O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vetou os principais trechos do projeto aprovado no Congresso Nacional que buscava alterar a Lei da Ficha Limpa, legislação que determina os critérios de inelegibilidade de políticos condenados por crimes eleitorais e corrupção.
A proposta tinha potencial para beneficiar diretamente nomes como José Roberto Arruda, Anthony Garotinho e Eduardo Cunha, todos figuras centrais da política nacional com histórico de condenações judiciais.
O que mudaria na Ficha Limpa
Aprovado pelo Congresso no início de setembro, o projeto pretendia uniformizar o tempo de inelegibilidade — sempre oito anos — e modificar a contagem desse período. Em vez de começar após o fim do mandato ou o término do cumprimento de pena, como é atualmente, o novo texto permitia que a contagem se desse a partir da condenação em órgão colegiado. Assim, políticos condenados poderiam retornar mais rápido às disputas eleitorais, inclusive em 2026.
A proposta também previa a retroatividade das novas regras, abrindo espaço para que condenações anteriores fossem afetadas pelos prazos mais flexíveis.
Essas alterações permitiriam, por exemplo, que Arruda, Garotinho e Cunha — todos afastados da política por conta de decisões judiciais baseadas em abuso de poder e corrupção — voltassem a disputar eleições já no próximo ciclo eleitoral.
Razões e justificativa dos vetos
O Palácio do Planalto vetou os dispositivos centrais do projeto, especialmente os que mudavam o marco inicial de inelegibilidade e permitiam efeitos retroativos. Segundo o governo, o objetivo é preservar a isonomia, a segurança jurídica e a coisa julgada, além de seguir a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, que já consolidou entendimento sobre o tema.
A decisão foi tomada seguindo pareceres da Advocacia-Geral da União e do Ministério da Justiça, que avaliaram que as mudanças fragilizariam conquistas da legislação original de 2010, considerada um marco no combate à corrupção na política.
A medida resgata também o ambiente de pressão popular contra retrocessos da legislação e ocorre diante do desgaste de iniciativas como a “PEC da Blindagem”, rejeitada pela opinião pública e por entidades sociais.
Situação de Arruda, Garotinho e Cunha
José Roberto Arruda, Anthony Garotinho e Eduardo Cunha são os principais políticos potencialmente beneficiados pelo projeto aprovado no Congresso.
Cassados ou condenados por corrupção ou abuso de poder político, permanecem inelegíveis pelos prazos atuais. Com o veto presidencial, sua situação permanece inalterada, impedindo que concorram já em 2026.
Congresso pode derrubar veto?
O veto presidencial volta ao Congresso Nacional, que pode mantê-lo ou derrubá-lo em votação conjunta. Para derrubar o veto são necessários votos da maioria absoluta dos deputados (257) e dos senadores (41).
Caso o Congresso rejeite o veto, a lei passa a valer com as alterações aprovadas inicialmente.
Se o veto for mantido, as regras atuais da Lei da Ficha Limpa seguem em vigor.Importância da Ficha LimpaA Lei da Ficha Limpa, criada em 2010, é considerada uma das principais ferramentas legais contra corrupção e favorecimento eleitoral indevido. Sua aplicação já resultou em centenas de impedimentos de candidaturas em todas as esferas do país, incluindo os próprios políticos agora novamente barrados pela decisão.

