A bolsa de valores brasileira recuou 2,10%, aos 134.432 pontos. Já a moeda norte-americana fechou em alta de 1,19%, cotada a R$ 5,4993
O mercado financeiro brasileiro enfrentou uma terça-feira turbulenta (19 de agosto), marcada por forte aversão a risco após uma decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Flávio Dino, para impactar diretamente a aplicação da chamada Lei Magnitsky no país. Resultado: o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (B3), caiu 2,20% e fechou aos 134.295 pontos. O setor bancário foi o principal responsável pelo tombo e as incertezas levaram o dólar a disparar 1,19%, encerrando o dia cotado a R$5,49.
O que está por trás da queda: a decisão de Flávio Dino e a Lei Magnitsky?
A forte onda vendedora de ações, especialmente em bancos, foi desencadeada após Flávio Dino proibir que decisões judiciais e sanções estrangeiras — como a Lei Magnitsky, frequentemente usada pelos Estados Unidos para punir agentes envolvidos em violações graves de direitos humanos e corrupção — tenham efeito automático no Brasil sem homologação do STF. O despacho de Dino foi motivado por processos ligados ao desastre ambiental de Mariana e Brumadinho, mas, pelo teor jurídico, abre brechas para outros casos, incluindo as recentes sanções impostas pelos EUA ao ministro Alexandre de Moraes.
A decisão deixou o sistema financeiro nacional em uma situação definida como “inédita, complexa e insolúvel” por especialistas do setor. Grandes bancos estão agora diante de um impasse: seguir as restrições impostas pelo governo americano ou acatar a decisão do Supremo brasileiro. Caso decidam não cumprir sanções, as instituições podem sofrer represálias no exterior, inclusive nos Estados Unidos, onde mantêm operações e ativos, além de utilizarem o dólar como moeda de transação. Se aderirem integralmente às sanções, podem ser punidas ou questionadas judicialmente no Brasil.
Impacto direto nos bancos e no Ibovespa
O risco regulatório e jurídico inédito fez os papéis dos principais bancos desabarem:
- Banco do Brasil (BBAS3): -6,07%
- Itaú Unibanco (ITUB4): -3,71%
- Bradesco (BBDC4): -3,49%
- Santander (SANB11): -3,48%
- BTG Pactual (BPAC11): -3,39%
Como o setor bancário possui grande peso no Ibovespa, o efeito cascata foi imediato, levando o índice a fechar em forte queda mesmo com a performance positiva de alguns exportadores do agronegócio e proteínas, beneficiados pela valorização do dólar.
Dólar dispara e tensão com os EUA aumenta
A tensão aumentou após a embaixada dos Estados Unidos afirmar, via redes sociais, que “nenhum tribunal estrangeiro pode anular as sanções impostas pelos EUA ou proteger alguém das severas consequências de descumpri-las”. O risco de retaliações, menor apetite por risco e busca por proteção fizeram o dólar avançar para seu maior patamar em semanas, chegando a R$5,50.
Outros setores
Enquanto bancos afundavam, as ações de exportadoras de carne como Minerva, JBS e Marfrig ficaram entre as poucas apostas positivas do pregão, impulsionadas pelo dólar valorizado e aumento da demanda externa. Já a Raízen (RAIZ4) caiu 3,28% após a Petrobras anunciar a desistência de novos investimentos na companhia, afetando também o humor do mercado de energia.
O que especialistas dizem?
Analistas consideram o cenário de “impasse institucional” entre regras estrangeiras e soberania legal brasileira como sem precedentes para o sistema financeiro. O temor do mercado é que a crise entre Brasil e Estados Unidos se aprofunde, com potenciais consequências diretas para a liquidez internacional e as operações dos maiores bancos do país.
A terça-feira, 19 de agosto de 2025, entrou para o radar dos investidores como um dia de alta volatilidade, marcada pelo choque entre diplomacia, legislação internacional e as engrenagens do mercado financeiro nacional.

