Putin não conseguiu evitar o cortejo, mesmo ameaçando que qualquer aglomeração seria considerada violação da lei. Cerimônia foi acompanhada por forte presença policial.
Mesmo sob ameaça de prisão emitida pelo Kremlin, milhares de opositores a Putin compareceram nesta sexta-feira (1º) às ruas de Moscou para prestar as últimas homenagens ao líder da oposição, Alexei Navalny, assassinado em uma prisão isolada na Rússia.
O cortejo e o enterro foram acompanhados por milhares de policiais sob rigorosas medidas de segurança intimidadoras.
Mesmo assim, uma multidão se reuniu diante de uma igreja ao sudeste de Moscou e nos arredores do cemitério onde o corpo de Navalny foi sepultado. Várias pessoas estavam com flores, e muitas choravam. Durante vários momentos, simpatizantes gritavam “Navalny! Navalny!”.
Porém as cerimônias fúnebres finais foram restritas a familiares e amigos.
O corpo do principal crítico de Vladimir Putin foi brevemente exposto em uma igreja em Maryno, um distrito no sudeste da capital russa, na presença dos seus familiares.
O carro funerário que transportava o caixão de Navalny chegou ao templo sob aplausos da multidão.
Cumprindo o rito ortodoxo, seu corpo foi exposto em um caixão aberto, coberto com dezenas de flores vermelhas e brancas. Várias pessoas carregavam velas ou flores. O caixão do opositor de Putin foi transportado para o cemitério de Borisovo, perto da igreja e a poucos passos do rio Moskva.
Desde o início da manhã, uma longa fila de milhares de pessoas se formou, em meio à alta vigilância policial, em frente à igreja, localizada no bairro onde Navalny morava antes de ser preso.
Forças de segurança instalaram barreiras na região e agentes atiradores e com comunicadores foram posicionados em telhados nos arredores.
“Estamos todos juntos aqui. Ninguém tem medo”, disse um homem, que não revelou seu nome, a um repórter do jornal independente Novaya Gazeta. “Estou aqui para apoiar sua família e mostrar que eles não estão sozinhos.”
Segurando flores vermelhas, um idoso de 73 anos, disse que sentiu a morte de Navalny como uma perda pessoal e que o admirava por sua coragem e por falar francamente.
Outra mulher que estava na fila disse que Navalny era seu herói, enquanto um jovem próximo saudou o falecido político da oposição como “um símbolo de resistência” e disse que estava lá para mostrar que nem todos na Rússia apoiam as autoridades.
Segundo o Kremlin, qualquer agllomeração não autorizada em apoio a Navalny, que era o principal adversário do regime de Vladimir Putin, constituiria violação da lei.
“Apenas um lembrete de que temos uma lei que deve ser seguida. Quaisquer reuniões não autorizadas estarão violando a lei, e aqueles que participarem delas serão responsabilizados – novamente, de acordo com a lei atual“, afirmou o porta-voz do governo russo, Dmitry Peskov.
Alexei Navalny morreu na prisão, aos 47 anos, no ultimo dia 16. Seus partidários acusam o regime de Putin de assassinato.
Ele havia sido detido por forças russas em janeiro de 2021 após retornar da Alemanha, onde foi tratado por uma suspeita de envenenamento. Navalny foi sentenciado à prisão até completar 74 anos por acusações que, segundo ele, foram forjadas para mantê-lo afastado da política.
Em dezembro do ano passado, Navalny passou mais de 20 dias desaparecido. Ele havia sido transferido para uma colônia penal no Ártico, em local isolado e muito frio.
O ex-advogado ganhou fama há mais de uma década ao satirizar a elite do presidente Vladimir Putin e fazer acusações de corrupção. Na década de 2010, por exemplo, liderou um movimento contra Putin que levou milhares de pessoas às ruas do país.
Três figuras proeminentes da oposição russa, Yevgeny Roizman, Boris Nadezhdin e Ekaterina Duntsova, assim como os embaixadores da França e da Alemanha, compareceram ao funeral.