A Associação Brasileira de Combate à Falsificação (ABCF) afirma que os casos de intoxicação por metanol após consumo de bebida alcoólica adulterada podem ter ligação com atividades da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital).
A associação divulgou nota neste domingo (28) apontando a possível ligação entre o esquema ilegal de importação do PCC e a cadeia de falsificação de bebidas com metanol, que vem causando intoxicações e mortes.
De acordo com a ABCF, o metanol clandestino utilizado para adulterar combustíveis, descoberto em operação policial recente que revelou postos vendendo gasolina com até 90% da substância — muito acima do limite de 0,5% permitido pela ANP — pode ter sido desviado e revendido para destilarias clandestinas envolvidas na falsificação de bebidas alcoólicas.
Essas quadrilhas se aproveitam da complexa rede de distribuição do crime organizado, especialmente do PCC, para abastecer o mercado ilegal de bebidas adulteradas, sobretudo em áreas urbanas de média e baixa renda.
A gravidade do problema é refletida nos casos confirmados de intoxicação por metanol: pelo menos duas pessoas morreram, uma em São Paulo e outra em São Bernardo do Campo, enquanto outros dez casos estão sendo investigados pelo Centro de Vigilância Sanitária do Estado de São Paulo.
A intoxicação ocorre porque o metanol é um álcool tóxico e inflamável, difícil de ser detectado, e pode ser confundido facilmente com o etanol presente nas bebidas alcoólicas legítimas.
A associação alerta que a entrada do crime organizado no mercado de bebidas adulteradas aumenta drasticamente os desafios da fiscalização, pois os grupos como o PCC possuem grande capacidade financeira, logística e rede de distribuição, além de já estarem envolvidos há anos no comércio ilegal de combustíveis.
A desativação do sistema de controle da produção de bebidas, que era administrado pela Receita Federal e pela Casa da Moeda, contribuiu para o crescimento exponencial das bebidas falsificadas.
O diretor de comunicação da ABCF, Rodolpho Ramazzini, destacou que o metanol usado nas bebidas pode ser “sobras” do etanol apreendido nos estoques do PCC durante operações contra o contrabando e lavagem de dinheiro, especialmente na chamada Operação Carbono Oculto.
Com o fechamento de distribuidoras ligadas à facção, o metanol teria sido repassado a quadrilhas de falsificadores para obter lucros milionários, em prejuízo direto à saúde dos consumidores.
Além do impacto econômico e fiscal, o maior prejuízo está para a saúde da população, que corre risco de intoxicação grave e morte com o consumo dessas bebidas adulteradas que não respeitam nenhuma regra de segurança e regulamentação.
O caso reforça a necessidade de atenção redobrada por parte dos consumidores para adquirirem bebidas apenas de fabricantes legalizados, com rótulos, selos fiscais e lacres de segurança, e aumenta a pressão sobre as autoridades para intensificar o combate às redes criminosas responsáveis por esse grave problema de saúde pública.
Esta suspeita de participação do PCC no esquema de falsificação das bebidas com metanol está inserida no contexto da maior operação contra o crime organizado já realizada no Brasil, com desdobramentos que atingem diversos setores ilegais controlados pela facção criminosa paulista

