Carlos Brandão revive fantasma do apadrinhamento político e entrega o controle do Empresa Maranhense de Administração Portuária (EMAP) ao escanteio do funcionalismo-farsante
Por Victório Dell Pyrro
Quando o governador maranhense Carlos Brandão assinou, em 1º de dezembro de 2025, a recondução de Ricardo Cappelli ao cargo de membro titular do Conselho Fiscal da EMAP — com efeitos retroativos a março —, não tratava de reforçar a governança técnica: tratava-se de um acerto de bastidor – uma jogada política de quatro mãos entre Brasília e São Luís.
A nomeação ausente
Cappelli vive longe — muito longe. Hoje percorre corredores institucionais em Brasília. Preside a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), exerce papel ativo na pré-campanha ao governo do Distrito Federal e, por via da aproximação com o entorno do vice-presidente da República, mantém ares de influente articulador nacional. A reeleição de seu mandato na EMAP — sediada a milhares de quilômetros — revela o desprezo absoluto pelo bom senso administrativo.
É grotesco: um conselheiro “técnico” que não pisa no estado, não acompanha contratos, não verifica obras, não cruza dados operacionais. E ainda assim recebe — ou poderá receber — jetons por “participação em reuniões” como se fosse um auditor ativo. A nomeação não serve a ninguém além de interesses políticos — de Brasília para cá, de São Luís para lá.
Quem manda de fato
Arguir que Cappelli representa “governança técnica” é piada pronta. Originalmente secretário de Comunicação no governo do ex-governador Flávio Dino — hoje ministro do Supremo Tribunal Federal —, Cappelli se tornou espécie de “peça de confiança” capaz de atravessar fronteiras estaduais e acumular cargos, indicando quem realmente puxa os cordões: o grupo que ainda detém poder em Brasília decide quem controla recursos portuários maranhenses.
Brandão não apenas reafirma lealdade a Dino: ele perpetua um esquema em que conselhos de estatais se transformam em moeda de troca para acomodar aliados distantes, e mantém aberta uma porta para interferência remota nos destinos da economia maranhense.
Quanto custa a farra federativa
A farra não é simbólica. No cargo federal, Cappelli aufere cerca de R$ 40 mil brutos mensais na ABDI — um salário generoso por si só. Mas além disso, há os jetons de conselhos como o da EMAP: valores adicionais que, dependendo da frequência de reuniões e da canetada do governador, podem ultrapassar R$ 19 mil extras mensais. Ou seja: a nomeação o coloca apto a embolsar mais dinheiro público — desta vez em benefício de quem nem sequer vive no estado que supostamente fiscaliza.
Em um momento doloroso para o contribuinte maranhense — com infraestrutura portuária exigindo atenção, investimentos e fiscalização rigorosa —, usa-se o cargo como cabide para remuneração de aliado de Brasília.
Conselho para quê? Uma institucionalidade de fachada
O Conselho Fiscal da EMAP deveria exercer missão séria: acompanhar atos da diretoria, examinar demonstrações financeiras, fiscalizar execução orçamentária e patrimonial, detectar irregularidades. É órgão vital para garantir transparência e boa gestão num porto estratégico para o Maranhão — via de escoamento de grãos, combustíveis e cargas essenciais à economia local.
Mas com Cappelli — ausente, desconectado e envolvido em articulações eleitorais alheias ao estado — o órgão vira fachada: conselheiro com mandato para comparecer — ou não — a reuniões virtuais, assinar atas, recolher jetons, e permanecer fiel a Brasília. Uma institucionalidade revestida de cinza, onde técnica e controle dá lugar a conveniência e política.
A manobra explícita
Não há sutileza: trata-se de um acerto explícito de Brandão para manter viva a influência de Dino sobre a gestão portuária — e garantir liberdade de manobra no comando da EMAP. A recondução serve a dois propósitos: remunerar um aliado de alto coturno e preservar canal aberto com Brasília, a despeito da distância, das obrigações locais e do bom senso de governança.
O resultado é claro: o Maranhão permanece refém de uma estrutura de poder que sobrevive à geografia. O porto, os contratos, a fiscalização — tudo subordinado a interesses políticos fora do estado. A institucionalidade que se dizia profissional se transforma em cabide de luxo para aliados fora do contexto.
Conclusão: quando a caneta mata o controle
A recondução de Ricardo Cappelli ao Conselho Fiscal da EMAP escancara como estatais regionais viraram mercadoria política. Ao invés de zelar pelos interesses do Maranhão, o ato sacrifica a fiscalização, a transparência e o bem público em favor de lealdades partidárias e acumulo de benesses.
Se decisões assim prosperam, cai por terra qualquer pretexto de “governança técnica”. O que prevalece é o controle remoto — econômico e político — sobre o destino dos portos, contratos e recursos públicos. Em Brasília se decide, em São Luís se executa — com muita pressa… para garantir os próximos jetons.



