Terror do Comando Vermelho deixou 684 mortos em disputa com milícias só em Jacarepaguá em 2 anos

Uma denúncia do Ministério Público do Rio de Janeiro anexada ao processo da operação “Contenção” aponta que a expansão do Comando Vermelho (CV) pela Grande Jacarepaguá resultou em 684 homicídios entre 2023 e 2024, uma média de aproximadamente um assassinato por dia no período, segundo o documento que embasa as investigações e as ações policiais recentes.

O mesmo processo descreve como a facção avançou sobre comunidades antes dominadas por milícias nas áreas da Barra da Tijuca, Recreio dos Bandeirantes, Itanhangá e Vargens, consolidando o que o Ministério Público chama de “Complexo de Jacarepaguá” e intensificando confrontos armados que teriam elevado dramaticamente o número de homicídios locais.

A ofensiva policial desencadeada na terça-feira, 28 de outubro, e batizada de operação Contenção mobilizou cerca de 2.500 agentes, cumpriu 180 mandados de busca e apreensão, prendeu 113 suspeitos e resultou na morte de 121 pessoas — número que acirrou ainda mais o debate público sobre a violência e as estratégias de combate ao crime organizado no estado. A megaoperação foi no Morro do Alemão e na Penha, áreas diferentes dessa citada pelo MP com números de mortos o que mostra atuação forte do terror implicado pela facção em diversas áreas do município.

A guerra entre traficantes e milicianos e os confrontos dos criminosos com policiais militares que se arrastam há anos nos bairros da Grande Jacarepaguá vêm deixando moradores e comerciantes acuados. Em busca de segurança, muitos têm mudado suas rotinas e até de endereço. Mais de meio milhão de pessoas são afetadas por essas disputas — dentro e fora das comunidades. O número de homicídios registrados nas áreas das três delegacias da dá a dimensão do problema.

A repercussão internacional da megaoperação contra o CV nesta semana foi imediata: autoridades argentinas, representadas pela ministra da Segurança, Patricia Bullrich, passaram a tratar o Comando Vermelho e o Primeiro Comando da Capital (PCC) como organizações narcoterroristas, anunciando medidas de reforço na fiscalização das fronteiras e a manutenção de presos ligados a essas facções em regime de isolamento para impedir sua ação sobre o sistema prisional.

O Paraguai seguiu caminho semelhante ao assinar decreto que qualifica CV e PCC como organizações terroristas internacionais, medida que mostra a crescente articulação de países vizinhos diante da transnacionalização das facções brasileiras e do risco percebido por governantes regionais.

A declaração de países vizinhos contrasta com a posição do governo brasileiro, que em maio rejeitou pedido de autoridades dos Estados Unidos para classificar as facções como organizações terroristas, mantendo a definição de que, segundo a legislação nacional, terrorismo envolve motivações políticas, religiosas ou étnicas distintas do crime organizado tradicional. Esse desalinhamento evidencia tensões diplomáticas sobre como rotular e enfrentar grupos cuja atuação ultrapassa fronteiras e mistura tráfico, corrupção e violência armada.

A conjunção entre o levantamento do Ministério Público, que atribui centenas de homicídios à expansão do CV em Jacarepaguá, e o reconhecimento de governos vizinhos sobre o caráter terrorista das facções abre novo capítulo na discussão sobre estratégias integradas de segurança pública, cooperação internacional e respostas judiciais. Analistas e autoridades divergem sobre se medidas de caráter militarizado, rotulações internacionais e sanções são eficazes para reduzir mortes ou se reforçam ciclos de violência que penalizam moradores das áreas mais afetadas.

Familiares das vítimas, lideranças comunitárias e especialistas em segurança ouvidos por órgãos de imprensa têm cobrado investigações transparentes sobre as circunstâncias dos homicídios, medidas de proteção aos civis nas zonas de conflito e políticas públicas voltadas à redução da presença de armas e ao desmantelamento das redes financeiras que sustentam a expansão das facções — demandas que ganham eco agora também em fóruns e acordos de cooperação entre países vizinhos.


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