Por Victório Dell Pyrro
Parece roteiro de comédia, mas é vida real: o empresário Maurício Camisotti, apontado como um dos protagonistas do escândalo de fraudes no INSS, tentou protagonizar um truque de mágica financeira logo depois que a Polícia Federal bateu à sua porta. Nada de coelho na cartola. O plano era bem mais ousado: evaporar R$ 59 milhões em criptomoedas depois do escândalo estourado.
O episódio, revelado pelo BTG Pactual e entregue ao COAF, mostra um Camisotti nervoso, afoito e com uma criatividade para negócios que faria inveja a roteiristas de filmes de ficção barata. Dezesseis dias depois da deflagração da Operação Sem Desconto, que investiga o roubo aos benefícios previdenciários, ele achou que seria uma boa ideia ligar para o banco e pedir, como quem pede uma pizza, a transferência de quase 40% de seus investimentos, só naquela agência, para o mundo nebuloso das criptos.
O banco, claro, disse “não”. Afinal, Camisotti de repente, queria sumir com uma bolada. Para piorar, a justificativa que apresentou soava mais como roteiro de novela mexicana: pagamentos mensais de um advogado investigado pela mesma CPI, oriundos da venda de um imóvel nos Estados Unidos.
Documentos comprobatórios? Zero. O empresário simplesmente ignorou o pedido do banco e ainda pediu a uma funcionária que apagasse as mensagens que provavam a sua tentativa frustrada.
Não contente, insistiu em reuniões presenciais, tentou abrir contas em nomes de terceiros e até quis investir em criptomoedas lastreadas em dólar. O COAF foi direto: tratava-se de “burla da identificação da origem, do destino e dos responsáveis”. Traduzindo: tentativa de lavar dinheiro com a delicadeza de um elefante em loja de cristais.
Mas esse não foi o primeiro show de Camisotti no palco bancário. Em 2024, já havia tentado tomar empréstimos mirabolantes em nome de terceiros: R$ 16 milhões para um ex-deputado catarinense e outros R$ 4,6 milhões para um parceiro de negócios cujo capital social mal pagaria o cafezinho da operação. O BTG recusou tudo, com justificativas que beiram o óbvio: não fazia sentido algum e cheiravam muito mal.
A cara de pau
Na CPMI do INSS, Camisotti tenta se apresentar como vítima das “injustiças” do sistema bancário e de um suposto complô contra seus negócios. Mas os documentos contam outra história: um malandro que, acuado por investigações, se esforça em malabarismos financeiros para tentar esconder milhões que, segundo as suspeitas, nasceram do bolso de aposentados indefesos enganados por marginais da ostentação.
Maurício Camisotti, só foi preso no mês passado, depois de pedido da CPMI, na Operação Cambota, acusado de ser sócio oculto em fraudes ao INSS. Desde 2021, seu grupo teve faturamento superior a bagatela de R$ 1 bilhão, com investigações revelando um esquema envolvendo familiares. Entre os ativos apreendidos estão até uma Ferrari e um carro de Fórmula 1.
No fim, a imagem que resta é a de um fraudador que acreditava poder driblar polícia, banco e sistema financeiro com a mesma naturalidade com que outros pedem troco na padaria. Só que, ao contrário das criptomoedas, a paciência das instituições não é volátil: a cada tentativa de golpe, o cerco se fecha mais.
Aos que ainda duvidam, o enredo serve de lição: no Brasil, sempre há quem queira transformar o suor alheio em fortuna própria. Camisotti não inovou no roteiro – mas com a mesma arrogância e desfaçatez de quem acredita que R$ 59 milhões podem virar fumaça digital com um clique, tentou fazer o que políticos e corruptores fazem com dinheiro alheio.
As criptomoedas são, desde a sua origem, uma forma dos canalhas esconderem o que furtam de pobres coitados pagadores de impostos que acreditam no sistema.
Fica aí um alerta para os legisladores brasileiros colocarem uma lupa sobre esse esquema de lavagem de dinheiro. Isso aos que não possuem as famosas carteiras em bancos de criptos. Será que existem?

