Governador Ibaneis deu a declaração durante a agenda deste sábado
O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), anunciou neste sábado, 13 de dezembro de 2025, a decisão de vender o Centro Administrativo do Distrito Federal (Centrad), empreendimento localizado entre Ceilândia e Taguatinga que permanece desocupado há cerca de 15 anos. Avaliado em aproximadamente R$ 600 milhões pela Companhia Imobiliária de Brasília (Terracap), o complexo será alienado por meio de processo licitatório, com o objetivo de recuperar parte dos recursos públicos investidos em uma estrutura que nunca entrou plenamente em funcionamento.
As obras do Centrad tiveram início em 2007, durante a gestão do então governador José Roberto Arruda, com a proposta de concentrar em um único espaço as secretarias e órgãos do Executivo local. Ao longo dos anos, a construção consumiu cerca de R$ 1,2 bilhão em contratos, mas o projeto acabou interrompido e jamais cumpriu sua finalidade original. Mesmo sem ocupação efetiva, o edifício gerou custos contínuos ao Governo do Distrito Federal, estimados em cerca de R$ 50 milhões por ano, relacionados à manutenção e à preservação da estrutura.
A prolongada subutilização do Centrad transformou o empreendimento em um passivo para os cofres públicos e em um símbolo de um planejamento urbano que não se concretizou. Além do impacto financeiro, a existência de um grande complexo fechado e sem uso contribuiu para a estagnação do entorno e dificultou a integração da área ao desenvolvimento da região administrativa.
Inicialmente, o governo avaliava alternativas como concessão ou ocupação gradual do prédio, mas optou pela venda integral após estudos técnicos e análises de viabilidade econômica. Um edital lançado em agosto deste ano previa a concessão do espaço, mas a estratégia foi revista para permitir a alienação definitiva do imóvel. A expectativa do Executivo local é atrair investidores privados dispostos não apenas a adquirir o complexo, mas também a realizar aportes adicionais em obras de infraestrutura viária e urbanização na área, estimados em cerca de R$ 300 milhões.
Segundo o governo, os órgãos que eventualmente utilizam partes do Centrad serão realocados antes da conclusão do processo de venda, prevista para ocorrer ao longo de 2026. Ao comentar a decisão, Ibaneis Rocha afirmou que o projeto original do centro administrativo não se mostrou compatível com a realidade administrativa e financeira do Distrito Federal, classificando-o como excessivamente grandioso. A venda, de acordo com o governador, representa uma tentativa de encerrar um ciclo de desperdício e dar destinação econômica a um patrimônio público que permaneceu improdutivo por mais de uma década.
Além do impasse administrativo, o Centro representa um dos exemplos mais emblemáticos de perda de recursos públicos associada a projetos de grande porte concebidos sem lastro financeiro sustentável. À época do lançamento, em 2007, o custo estimado da obra girava em torno de R$ 1,2 bilhão, valor já considerado elevado para os padrões do orçamento do Distrito Federal naquele período.
Atualizados pela inflação acumulada desde então, os valores investidos no Centrad ultrapassariam hoje a marca de R$ 2,5 bilhões, segundo estimativas com base em índices oficiais de correção monetária. Trata-se de um montante suficiente para financiar, por exemplo, a construção de dezenas de escolas, hospitais regionais ou importantes obras de mobilidade urbana em áreas historicamente carentes do DF. Na prática, porém, esse volume de recursos resultou em um complexo praticamente inoperante, que jamais cumpriu a função para a qual foi concebido.
O contraste entre o investimento original e a atual avaliação do imóvel escancara a dimensão da perda financeira. Avaliado hoje em cerca de R$ 600 milhões, o Centrad vale menos de um quarto do que efetivamente custaria aos cofres públicos em valores atualizados. A diferença bilionária traduz não apenas a depreciação física do imóvel ao longo dos anos, mas sobretudo o custo de oportunidade desperdiçado por uma iniciativa que imobilizou recursos sem gerar retorno administrativo, econômico ou social.
A concepção do projeto, durante o governo de José Roberto Arruda, é frequentemente citada por técnicos e gestores como um exemplo de iniciativa megalomaníaca, marcada pela ambição simbólica de erguer um “palácio administrativo” em escala incompatível com a capacidade de execução e manutenção do Estado. A aposta em um megaempreendimento único ignorou alternativas mais graduais e flexíveis, como a descentralização planejada de órgãos públicos ou a adaptação de estruturas já existentes.
Ao longo dos anos em que permaneceu vazio ou subutilizado, o Centrad continuou a consumir recursos públicos, com despesas anuais de manutenção estimadas em dezenas de milhões de reais. Esses gastos adicionais, somados ao investimento inicial corrigido, ampliam ainda mais o prejuízo acumulado e reforçam a avaliação de que o projeto se transformou em um passivo permanente para o Distrito Federal.
A decisão atual de vender o complexo busca, ainda que tardiamente, estancar essa sangria financeira. No entanto, mesmo com a alienação do imóvel, a comparação entre o que foi gasto e o que poderá ser recuperado evidencia uma perda histórica de dinheiro público associada a um modelo de gestão marcado por obras grandiosas, pouco realistas e desconectadas das prioridades estruturais da população do Distrito Federal.



