A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) renunciou ao mandato neste domingo, (14), por meio de uma carta enviada à Secretaria-Geral da Mesa da Câmara dos Deputados e endereçada ao presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB). Com a formalização da renúncia, a Mesa Diretora confirmou a convocação do suplente Adilson Barroso (PL-SP), que deve tomar posse já nesta segunda-feira, 15 de dezembro, encerrando oficialmente a passagem de Zambelli pela Câmara após uma das crises institucionais mais ruidosas dos últimos anos.
A decisão foi comunicada dois dias depois de a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal confirmar, por unanimidade, a ordem do ministro Alexandre de Moraes que determinou a perda imediata do mandato da parlamentar e a posse do suplente em até 48 horas. A determinação do STF ocorreu mesmo após o plenário da Câmara ter rejeitado, em 10 de dezembro, a cassação de Zambelli, quando 227 deputados votaram a favor da perda do mandato — número inferior aos 257 votos necessários para alcançar a maioria absoluta exigida pela Constituição.
Condenada pelo Supremo a dez anos de prisão por envolvimento na invasão de sistemas e na falsificação de documentos do Conselho Nacional de Justiça, Carla Zambelli está presa na Itália desde julho. Ela nega as acusações e sustenta ser alvo de perseguição judicial. A carta de renúncia foi divulgada em meio ao acirramento do embate entre o Legislativo e o Judiciário sobre quem detém a palavra final na perda de mandato de parlamentares condenados criminalmente.
No documento, dirigido ao presidente da Câmara, aos deputados e ao que chama de “povo brasileiro”, Zambelli afirma que sua saída não representa rendição. “Não renuncio por medo, por fraqueza ou por desistência”, escreveu, ao classificar a decisão como “extrema”. Segundo a ex-deputada, a renúncia seria um gesto político para registrar, nos autos da história, o que considera uma ruptura da vontade popular expressa nas urnas.
Em outro trecho central da carta, Zambelli sustenta que deixa o mandato para denunciar o que descreve como desrespeito institucional à decisão da Câmara. Ela afirma que o Parlamento, ao rejeitar a cassação, reconheceu a inexistência de provas para a perda do mandato, e critica a atuação do Supremo por, segundo sua versão, “impor” a cassação apesar do resultado da votação. “Um mandato legitimado por quase um milhão de votos foi interrompido”, escreveu, ao reforçar o tom de confronto entre os Poderes.
Ao longo do texto, a ex-parlamentar insiste em enquadrar a renúncia como um “marco de resistência”, e não como um ato de capitulação. “Mandatos podem ser interrompidos, mas a voz de meus eleitores permanece”, afirma em um dos parágrafos finais, buscando preservar sua imagem política mesmo fora do exercício do cargo. A narrativa construída na carta associa sua saída a um gesto simbólico, destinado a marcar posição no debate institucional e a reforçar sua versão de perseguição judicial.
A Mesa da Câmara confirmou o recebimento da carta ainda neste domingo e informou que Hugo Motta determinou imediatamente a convocação do suplente Adilson Barroso, também filiado ao PL de São Paulo. A posse está prevista para esta segunda-feira, 15, cumprindo o prazo estabelecido pelo STF para a substituição no cargo. Com isso, a vaga permanece com o mesmo partido, mas passa a ser ocupada por um parlamentar com trajetória própria e menor projeção nacional.
Com a renúncia, o processo de perda de mandato perde efeito prático em relação a Carla Zambelli, embora permaneçam intactas a condenação criminal imposta pelo Supremo e suas consequências jurídicas. No plano político, a saída altera a composição da bancada paulista do PL e encerra um dos capítulos mais tensos da relação recente entre Câmara e STF.
Nos bastidores de Brasília, a avaliação predominante é de que a renúncia buscou antecipar os efeitos da decisão judicial e evitar a imagem formal de uma deputada cassada pelo Supremo. Aliados destacam que Zambelli foi uma das mais votadas em 2022 e tentam preservar seu capital político, enquanto críticos lembram que a renúncia ocorre após uma condenação criminal grave. A expectativa agora é de que a defesa concentre esforços em recursos judiciais e em estratégias para tentar manter seus direitos políticos, enquanto a Câmara segue adiante com a posse do suplente e o encerramento administrativo do caso.



