Estudantes e professores da Universidade de Brasília buscam fungicida para combater a praga da ferrugem asiática da soja e investigam mudanças climáticas
Professor da UnB Paulo Câmara recolhe material biológico na Antártica para a pesquisa – (crédito: Divulgação
Em busca de combater a ferrugem asiática, uma praga que afeta plantações de soja em todo o mundo, pesquisadores e estudantes do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade de Brasília (IB/UnB) estão desenvolvendo um novo fungicida.
Estudos apontam que a praga na agricultura brasileira cause a perda de 50% da produção da soja. A pesquisa faz parte do Programa Antártico Brasileiro (ProAntar) e busca, por meio de estudos realizados na vegetação antártica, soluções que possam reduzir significativamente as perdas na agricultura.
Os estudos dos musgos da vegetação antártica, que abrigam organismos conhecidos como extremófilos — seres que sobrevivem em condições extremas de frio são realizados pela equipe que coleta amostras de ar, água, solo, vegetação e neve.
,O material é usado para avaliar se suas substâncias podem ser usadas como remédios ou pesticidas. Para testar suas propriedades, os biólogos criam extratos semelhantes a “chás” com os musgos e já obtiveram alguns resultados promissores na criação de um fungicida eficaz.
Um outro fungo encontrado na Antártica vem matando a vegetação local há cinco anos. Esse elemento ainda não foi completamente identificado, e os pesquisadores acreditam que ele pode ser formado por um conjunto de microrganismos que atuam em diferentes fases, causando danos severos à flora antártica. Embora esse fungo não tenha relação direta com o que causa a ferrugem na soja, ele também é foco de estudos devido ao seu potencial impacto ambiental e possibilidade de chegar ao Brasil.
- Novo fungo encontrado na Artártica está em estudo por causa de seu potencial risco ao planeta Divulgação
- Pesquisadores da UnB que integram o ProAntar, realizam estudos no continente Antártico Divulgação
- A equipe atua em diversas frentes de pesquisa, como de espécies ameaçadas e sobre a conservação de ecossistemas polares Divulgação
- Pesquisadores Paulo Câmara e Micheline Carvalho, da UnB que integram o ProAntar, realizam estudos no continente Antártico Divulgação
Criado há 43 anos, o ProAntar tem papel fundamental no estudo do continente, com o suporte da Marinha e de diversos ministérios e instituições de pesquisa do Brasil. A UnB participa do programa há 11 anos, desde que seu primeiro projeto foi aprovado em 2013, seguido por outros em 2018 e 2023.
Coordenado pelo professor Paulo Câmara, a pesquisa destaca o potencial biológico do continente gelado para o desenvolvimento de materiais agrícolas e a cura de doenças, além de ser a região de maior riqueza mineral do planeta. “A maior reserva de tudo está na Antártica, e são reservas intocadas. Em um futuro, na minha interpretação, haverá conflitos por esses recursos, caso acabe acabem a água e o petróleo, por exemplo. Por isso, o Brasil precisa manter sua presença lá”, aponta o professor.
A professora Micheline Carvalho, professora de Botânica da UnB ainda acrescenta sobre a importância desses estudos no continente Antártico. “É um continente ainda isolado do planeta, com pouca interferência humana. Então, lá nós temos a vida como ela é, as coisas na sua forma mais natural, na sua forma mais pura. Para nós pesquisadores da área da biologia, da vida, é magnífico ter a possibilidade de realizar estudos em um ambiente tão rico”, diz.
O trabalho também inclui o levantamento da diversidade de plantas e fungos antárticos e a investigação de suas aplicações em áreas como a indústria farmacêutica e química. Entre as frentes de pesquisa estão a elaboração de uma lista de espécies ameaçadas de extinção, a conservação de ecossistemas polares e o estudo de surfactantes biodegradáveis que podem ser utilizados na fabricação de cosméticos e produtos de limpeza.
Outro ponto importante da pesquisa envolve o monitoramento das mudanças climáticas na Antártica, que podem impactar diretamente o Brasil. “Tudo o que acontece lá, afeta a gente aqui, desde o clima até os recursos naturais, como as enchentes e as frentes frias. Elas vêm do sul, mas impactam em todo o território, até mesmo no Centro-Oeste”, diz Câmara.
O Projeto é financiado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia através do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal (CAPES), do Ministério da Educação e também da Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos (Finatec).