Cientistas transferiram parte das habilidades de resistência dos ursos-d’água para as células humanas, após adicionar uma proteína especial
Os minúsculos tardígrados, também chamados de ursos-d’água, podem conferir temporariamente “superpoderes” a células humanas, como a desaceleração do metabolismo, em experimento in vitro (feito em laboratório).
Os ursos-d’água são conhecidos por serem uma das criaturas mais resistentes do planeta.
Pesquisadores da Universidade de Wyoming, nos Estados Unidos, adicionaram proteínas específicas dos tardígrados em células humanas. Como resposta a essa adição, as células reduziram a atividade do metabolismo e perderam grandes quantidades de água, o que aumenta o tempo de vida delas, em momentos de estresse. Os resultados foram descritos na revista Protein Science.
Superpoderes dos tardígrados
Por trás da resistência dos tardígrados está a capacidade de perder quase toda a água do organismo, entrando em uma forma latente. É ela que concede poderes quase únicos de sobrevivência na natureza, independente do cenário adverso.
Por exemplo, eles conseguem sobreviver a enormes variações de temperaturas — isso inclui ser congelado ou mesmo aquecido a uma temperatura de mais de 140 ºC. Anteriormente, já se descobriu que eles podem se manter vivos apesar do vácuo espacial.
Para ser preciso, no estado de latência, os tardígrados reduzem a sua taxa metabólica para algo próximo de 0,01% e perdem até 99% da água presente em seu organismo. É um estado de animação suspensa chamado de biostase, onde são ativadas proteínas capazes de formar géis dentro das células e retardar todos os processos vitais, incluindo o envelhecimento.
Proteínas aplicadas em células humanas
No experimento norte-americano, a equipe introduziu justamente as proteínas especiais nas células humanas. “Surpreendentemente, quando introduzimos estas proteínas nas células humanas, elas [também] formaram um gel e retardaram o metabolismo, tal como nos tardígrados”, afirma em nota, Silvia Sanchez-Martinez, pesquisadora da Universidade de Wyoming e principal autora do estudo.
“Assim como os tardígrados, quando você coloca células humanas que possuem essas proteínas em biostase, elas se tornam mais resistentes ao estresse, conferindo algumas das habilidades dos tardígrados às células humanas”, acrescenta a pesquisadora.
O mais interessante é que todo o processo parece ser reversível. Com o fim da situação limite, os géis formados se dissolvem e as células humanas voltam a funcionar normalmente, com a mesma taxa de metabolismo anterior.
Uso potencial dos tardígrados
A partir das descobertas com os tardígrados, os cientistas acreditam ter encontrado um novo caminho de pesquisa para retardar o envelhecimento de células humanas e melhorar o armazenamento celular, dentro do laboratório.
No futuro, será possível desenvolver técnicas usando as proteínas das criaturas mais resistentes do mundo para preservar células humanas por longos períodos, sem a necessidade de refrigeração. Isso também pode ajudar no aumento da validade de medicamentos.