Weverton Rocha construiu pista de pouso ao lado de fazenda de R$ 15 milhões no Maranhão
Por Victório Dell Pyrro
No auge da “Farra do INSS” , o vice-líder do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e relator da indicação de Jorge Messias ao Supremo Tribunal Federal (STF), o senador Weverton (PDT-MA) comprou uma fazenda em Matões do Norte, município no interior do Maranhão, cujo valor é mais do que o triplo declarado por ele nas eleições de 2022.
A fazenda, de R$ 15 milhões, é cortada por um igarapé, tem um casarão de dois andares e área equivalente a 2 mil campos de futebol. Ao lado do imóvel, o senador logo construiu uma pista de pouso (no papel, Weverton não é dono de aeronaves, mas utiliza jatinhos com frequência no estado do Maranhão. Um deles pertence a um representante do lobista Antonio Carlos Camilo Antunes, o Careca do INSS.
O colunista Tácio Lorran do site Metrópoles teve acesso à escritura que registra a compra e venda de uma parte da fazenda, no valor de R$ 7 milhões, em setembro de 2024, auge dos descontos criminosos nas contas dos velhinhos aposentados e pensionistasdo INSS.
A área negociada é de 837 hectares. A compra foi realizada pela DJ Agropecuária, Comércio e Prestação de Serviços Ltda, que pertence ao senador. O documento diz ainda que a quitação ocorreu por meio de transferência bancária. Só de ITBI, imposto pago na transmissão de bens imóveis, Weverton pagou mais R$ 140 mil.
O restante da fazenda será escriturada conforme os pagamentos forem realizados, diz Tácio Lorran.

Nas eleições de 2022, quando disputou o governo do Maranhão, Weverton declarou ter um patrimônio de R$ 4,2 milhões, incluindo R$ 500 mil em espécie. A fazenda, portanto, custou 257% a mais que todos os bens do político. Weverton nega irregularidades.
O que existe de fato, e é documentado, é um conjunto de indícios de enriquecimento acelerado, movimentação de dinheiro vivo e vínculos com o esquema conhecido como “farra do INSS”, que já colocam o senador no centro de uma zona de suspeita.
Em abril deste ano, sete meses depois de concluir a compra de uma parte da fazenda, o senador adquiriu novo bem: um apartamento de R$ 1,2 milhão no Jardim Paulista, bairro nobre de São Paulo. O imóvel tem área de 250 metros quadrados e foi comprado em três parcelas, sendo uma inicial de R$ 300 mil e outras duas de R$ 450 mil, de acordo com a escritura.
Como senador, Weverton tem salário de R$ 46.366,19 brutos, o equivalente a R$ 29.170,24 líquidos.
Administrador de empresa de senador foi contador do Careca do INSS
A DJ Agropecuária Comércio e Prestação de Serviços Ltda tem capital social de R$ 10 mil, sendo 20% em nome do Weverton e 80% em nome da Rocha Holding Patrimonial Ltda, uma holding familiar do senador.
No papel, a DJ Agropecuária é administrada por Rodrigo Martins Correa, de 40 anos, contador que também era responsável pelas empresas do Careca do INSS. A informação foi revelada pelo jornal O Estado de S. Paulo.
Rodrigo Correa também é um dos donos da Voga, firma suspeita de operar empresas usadas para lavar dinheiro da Farra do INSS.
Farra do INSS e o entorno do senador
A CPMI do INSS e a Polícia Federal investigam um esquema de descontos indevidos em benefícios previdenciários, por meio de convênios com entidades como a Conafer e o Instituto Terra e Trabalho (ITT), que teria movimentado, só em 2024, R$ 142 milhões em cobranças sobre aposentados e pensionistas.
Nesse contexto, relatórios da PF apontam o consultor Rubens Oliveira Costa como operador financeiro do lobista Antonio Carlos Camilo Antunes, o “Careca do INSS”, com saques em espécie de até R$ 949 mil e forte incompatibilidade entre renda declarada e movimentação real.
Um ex‑assessor de confiança de Weverton, Gustavo Marques Gaspar, assinou procuração dando “amplos poderes bancários” justamente a Rubens Oliveira, criando um elo formal entre o esquema e o gabinete do senador.
Avião compartilhado e pressão na CPMI
Outro ponto de fricção é o uso de um jatinho executivo que aparece tanto nas rotas de Weverton quanto nas de Antonio Antunes.
Reportagem revelou que o senador foi flagrado desembarcando da mesma aeronave usada pelo “Careca do INSS” em voos frequentes entre Brasília, São Paulo e São Luís; o dono formal do avião, o advogado Erik Marinho, amigo de ambos, admite que empresta a aeronave ao político e ao lobista, embora tente tratar o compartilhamento como “mera coincidência”.
Com base nessas informações, deputados da CPMI pediram o plano de voo completo da aeronave e a convocação da empresária ligada à empresa aérea, para esclarecer quem pagou por quais deslocamentos e em que datas.
Patrimônio em alta e dinheiro vivo
Muito antes da “farra do INSS” estourar, a evolução patrimonial de Weverton já chamava atenção. Em 2014, o senador declarava cerca de R$ 300 mil em bens; em 2022, quando disputou o governo do Maranhão, seu patrimônio informado à Justiça Eleitoral havia saltado para aproximadamente R$ 4,2 milhões, um crescimento de 1.300%.
Entre os bens listados naquele pleito, figuram R$ 500 mil mantidos em dinheiro vivo, rubricados como “dinheiro em espécie – moeda nacional”, algo incomum para um agente público sujeito a fiscalizações e que aumenta a opacidade sobre a origem dos recursos.
A imprensa também registrou negócios de comunicação do senador, como a aquisição do Sistema Sinal Verde, operação cuja intermediação envolveu empresários já citados em outras investigações.
Defesa e impasse político
Weverton nega ter qualquer participação nas fraudes do INSS, afirma que jamais voou na mesma aeronave ao lado de Antonio Antunes e sustenta que seus auxiliares responderão individualmente por eventuais delitos. O discurso de “carona inocente” e de “assessor que extrapolou” contrasta com o volume de dinheiro em espécie, as conexões empresariais e a proximidade de figuras que hoje são tratadas pela PF como operadores centrais de um esquema que sangrou aposentados e pensionistas. Enquanto a CPMI tenta quebrar sigilos e avançar sobre a teia de assessores, jatinhos e consultorias, o patrimônio do senador — com ou sem fazenda de R$ 15 milhões — segue crescendo na contramão de quem vive com o benefício do INSS mutilado por descontos “sem desconto”.



