense, que chegaram a valores milionários para o período do evento, numa escala muito superior aos padrões observados em outras edições da conferência.
Durante o encontro, a ONU solicitou ao Brasil que subsidiem parte dos custos de hospedagem para que países de baixa renda e pequenas ilhas em desenvolvimento possam participar adequadamente. A proposta incluía diárias de até US$ 100 para estas nações, mas foi rejeitada pelo governo brasileiro, que argumentou já arcar com custos significativos e pediu que a própria ONU ampliasse sua participação financeira.
Miriam Belchior, secretária-executiva da Casa Civil, afirmou categoricamente que “não cabe aos brasileiros fazer subsídio a outros países”, evidenciando o desgaste na relação entre o Brasil e a organização do evento.
A reunião foi marcada por acusações da falta de preparo e clareza no planejamento. Países questionaram a insuficiência da rede hoteleira local, que não comporta os mais de 50 mil participantes esperados, e criticaram o aumento abusivo dos preços impostos por empresários da cidade, dificultando e até impedindo a participação de vários países.
O embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30, admitiu a crise: “Estamos atentos e conscientes das preocupações, precisamos que todos consigam vir para a COP e resolver seus problemas de acomodação”. Para isso, foi anunciada a criação imediata de uma força-tarefa para facilitar negociações e buscar soluções, especialmente focando nos países mais vulneráveis.
Entretanto, houve relatos de delegações que negociaram acomodações fora da plataforma oficial do governo, e dúvidas sobre a real capacidade de Belém em suportar a logística do evento. O presidente da COP30 reconheceu que, diferentemente de outros eventos, os hotéis em Belém chegaram a cobrar valores dez vezes maiores que o convencional, evidenciando uma desorganização que tem gerado desconforto global.
Diplomatas estrangeiros chegaram a sugerir a transferência parcial ou total da conferência para outras cidades com maior capacidade hoteleira, medida que o governo brasileiro mantém firme oposição, reafirmando que o evento ocorrerá em Belém, apesar da crise.
O clima de insatisfação e desrespeito, manifestado na reunião, deixa em aberto o risco de esvaziamento da conferência, podendo comprometer o caráter inclusivo e global do maior evento sobre mudanças climáticas do planeta.
Com menos de 80 dias para o início da COP30, a expectativa agora recai sobre os resultados da força-tarefa e a capacidade do governo brasileiro e da ONU de superarem os impasses logísticos, respeitando as limitações dos países participantes e garantindo que o evento ocorra com o máximo de representatividade e eficiência possível.


