Por Victório Dell Pyrro
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reuniu na manhã desta terça-feira (26), no Palácio do Planalto, sua equipe de ministros para projetar a entrega de ações consideradas prioritárias pelo governo.
O presidente e seus ministros usavam bonés da cor azul com a frase: “O Brasil é dos Brasileiros”. A frase é uma crítica ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
“[Trump] tem agido como se fosse o imperador do planeta terra. É uma coisa descabida, mas ele continua fazendo ameaças ao mundo inteiro”, afirmou Lula que ainda não arriscou ligar para Trump como fizeram outros governantes que conseguiram ajustar taxas.
Lula ainda orientou seus ministros a destacarem a defesa da soberania do país em declarações públicas e entrevistas.
“Se a gente gostasse de imperador, a gente não tinha acabado com o Império”, afirmou.
As críticas de Lula chegam enquanto o superávit comercial (exportações menos importações de bens) de julho foi de US$ 6,5 bilhões, menor que os US$ 7 bilhões registrados em julho de 2024, a realidade total das contas externas brasileiras é de um déficit de US$ 7,1 bilhões, o pior para o mês desde 2019, quando foi registrado déficit de US$ 11,5 bilhões. Ou seja, a balança comercial positiva não está sendo suficiente para cobrir o saldo negativo nas outras contas externas como serviços, renda e transferências.
- Exportações de bens cresceram 4,8% em relação a julho de 2024, alcançando US$ 32,6 bilhões;
- Importações cresceram 8,3%, significando maior gasto com bens estrangeiros, um sintoma de demanda interna e produção dependente de insumos importados;
- O déficit na conta de serviços foi de US$ 5 bilhões, estável em relação ao ano anterior, refletindo gastos como turismo e serviços financeiros pagos ao exterior;
- A conta de renda primária teve déficit de US$ 8,9 bilhões, um aumento de 18,1% em relação a julho de 2024, impactada por repasses de juros, lucros e dividendos para investidores estrangeiros, sobretudo os norte-americanos.
Impacto do Tarifão dos EUA
O tarifaço imposto pelos Estados Unidos pode criar um problema adicional para as contas externas brasileiras, não apenas pelo comércio em si, mas principalmente pelo comprometimento dos investimentos norte-americanos, que são expressivos no Brasil. O receio é que a imposição de tarifas e a tensão diplomática afastem tal investimento, desgastando ainda mais a conta corrente e o balanço de pagamentos do país, aumentando vulnerabilidades econômicas em um cenário externo já complexo.
Esse dado mais amplo mostra que a simples boa notícia de superávit comercial não pode ser usada para apagar ou minimizar os riscos e desafios reais que enfrentamos nas contas externas brasileiras, agravados pela postura intransigente do governo Lula em negociar tarifas com os EUA.
O déficit crescente nas contas de serviços e renda, que refletem dívidas e saídas de recursos para o exterior, somado ao impacto dos tarifões e ao risco de queda nos investimentos estrangeiros, compõem um cenário que merece ser tratado com seriedade e responsabilidade, não com discursos ideológicos e recusas políticas sem base de negociação.
O governo Lula, ao menos até agora, parece jogar a batata quente para os setores produtivos e para o futuro da economia em nome de um posicionamento político que pode custar caro ao país, repercutindo negativamente na estabilidade econômica e na balança de pagamentos, que já estão longe da tranquilidade que números superficiais da balança comercial poderiam sugerir.
Os dados revelam que a economia brasileira, longe de estar blindada contra os impactos das políticas americanas, enfrenta um crescente déficit nas suas contas externas. Isso enxerga claramente a necessidade urgente de um diálogo pragmático e construtivo, não posturas intransigentes que, politicamente simbólicas, economicamente custam caro.
Assim, a recusa do governo brasileiro em negociar tarifas com os Estados Unidos não pode ser vista como uma demonstração de força, mas sim como uma aposta arriscada que pode piorar o já delicado quadro das contas externas brasileiras, aprofundando déficits e ameaçando a confiança de investidores.
Esse cenário evidencia que o Brasil precisa urgentemente abandonar a ideologia do enfrentamento e buscar soluções reais para os seus problemas econômicos, incluindo o diálogo com seu principal parceiro comercial e investidor, os EUA.

