MPF pediu R$5 milhões de indenização de senadora por suposta “fake news” sobre o estupro de crianças em Marajo, mas números apontam como sendo quase o dobro da média nacional de violência sexual contra crianças
Quase um ano depois que o Ministério Público Federal (MPF) no Pará ajuizou uma ação civil pública para que a ex-ministra e atual senadora Damares Alves (Republicanos-DF) e a União paguem uma indenização de R$ 5 milhões à população do Arquipelágo do Marajó, alegando serem falsas as informações de abuso sexual e tortura contra crianças marajoaras, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o estado do Pará descobre 3.648 casos de exploração sexual de menores de idade.
O número é escandaloso e revela quase o dobro da média nacional, de 2.449 registro de estupros de crianças.
A pobreza na região é apontada como um dos fatores responsáveis pelo altíssimo índice de casos de exploração sexual de crianças, como afirmara Damares Alves, que sofreu severas críticas por denunciar exagerando com histórias sobre ” arrancar dentes das crianças para sexo oral ou comida pastosa para sexo anal”.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sem ter acessi aos dados alarmantes de violência sexual contra as meninas do arquipélago, revogou, em setembro, o programa “Abrace o Marajó”, criado em 2019, durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), encabeçado pela então ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves.
Agora, diante dos números, o promotor do Ministério Público do Pará (MPPA) Luiz Gustavo da Luz Quadros reconhece que o número é grave, mas apesar dos números, tentou desqualificar a gravidade dos estupros citando em entrevista para o jornal Metropoles imagens que circulam na internet de meninas subindo nos barcos para serem abusadas em troco de esmolas dos estupradores.
“Bom, as imagens que eu observei estão descontextualizadas no sentido de que não dá para identificar qual foi o período em que aquela imagem ela foi captada, qual foi o local específico que ela foi captada.” Afirmou.
O promotor deixa escapar que o MPF não tem planejamento e organização para investigar os crimes contra as menores.
“Porque, a partir daí, nós poderemos traçar uma estratégia de investigação a fim de apurar aquelas circunstâncias específicas”, afirma Quadros”, diz confessando nãohaver estratégia.
O representante do MP tenta jogar a culpa da desorganização na pandemia da Covid-19.
“Existem muitos vídeos que foram realizados antes da pandemia, onde havia várias situações, principalmente das meninas balseiras que iam de ‘rabeta’, adentravam nas balsas, nos transportes fluviais aqui da nossa região e que naquele contexto havia vários casos de abuso sexual”, reconhece.
O promotor atua em Muaná, um dos municípios do Arquipélago do Marajó. A região ainda conta com Afuá, Anajás, Bagre, Breves, Cachoeira do Arari, Chaves, Curralinho, Gurupá, Melgaço, Ponta de Pedras, Portel, Salvaterra, Santa Cruz do Arari, São Sebastião da Boa Vista e Soure.
Dessa vez, o escândalo de exploração sexual de crianças ganhou repercussão e chamou a atenção de influenciadores após a cantora Aymeê fazer fortes relatos sobre o tema em um programa de competição musical, na última sexta-feira (16).
Após cantar a artista declarou: “Marajó é uma ilha a alguns minutos de Belém, minha terra. E lá tem muito tráfico de órgãos. Lá é normal isso. Tem pedofilia em nível hard”. “Marajó é muito turístico, e as famílias lá são muito carentes. As criancinhas de 6 e 7 anos saem numa canoa e se prostituem no barco por R$ 5”, completou a artista.
Em 2010, após a exploração sexual infantil ser tema de comissões locais, o senado se debruçou sobre dezenas de denúncias e relatos de que o arquipélago concentrava diversos casos de violência sexual contra crianças e adolescentes.
Durante a CPI, os parlamentares também mencionaram o caso do ex-deputado Luiz Afonso Sefer, condenado, anos mais tarde, a 20 anos de prisão pelo crime de estupro de vulnerável. Ele foi acusado de adotar uma criança aos 9 anos, prometendo trabalho, mas iniciou os abusos dias após a chegada da menina.
A comissão também destacou a exploração sexual nas embarcações, principalmente nas balsas e navios de transporte de cargas para a cidade Manaus, identificada como “rota da exploração sexual”, abrangendo, principalmente, os municípios de Portel, Muaná, Breves, Curralinho, São Sebastião da Boa Vista e Gurupá.
O bispo Dom José Luis Azcona, que há décadas luta contra a exploração de menores na ilha, teve participação importante na CPI e voltou a chamar atenção para o caso novamente em 2015, ao relatar que crianças se ofereceram aos ocupantes de balsas com consentimento familiar.
Em 2023, após receber um pedido para deixar a região da representação diplomática do Vaticano, houve protestos locais e a liderança religiosa se manteve na região.