Cuoco atuou no teatro, cinema e televisão. Último papel de Cuoco na TV foi em 2023 quando fez uma participação na série ‘No Corre’, do Multishow
O Brasil se despede nesta quinta-feira (19) de um dos maiores nomes da televisão, teatro e cinema nacionais: o ator Francisco Cuoco, que faleceu aos 91 anos, após cerca de 20 dias internado no Hospital Albert Einstein, em São Paulo. A morte foi confirmada por familiares. A causa não foi divulgada, mas ele enfrentava complicações decorrentes da idade e de uma infecção causada por um ferimento, além de problemas nos rins e crises de ansiedade.
Cuoco construiu uma carreira brilhante e extensa, marcada por personagens carismáticos, voz rouca e grave, e um estilo sedutor que o consagrou como um dos grandes galãs da televisão brasileira, especialmente nas décadas de 1970 e 1980.
Nos últimos anos, o ator enfrentava problemas de saúde, como dificuldade de locomoção, ansiedade e sobrepeso, chegando a pesar cerca de 130 kg. Morava com a irmã Grácia, com quem dividia a rotina doméstica e os cuidados de duas cuidadoras. Em entrevistas recentes, demonstrava lucidez e orgulho da trajetória, ainda que lidasse com as limitações da idade.
“Sei que não foi à toa. Foi baseado em empenho, em entrega, em busca de igualdade”, afirmou Cuoco em sua última entrevista. “Agora, quero só tocar o barco”, disse, resignado.
Recebeu, ainda em vida, uma homenagem do programa Tributo, da TV Globo, exibido no mês passado. Já debilitado, participou com dificuldades das gravações, mas deixou registrado seu legado artístico e humano.
Francisco Cuoco deixa três filhos: Rodrigo, Diogo e Tatiana, que vive em Londres e chegou a visitar o pai no hospital, já em estado de inconsciência.
O Brasil perde um artista completo, um homem cuja presença nas telas e palcos ajudou a construir a identidade cultural do país. Francisco Cuoco seguirá vivo na memória afetiva de milhões de brasileiros e na história da dramaturgia nacional.
Das feiras do Brás aos palcos do país
Nascido em 29 de novembro de 1933, no bairro do Brás, em São Paulo, Francisco Cuoco veio de uma família humilde de origem italiana. Seu primeiro emprego foi como feirante, ajudando o pai. Nos anos 1950, começou a trilhar o caminho artístico ao ingressar na Escola de Arte Dramática, hoje ligada à Universidade de São Paulo (USP).
A estreia profissional nos palcos veio em 1958, ao lado de Fernanda Montenegro e Sérgio Britto, na peça A Muito Curiosa História da Virtuosa Matrona de Éfeso, sob direção de Alberto D’Aversa. Na montagem, Cuoco interpretava um gladiador que já entrava morto em cena e não tinha falas. No ano seguinte, integrou a formação do Teatro dos Sete, ao lado de nomes como Gianni Ratto e Ítalo Rossi.
Ascensão na TV e o título de galã
Cuoco iniciou sua trajetória na televisão em teleteatros da TV Tupi, até estrear sua primeira novela, Marcados Pelo Amor (1964), na TV Record. Dois anos depois, foi protagonista de Redenção (1966), de Raimundo Lopes, papel que consolidou sua imagem de galã. Em 1968, protagonizou seu primeiro par romântico com Regina Duarte, em Legião dos Esquecidos, repetindo o sucesso posteriormente em Selva de Pedra (1972), um marco de audiência da Rede Globo.
Em Pecado Capital (1975), deu vida ao taxista Carlão, e dois anos depois, viveu um de seus personagens mais marcantes: o charlatão Herculano Quintanilha, em O Astro (1977), de Janete Clair, autora com quem manteve forte vínculo profissional. A trama se tornou um clássico da teledramaturgia, e Cuoco participou da regravação em 2011, dessa vez em papel coadjuvante, sendo homenageado por Rodrigo Lombardi, intérprete do novo Herculano.
Outro papel de destaque veio em O Outro (1987), de Aguinaldo Silva, quando Cuoco interpretou dois personagens — o empresário Paulo Della Santa e seu sósia, Denizard de Mattos — em uma trama de suspense e reviravoltas.
Teatro, cinema e fé
Apesar do grande sucesso na TV, Cuoco jamais abandonou os palcos. Em 2004, retornou com a peça Três Homens Baixos, de Rodrigo Murat. Voltou também com Circuncisão em Nova York (2008), Deus é Química (2009) e Uma Vida no Teatro (2013), montagem dirigida por Alexandre Reinecke.
No cinema, esteve em produções como Traição (1998), Gêmeas (1999), Cafundó (2005) e Um Anjo Trapalhão (2000), exibindo sua versatilidade também nas telonas.
Cuoco ainda se aventurou como cantor. Em 1975, gravou o álbum Solead, com repertório romântico. Mais tarde, lançou o CD Paz Interior, com orações católicas, revelando sua devoção religiosa.


