A presença de facções criminosas e milícias já faz parte da realidade de, pelo menos, 28,5 milhões de brasileiros. Segundo pesquisa do Instituto Datafolha, divulgada nesta quarta-feira (16) e encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 19% da população maior de 16 anos afirma conviver com o domínio do crime organizado na vizinhança onde mora – um salto de cinco pontos percentuais em relação ao ano anterior, quando esse índice era de 14% e correspondia a cerca de 23 milhões de pessoas.
A pesquisa entrevistou 2.007 pessoas em 130 cidades de todos os estados, incluindo capitais e cidades médias e grandes, entre os dias 2 e 6 de junho de 2025. Segundo o levantamento, a percepção da presença de grupos criminosos é significativamente maior em regiões metropolitanas, especialmente nas capitais do Nordeste e em municípios com mais de 500 mil habitantes.
A margem de erro do estudo é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
O fenômeno não se limita às periferias ou camadas mais pobres. Entre os entrevistados com renda de até dois salários mínimos (R$ 3.036), 19% relataram viver em áreas sob domínio de grupos ilegais.
Mesmo entre os que ganham de cinco a dez salários mínimos (R$ 7.590 a R$ 15.180), o índice foi de 18%, mostrando que a influência das facções atravessa classes sociais.
A desigualdade racial aparece no levantamento: 23% dos autodeclarados pretos relataram conviver com o crime organizado em seus bairros, contra 13% dos brancos.
Para especialistas, isso denuncia a maior exposição histórica da população negra à violência e ao abandono pelo Estado.
A pesquisa revelou que 21% dos entrevistados disseram existir vigilância privada, por policiais de folga, em seus bairros—a maior parte dessas regiões também apresenta forte domínio do crime organizado.
Houve crescimento dos relatos sobre a existência de “cracolândias” no caminho entre casa, trabalho ou escola (quatro em cada dez residentes dessas áreas) e de áreas usadas como cemitérios clandestinos, aumentadas de 8% para 12% em um ano.
Para Renato Sérgio de Lima, presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a pesquisa mostra o avanço de um fenômeno de captura territorial e econômica por facções e milícias. Ele destaca que esses dados foram colhidos antes de grandes operações federais recentes e refletem uma tendência de fortalecimento do crime organizado no Brasil contemporâneo.

