Entidade do setor audiovisual critica direcionamento majoritário para projetos ligados à inclusão e diversidade.
Texto Original por Constancio Viana Coutinho
A Petrobras anunciou recentemente a lista de 140 projetos culturais que receberão patrocínio até 2027, totalizando um investimento de R$ 250 milhões.
A iniciativa, que faz parte de seu edital de incentivo à cultura, contempla produções diversas, como filmes, festivais, shows e exposições. Porém, o alto percentual destinado a projetos com enfoque em diversidade e inclusão gerou controvérsias.
Conforme divulgado pelo Sindicato da Indústria Audiovisual (Sicav), 94% dos projetos contemplados pelo edital estão alinhados à Política de Inclusão e Diversidade da estatal. Em carta enviada à presidente da Petrobras, Magda Chambriard, o sindicato destacou que produtoras reconhecidas por seu histórico e potencial de alcance no mercado nacional e internacional foram em grande parte preteridas.
“Estamos assistindo a uma desconstrução da indústria audiovisual nacional”, declarou o Sicav. Para a entidade, essa priorização restringe o espaço de produtoras que há anos trabalham para consolidar o cinema brasileiro em nível global, desafiando a hegemonia de países como os Estados Unidos.
Impacto no setor audiovisual
Embora o Sicav reconheça a importância de políticas de inclusão e diversidade para fomentar a pluralidade cultural, o salto de 25% para 94% do edital dedicado a tais projetos foi classificado como um “desbalanceamento excessivo”.
– Essa mudança impacta diretamente a sustentabilidade da já frágil indústria audiovisual brasileira, ameaçando milhares de postos de trabalho em diferentes áreas, como atuação, direção, maquiagem, figurino e fotografia – destacou a entidade.
O sindicato também criticou a exclusão de produtoras consagradas do mercado, comparando a medida à troca de poços de petróleo consolidados por novas fontes ainda incertas. Segundo o Sicav, isso enfraquece a capacidade do Brasil de competir em festivais de cinema e em grandes bilheterias globais.
O posicionamento da Petrobras
Em resposta às críticas, a Petrobras afirmou que os projetos selecionados refletem o perfil das propostas recebidas. Segundo a estatal, mais de 8 mil inscrições foram avaliadas, e 91% delas incluíam como responsáveis ou temáticas principais pessoas de grupos historicamente sub-representados, como mulheres, negros, indígenas e LGBTQIAPN+.
– Esse resultado reflete a capacidade do mercado cultural brasileiro de atender ao nosso objetivo de promover a diversidade, valorizando regionalidades e ampliando oportunidades em diferentes territórios – declarou a Petrobras.
A estatal também ressaltou que continuará apoiando produtoras de renome no cinema nacional, como Tambellini Filmes e Barreto Produções Cinematográficas. Além disso, mencionou iniciativas de grande relevância, como o Sessão Vitrine Petrobras, a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, e festivais tradicionais como Gramado e Vitória.
– Reafirmamos nosso compromisso com a cultura brasileira, buscando equilibrar a diversidade e a representatividade com o fortalecimento do setor audiovisual como um todo – concluiu a estatal.
O perfil dos projetos e as regras do edital
Apesar do posicionamento da Petrobras, que justifica o perfil dos projetos aprovados como reflexo do número elevado de propostas relacionadas a grupos historicamente sub-representados – como mulheres, negros, indígenas e LGBTQIAPN+ –, críticos apontam que essa característica foi diretamente induzida pelo próprio edital. Os critérios estabelecidos obrigaram as produtoras interessadas a se enquadrarem nessa “ideia woke”, submetendo-se às exigências impostas para atender ao movimento. Dessa forma, a justificativa da Petrobras perde força, já que as possibilidades para as produtoras estavam previamente limitadas pela estrutura do edital.
A crítica da entidade foi publicada pelo site cinemaearte