Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha, teria recebido pagamentos de Antônio Carlos Camilo Antunes, segundo testemunha
Por Victório Dell Pyrro
“Mesada de 300 mil” — o luxo suspeito de Lulinha
A mais recente reviravolta na corte de incertezas que ronda o clã presidencial: segundo depoimento prestado à CPMI do INSS, Fábio Luís Lula da Silva — o “Lulinha” — teria recebido do operador do esquema do INSS, Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS”, pagamentos mensais de cerca de R$ 300 mil, além de uma “remuneração” total de aproximadamente 25 milhões (em moeda não especificada).
Segundo o ex-funcionário de Antunes, que depôs à CPMI, os dois mantinham “relação de proximidade” — inclusive com viagens conjuntas a Portugal.
Esses valores mensais, se confirmados, colocam o filho do presidente em um patamar de renda privada que poucos brasileiros sequer sonham alcançar — muito menos um cidadão comum. A denúncia, no entanto, não vem acompanhada de documentos públicos que comprovem esses repasses diretamente. O tal “relatório de inteligência financeira” citado nas investigações menciona transações ligadas a aliados e empresas associadas ao esquema, mas não atesta, até o momento, um vínculo contábil claro entre Lulinha e os recursos do “Careca”.
O contexto: fraudes, blindagem e vazio de responsabilização
O escândalo investigado pela CPMI não é modesto — envolve um esquema de descontos indevidos em benefícios de aposentados, com perdas estimadas em bilhões.
Apesar disso, a própria comissão e os investigadores da Polícia Federal relatam divergências internas sobre o grau de comprovação dos crimes atribuídos aos envolvidos. Há quem defenda acelerar a apuração e quem alerta que as provas ainda são insuficientes para conclusões definitivas.
Não é pouca coisa: há indícios de envolvimento de empresas suspeitas de lavar dinheiro, conversas telefônicas, registros de viagens e movimentações financeiras que passam por empresas com nomes sofisticados — como a suposta sociedade de Antunes em firma chamada World Cannabis.
Contudo, até o momento, não houve acusação formal de que Lulinha participou ativamente das fraudes. As defesas classificam as alegações como infundadas — “pirotécnicas e improváveis”, como disse o ex-advogado do filho do presidente.
Blindagem política? Os bastidores da CPMI
Segundo quem acompanha a CPI de perto, há resistência de integrantes da base governista em convocar testemunhas-chave — como o ex-funcionário que fez as acusações.
Em 2025, o requerimento para trazer essa pessoa à comissão foi rejeitado. Alega-se pressão e “blindagem” institucional.
Além disso, os documentos mais substanciais — os relatórios de inteligência financeira e as provas de movimentações de recursos — estão sob sigilo ou ainda não foram suficientes para abrir ação judicial contra o filho do presidente. Ou seja: até advocacia de provas robustas e a abertura formal de processo, parece haver mais fumaça que fogo — ou, no máximo, fogo contido.
Política de aparências: o que está em jogo
Para o governo atual, este escândalo representa não apenas um risco jurídico, mas um abalo reputacional profundo. A figura do filho “afeito aos negócios” e aparentemente agraciado com mesadas vultosas vindas de um operador do esquema do INSS reforça narrativas de “velha política”, de conchavos e privilégios para poucos — justamente num país marcado por desigualdades dramáticas.
Além disso, se confirmada a conexão entre Lulinha e o esquema fraudulento, haveria implicações diretas sobre os valores públicos desviados: dinheiro que deveria garantir aposentadorias estaria sendo usado para inflar o padrão de vida de quem já tem pedigree privilegiado.
E, num momento de crise social, de cortes orçamentários e de milhares de beneficiários do INSS sofrendo atrasos ou perdas, a indignação popular pode crescer — com impacto eleitoral, de confiança nas instituições e nas lideranças políticas.
A grande lição amarga: promessas de decência vs. realidade suja
Este episódio evidencia — mais uma vez — como, no Brasil, o poder pode servir como passaporte para privilégios. Denúncias surgem, escândalos vêm à tona, há ruído de mídia, boas manchetes… mas, no fim, raramente resulta em consequências reais.
Se não houver uma investigação transparente, rigorosa e independente — com colaboração da PF, da CPMI e do Judiciário —, esse caso poderá se somar a uma longa lista de escândalos que acabam em pó, sem presos, sem recuperação de recursos e, acima de tudo, sem justiça para quem realmente importa: o contribuinte, o aposentado, o cidadão comum.
No entanto, se as acusações se confirmarem, a “mesada de 300 mil reais” para o filho do presidente se tornará símbolo perfeito da hipocrisia e da impunidade de uma elite que prospera às custas do suor e da miséria dos demais. A crise política já está instalada: Lula sabia que Careca era parceiro de Lulinha, seu filho? Claro, todos sabemos o que ele vai alegar.
Quem é Fábio Luís Lula da Silva — o “Lulinha”
Fábio Luís Lula da Silva, mais conhecido como “Lulinha”, é o filho mais velho do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Após um período trabalhando como monitor em zoológico (salário modesto — cerca de R$ 600 segundo reportagens da época) e dando aulas de informática, Lulinha entrou no mundo dos negócios.
Em 2004 fundou — com dois amigos de infância, os irmãos Fernando Bittar e Kalil Bittar — a empresa Gamecorp S.A., voltada a entretenimento e games.
A partir de então, a trajetória de Lulinha ganhou projeção: de monitor no zoo com salário de poucos reais, passou a ser visto como “empresário”, com empresas, contratos e suposta ascensão financeira.
A trajetória empresarial: da Gamecorp aos negócios — e à suspeita
- Gamecorp / PlayTV: A Gamecorp, criada por Lulinha e os irmãos Bittar, chegou a controlar o canal de TV por assinatura PlayTV — com programação voltada a videogames, entretenimento geek e cultura pop.
- Em 2005, a então gigante de telefonia (à época com capital público) Telemar — hoje parte da Oi — fez um aporte de R$ 5,2 milhões na Gamecorp, assumindo fatia minoritária na empresa. Para muitos, esse salto súbito em aporte e valor da empresa levantou questionamentos sobre favorecimento político, dado que o pai de Lulinha era presidente da República.
- Com o investimento, a Gamecorp cresceu, e segundo um relatório já citado por mídia, as contas bancárias da empresa movimentaram, entre 2005 e 2016, cerca de R$ 317 milhões (entradas) — embora esse valor represente o total movimentado pela empresa, não o ganho direto de Lulinha.
- A empresa — e seus sócios — foram alvo de investigações: acusações de favorecimento, contratos que não se justificavam economicamente (serviços que a empresa não estava estruturada para prestar), suspeitas de “fachada” para justificar repasses da Oi/Telemar.
- Apesar das acusações, nem a empresa nem Lulinha foram condenados na primeira instância: reportagens apontam que, em 2020, a participação dele na Gamecorp foi vendida e a empresa deixou de estar sob seu controle.
- A venda da participação e a saída da Gamecorp foram apresentadas como o fim de um ciclo controverso — embora críticas e suspeitas à fortuna e às origens do capital continuem sendo levantadas por setores da mídia e de opositores.
O que se sabe — e o que se especula — sobre sua fortuna
- De acordo com perícia da Polícia Federal (PF), entre 2004 e 2014 Lulinha teve rendimento bruto declarado de cerca de R$ 5,2 milhões.
- Dessas verbas, aproximadamente R$ 3,8 milhões vieram da distribuição de lucros da empresa G4 Entretenimento e Tecnologia Ltda. — uma empresa associada aos negócios de Lulinha.
- A PF, no mesmo laudo, identificou que em alguns anos Lulinha recebeu toda a distribuição de lucros da empresa, mesmo possuindo apenas 50% das quotas — o que, por si só, chamou a atenção dos investigadores.
- Contudo — e aqui reside uma divergência crônica entre denúncias públicas e provas concretas — não há até hoje evidência pública de que Lulinha detenha uma fortuna multimilionária compatível com os rumores mais exagerados que circulam online (boatos sobre fazendas, aviões, participação em empresas gigantes como frigoríficos, entre outros). Muitos desses relatos já foram desmentidos por veículos de checagem.
Em resumo: a parte “documentada” da fortuna de Lulinha — lucros de empresas, rendimentos declarados — é modesta e compatível com o que foi declarado à PF (milhões de reais, mas longe de cifras de bilionário). As versões mais bombásticas — fazendas, aviões, fortunas ocultas — se apoiam em boatos, suposições ou em movimentações empresariais que não significam necessariamente riqueza pessoal descomunal.
O que disse o pai — e o contexto político
Quando os negócios de Lulinha começaram a chamar atenção (nos anos 2000), o ex-presidente Lula chegou a se referir ao filho como “o Ronaldinho dos negócios” — expressão que ultrapassou o tom de elogio, e passou a ser interpretada pela mídia como autorreferência a um suposto talento para fazer dinheiro rapidamente. Isso, naturalmente, gerou reações fortes, críticas sobre nepotismo, favorecimento, e interrogações sobre conflito de interesses, dado o vínculo entre poder público e o início do boom empresarial da Gamecorp.
Ao longo dos anos, quando as primeiras suspeitas graves surgiram (contratos com a Oi/Telemar, aporte de capital, repasses questionáveis), o discurso oficial — da família e da defesa de Lulinha — sempre afirmou: os negócios foram legais, declarados, com obrigações fiscais cumpridas; não houve comprovação de qualquer ato ilícito; e os processos foram arquivados ou encerrados sem condenação.
Minhas impressões críticas: entre o que se sabe e o que se comenta
A trajetória de Lulinha exemplifica bem como, no Brasil, quando poder político e empreendedorismo se misturam, surgem “atalhos” — ou ao menos oportunidades interessantes — para ascensão econômica. Fundar uma empresa pequena, respirar com ajuda de aportes significativos (vindos de uma grande operadora de telefonia com capital público), e ser beneficiário de contratos aparentemente generosos é sempre terreno fértil para críticas — mesmo que, formalmente, não se prove ilegalidade.
A disparidade entre o que se sabe oficialmente (lucros declarados, dados da PF) e o que circula em boatos, rumores e investigações confusas reforça a sensação de opacidade. Por mais que não haja até hoje condenação, o histórico suscita desconfiança legítima: sob qual lógica uma empresa até então modesta atrairia investimentos vultuosos da Oi, justamente quando seu pai assumiu a presidência? Que valor real foi gerado — e para quem — desses contratos?
Agora, com as novas acusações no âmbito da CPMI do INSS, a sombra de uma “mesada suspeita” reacende o debate. Se a denúncia for provada, e implicar realmente em corrupção ou favorecimento, será um marco — não apenas sobre o patrimônio de Lulinha, mas sobre como impunidade e privilégio podem se camuflar em estruturas empresariais.
Mas até lá, o balanço é: há bases concretas e declaradas — modestas, porém reais. E há inverdades flagrantes e exageros nas versões mais bombásticas. O que permanece é um misto de ambiguidade, suspeita e desigualdade de informação — que, no Brasil, costuma favorecer os poderosos.




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