Promotor Lincoln Gakiya diz que plano do PCC para assassiná-lo é do mesmo esquema que vitimou ex-delegado-geral Ruy Ferraz

O promotor de justiça Lincoln Gakiya revelou, em coletiva realizada nesta sexta-feira (24), detalhes impactantes sobre o plano do Primeiro Comando da Capital (PCC) para executá-lo — plano este que também mirou o ex-delegado-geral de São Paulo, Ruy Ferraz Fontes, assassinado em setembro no litoral do estado.

Segundo Gakiya, as informações de inteligência apontam que os planos para matar ambos, junto ao coordenador de presídios Roberto Medina, foram estruturados de forma semelhante, com investigações indicativas de que esses ataques estavam sendo planejados há anos, interrompidos temporariamente e retomados recentementes desde meados de 202.

Núcleo de monitoramento do PCC e levantamento de rotina

O promotor detalhou que o PCC possui uma célula específica encarregada de monitorar atentamente a rotina de autoridades consideradas inimigas, incluindo Gakiya, Roberto Medina e seus familiares.

O monitoramento inclui o levantamento dos deslocamentos diários, com registros fotográficos e mapas detalhados das rotas tomadas diariamente, seja do condomínio para o trabalho ou para a academia, entre outros locais habituais. Essa célula opera sob rígida compartimentalização, com integrantes que desempenham funções específicas sem saber a totalidade do plano, o que dificulta a detecção das ações criminosas pelas autoridades. Gakiya disse que drones sobrevoaram sua residência há cerca de três semanas, destacando a sofisticação da vigilância da facção.

“As informações de inteligência que eu tenho é que são o mesmo plano: havia um plano para matar o Ruy Ferraz Fontes, havia um plano para matar o doutor Gakiya, que sou eu, e o Roberto Medina. Esse plano já tem há anos, ele estava parado e voltou a correr. Tanto que o levantamento de rotina do doutor Ruy começou de junho para julho, na mesma época também que o meu e o do Medina”, disse durante a coletiva.

Na manhã de hoje, dia da coletiva, o Ministério Público de São Paulo (MPSP), em conjunto com a Polícia Civil, deflagrou a Operação Recon, cumprindo 25 mandados de busca e apreensão em cidades do interior paulista como Presidente Prudente, Álvares Machado, Martinópolis e outras.

A operação teve como objetivo desarticular a célula do PCC responsável pelo plano e as ações preparatórias para o atentado contra as autoridades.

Diversos suspeitos foram identificados e encaminhados para investigação, com muitos já detidos e sob custódia, tendo sido apreendidos equipamentos e materiais que serão analisados para aprofundar as apurações.

Lincoln Gakiya afirmou ter alertado pessoalmente o ex-delegado-geral Ruy Ferraz Fontes sobre as ameaças contra a sua vida pelo menos três vezes antes do assassinato ocorrido em 15 de setembro deste ano. Fontes estava ciente do plano de execução desde 2006, quando foi o idealizador do projeto que concentrou as lideranças do PCC em penitenciárias de segurança máxima, estratégia considerada uma afronta pelo crime organizado.

Ruy Ferraz foi assassinado em um ataque coordenado, e o promotor lamentou não ter a mesma sorte diante do perigo crescente. Gakiya reforçou que as ameaças contra ele são reais e que a sua proteção policial foi reforçada, dado o risco iminente de o plano ser executado.

Com mais de 20 anos dedicado ao combate ao PCC, Lincoln Gakiya se tornou um dos maiores especialistas na estrutura e funcionamento da maior facção criminosa do país. Ele detalha que o PCC não apenas domina o tráfico de drogas, mas exerce também controle financeiro e político dentro dos presídios e em comunidades, expandindo sua influência para áreas diversas da economia criminal.

A existência de uma célula com alta disciplina e compartimentalização para vigilância e assassinato de autoridades é mais um exemplo da estrutura sofisticada do PCC para intimidar o sistema de justiça e manter seu poder.


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