Eduardo Tagliaferro, ex-assessor do ministro Alexandre de Moraes no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), foi detido pela polícia italiana nesta quarta-feira, 1º de outubro de 2025.
A detenção ocorreu no contexto de um pedido de extradição feito pelo ministro Alexandre de Moraes, que acusa Tagliaferro de vazamento de informações sigilosas trocadas entre servidores do gabinete de Moraes.
A Procuradoria-Geral da República (PGR) denunciou Tagliaferro, e o Ministério da Justiça brasileiro encaminhou o pedido de extradição ao governo italiano em agosto.
Tagliaferro, que tinha cidadania italiana, mudou-se para a Itália para escapar de possíveis medidas judiciais no Brasil após o vazamento das mensagens internas relacionadas a investigações contra apoiadores de Jair Bolsonaro.
Segundo informações da defesa, ele foi conduzido pela polícia italiana até uma delegacia relativa ao cumprimento de medidas cautelares, que devem incluir restrição de locomoção na região onde reside na Itália.
Denúncias e trajetória
Como ex-chefe da Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação do TSE, Tagliaferro ganhou notoriedade por apresentar denúncias contra o ministro Alexandre de Moraes e outras autoridades envolvidas nas investigações contra bolsonaristas.
Ele foi denunciado formalmente pela PGR pelo vazamento das mensagens internas e, após o episódio, fugiu para a Itália onde reside atualmente.
Procedimento na Itália e próximos passos
A polícia italiana aplicou medidas cautelares de restrição de movimentação no país, que podem ser classificadas como proibição de deixar a região onde ele vive.
A Justiça italiana agora avalia o pedido brasileiro de extradição, que pode resultar na sua entrega ao Brasil para responder às acusações. Enquanto isso, Tagliaferro permanece em sua residência na Itália sob restrição de circulação.
Durante a detenção, a polícia italiana não apresentou mandado à defesa e conduziu Tagliaferro sem que sua esposa pudesse acompanhá-lo. A medida tomada na Itália tem sido objeto de questionamentos legais, pois, segundo a defesa, a “notificação de residência” citada pela polícia italiana não existe formalmente naquele país.
Eduardo Tagliaferro estava previsto para depor em uma comissão da Câmara dos Deputados no Brasil hoje, no mesmo dia de sua detenção, para esclarecer as denúncias que vem divulgando diretamente da Itália.
Tagliaferro, ex-assessor de Alexandre de Moraes, faz várias acusações graves contra o ministro, incluindo:
Fraude processual:
Tagliaferro acusa Moraes de adulterar documentos para justificar operações da Polícia Federal, especialmente contra empresários bolsonaristas, como revelado em audiência no Senado. Ele relatou que os relatórios para essas operações teriam sido produzidos após as ações, sugerindo manipulação dos fatos.
Uso indevido da estrutura do Tribunal Superior Eleitoral (TSE): Tagliaferro afirma que Moraes teria usado o TSE para direcionar investigações e produzir provas para processos no Supremo Tribunal Federal (STF), com a acusação de que esse trabalho teria sido feito de forma informal e para abastecer inquéritos relacionados a ataques e disseminação de notícias falsas.
Segundo ele, documentos foram elaborados para alimentar processos em andamento no STF, e o gabinete de Moraes teria solicitado monitoramento de perfis em redes sociais de investigados.
Perseguição e vigilância:
Tagliaferro denuncia uma “perseguição sistemática e cruel” empreendida por Moraes contra apoiadores de Jair Bolsonaro, incluindo a coleta de informações e a produção de relatórios que tinham como alvo figuras públicas como Carla Zambelli, Bia Kicis, Daniel Silveira e o ex-presidente Bolsonaro. Ele também revela um esquema de delatores internos no STF, com um ambiente de desconfiança e controle interno.
Obstrução de justiça e orientação para destruição de provas:
A defesa de Moraes denunciou Tagliaferro por obstrução de justiça, acusando-o de ajudar um juiz a destruir provas e orientar investigados a apagarem registros telefônicos. Tagliaferro, porém, alega que é alvo de perseguição judicial por sua atuação .
Violação da soberania internacional: Tagliaferro alega que ações do gabinete de Moraes violaram a soberania de países estrangeiros, ao instruir medidas contra investigados que moram no exterior, como nos Estados Unidos, promovendo remoção de sites e perfis em redes sociais sem respeitar as jurisdições locais.
Essas acusações feitas por Tagliaferro têm sido repetidamente apresentadas em sessões no Senado e na Câmara e têm gerado controvérsia com posicionamentos públicos de Alexandre de Moraes, que nega as irregularidades e diz que todos os procedimentos foram oficiais, regulares e documentados.

